Desequilíbrio nos Correios abre crise, e empréstimo pode não resolver
Publicado em 20/10/2025
Queda contínua nas receitas, aumento de custos e perda de eficiência são a combinação explosiva que ajudam a explicar por que os Correios precisam de R$ 20 bilhões para fechar as contas na maior crise da sua história. Sob nova direção, com a chegada à presidência do servidor do Banco do Brasil Emmanoel Rondon, a estatal busca um cardápio de medidas e um empréstimo com garantia da União para tentar um respiro.
Mas as saídas devem ter pouco impacto para a sustentabilidade de longo prazo, na visão de especialistas, e tendem apenas a adiar um socorro do Tesouro Nacional. Mesmo uma privatização neste momento, que está fora do radar do governo, provavelmente seria difícil e teria que ser feita a um preço muito baixo devido ao tamanho do passivo da empresa.
Uma análise do balanço dos Correios revela que a receita líquida da empresa caiu 11,3% desde 2021, último ano em que deu lucro, impulsionado pelo boom das compras on-line na pandemia de Covid-19. Nos primeiros dois anos do terceiro mandato de Lula, a queda é de 4,6%. Mesmo assim, no acumulado de 2023 e 2024, o custo do serviço prestado cresceu 16,5%, um sinal de perda de eficiência, disse o analista em finanças Daniel Pecanka.
— Uma empresa que está com queda consistente de receita precisa ajustar os custos e despesas.
Mas a estatal caminhou na direção contrária. No geral, as despesas administrativas, comerciais e de pessoal tiveram um aumento de 21% entre 2022 e 2024. Só com pessoal, a alta foi de 43,1% no mesmo período. Outro gasto que disparou foram com precatórios (dívidas de decisões judiciais), que passou de de R$ 485 milhões para R$ 1,132 bilhão.
Busca de empréstimo
No primeiro semestre deste ano, as contas ficaram no vermelho em R$ 4,3 bilhões, contra perda de R$ 1,3 bilhão um ano antes. Na receita, o impacto da “taxação das blusinhas”, imposto sobre encomendas estrangeiras abaixo de US$ 50, em agosto do ano passado, reduziu os ganhos internacionais e derrubou a receita total da estatal em quase 12% no primeiro semestre deste ano. A receita caiu porque outras empresas entraram nessa logística.
Já o gasto com funcionários aumentou em mais 4,6% no período, assim como as despesas operacionais, com alta de 51,6%. Para cobrir a necessidade de caixa, a empresa resgatou todas as aplicações e, no fim de 2024, passou a depender de empréstimos bancários: foram R$ 550 milhões em dezembro e R$ 1,8 bilhão em meados de 2025. Os dirigentes buscam agora empréstimo de R$ 20 bilhões. Segundo técnicos, o crédito precisa sair até a primeira quinzena de novembro, diante de dívidas a vencer, sobretudo com os bancos.
Como o risco aumentou e o crédito ficou mais difícil, o Tesouro precisaria entrar como avalista na operação em uma solução que está sendo costurada com um grupo de bancos, envolvendo instituições públicas e privadas. Em tese, porém, a garantia da União depende de um parecer prévio da área técnica sobre a solvência da empresa.Em nota, os Correios disseram que a operação está sendo desenhada para permitir a execução integral do plano de reestruturação, que prevê equilíbrio financeiro a partir de 2027. “O objetivo é que, após esse período, a empresa volte a operar de forma autossustentável, sem necessidade de aportes”, destacou.
A busca por empréstimo é uma alternativa para evitar um aporte do Tesouro, algo temido pela equipe econômica não só pelo gasto imediato, mas porque se caracterizaria uma situação de dependência da empresa — o que obrigaria o governo a colocar as despesas da estatal dentro do apertado orçamento federal.
Seria preciso encontrar espaço para R$ 20 bilhões dentro do teto de gastos e novas receitas para não prejudicar a meta: duas coisas que estão em falta no ano que vem.
Especialistas sustentam que a empresa não tem capacidade de gerar recursos para pagar o empréstimo e o novo plano de reestruturação não apontou um caminho viável para obtê-los. O serviço de entrega é considerado ineficiente e enfrenta dificuldades diante da concorrência com companhias privadas. Já o serviço postal, no qual tem monopólio, é estruturalmente deficitário.
O novo plano de reestruturação foi anunciado na semana passada, com redução de despesas operacionais e administrativas; diversificação das fontes de receita; e restauração da liquidez. Além disso, haverá novo Programa de Demissão Voluntária (PDV). No PDV que terminou em julho, foram cerca de 3,7 mil adesões, abaixo da expectativa da empresa, que ultrapassava 5 mil. Até junho, eram 80,3 mil funcionários na empresa. A iniciativa deve render alívio de cerca de R$ 700 milhões no caixa em 2026.
O índice de preços ao consumidor (CPI) de setembro, originalmente previsto para 15 de outubro, será divulgado na sexta-feira
A economista Elena Landau afirma que o plano repete muitas iniciativas anteriores, que não conseguiram conter a rápida deterioração dos resultados da estatal.
— Quanto se espera arrecadar com a venda de imóveis? Com o PDV? E quanto vai custar? Se os funcionários não aderirem, terá demissão? Falta notícia de redução de custo. Qual é o produto que vão desenvolver? O empréstimo é impagável, é mais dívida financeira — questiona Landau, que teve papel fundamental nas privatizações da década de 1990.
Na sua avaliação, o mais adequado seria reduzir radicalmente as atividades dos Correios e realizar um aporte do Tesouro, colocando no Orçamento de forma transparente o custo com a empresa. Neste momento, a economista considera que uma privatização não teria atratividade, devido ao rombo bilionário.
Modelo de parceriaOs Correios afirmam que o empréstimo é uma operação de crédito estruturada, com retorno previsto e contrapartidas claras. Além disso, dizem que o plano de reestruturação contempla o desenvolvimento de novas linhas de receita ligadas à modernização tecnológica e à ampliação da presença digital. “A empresa está avaliando diferentes modelos de parceria e soluções voltadas à logística sustentável, ao e-commerce e a serviços de valor agregado, de acordo com a vocação nacional da empresa”.
A estatal foi incluída no Plano de Desestatização em 2021 e retirada em 2023. Um estudo do BNDES recomendou a venda integral. De 11 países pesquisados, apenas Estados Unidos, Canadá e Austrália mantêm o monopólio do serviço postal . No Japão, há monopólio, com uma participação privada.
Marcos Mendes, economista e pesquisador do Insper, defende que a solução mais racional seria arrumar as contas da estatal para vendê-la, mas acredita que seria possível leiloá-la a preço baixo, para que o comprador pudesse fazer os ajustes. O repasse à iniciativa privada incluiria a regulação do segmento, com a obrigatoriedade de a empresa compradora manter a universalização da entrega de cartas. Para ele, o governo sinaliza com a discussão do empréstimo para evitar uma piora nos indicadores fiscais:
— Não querem prejudicar os indicadores fiscais, mas a realidade já é essa. Não tomar uma atitude é esconder a realidade.
Fonte: InfoMoney - 20/10/2025
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