Pix parcelado e novas formas de crédito: até onde o consumidor aguenta o endividamento?
Publicado em 15/10/2025 , por Stella Piovan
Especialistas alertam que avanço de novas modalidades de pagamento amplia o acesso ao crédito, mas também exige mais educação financeira
As inovações no setor financeiro estão transformando o cotidiano de consumidores e empreendedores brasileiros. O Pix parcelado, as carteiras digitais e o crédito rápido prometem mais agilidade e inclusão, mas também levantam uma preocupação crescente: até que ponto o consumidor consegue absorver tantas formas de crédito sem se endividar?
Segundo o Banco Central, o Pix já é o principal meio de pagamento do país, com mais de 175 milhões de chaves cadastradas e 93% da população adulta utilizando a ferramenta. Em junho de 2025, o sistema bateu um recorde histórico: 276,7 milhões de transações em um único dia.
Com o Pix parcelado oficialmente lançado em setembro, o uso tende a crescer ainda mais — e, junto com ele, o risco de um novo ciclo de endividamento.
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O que muda com o Pix parcelado
Na prática, o Pix parcelado funciona como uma mistura de Pix e crédito. O consumidor realiza o pagamento imediato ao vendedor, mas o valor é debitado em parcelas mensais, como ocorre no cartão de crédito.
Segundo Laís D’Albuquerque, advogada especialista em Direito do Consumidor e líder do time de Contencioso Cível e Consumidor do escritório Martorelli Advogados, a modalidade oferece conveniência, mas exige cautela:
“A experiência do Pix parcelado é prática e intuitiva: com um clique, o cliente contrata o crédito vinculado à transação e quita as parcelas diretamente no app do banco. Mas é importante lembrar que isso é um crédito, e não um Pix comum.”
Para o lojista, o modelo é vantajoso porque o valor cai à vista, sem os descontos e taxas aplicadas nas vendas com cartão. Mas, para o consumidor, o desafio é administrar mais uma linha de crédito no orçamento.
O novo perfil do endividado
A facilidade de parcelar via Pix tende a atrair jovens e consumidores de menor renda, explica D’Albuquerque. São pessoas que muitas vezes não têm cartão de crédito ou possuem limite reduzido, e enxergam na nova modalidade uma forma de aumentar o poder de compra rapidamente.
“O risco é o consumo por impulso. Como é muito fácil contratar, basta um clique para gerar uma nova dívida. O ideal é reservar 24 horas de reflexão antes de fazer compras não essenciais”, orienta a especialista.
De acordo com o Banco Central e a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), mais de 70% das famílias brasileiras estão endividadas — cenário que pode se agravar com o uso indiscriminado do Pix parcelado.
Inclusão financeira e o outro lado da moeda
Os defensores da medida destacam o potencial de inclusão financeira. Para Alexandre Magnani, CEO do PagBank, o Pix parcelado “atende a uma demanda cada vez mais clara do consumidor: flexibilidade, comodidade e praticidade”.
“Para o microempreendedor, isso significa menos barreiras na hora de fechar a venda e mais oportunidades de ampliar o público atendido”, afirma Magnani.
Levantamento da Matera Insights mostra que 30% dos brasileiros já haviam contratado versões de Pix parcelado em plataformas digitais nos meses que antecederam a regulamentação oficial.
Agora, com as regras do Banco Central em vigor, as operações passam a ter padronização de taxas, prazos e informações obrigatórias, incluindo a exibição do Custo Efetivo Total (CET) — uma medida vista por especialistas como avanço importante na transparência e proteção ao consumidor.
Educação financeira: o antídoto para o crédito fácil
Apesar das vantagens de inclusão e praticidade, D’Albuquerque alerta que o Pix parcelado pode se tornar uma nova porta para o superendividamento se usado sem controle.
“A orientação prudencial é manter o total das parcelas bem abaixo da renda e evitar múltiplos parcelamentos com vencimentos diferentes. Crédito é ferramenta, não renda extra”, reforça.
A corrida pela conveniência
Além do Pix, o mercado também se movimenta com as carteiras digitais, como Google Pay, Apple Pay e Samsung Pay. O uso do celular para pagar contas e compras com cartão cadastrado está se tornando padrão.
Magnani, do PagBank, observa que a tecnologia reduz desistências e melhora a experiência de compra:
“Quando o cliente paga com o celular, ele compra com mais agilidade e segurança. Isso reduz desistências e aumenta as chances de conversão.”
As fintechs e bancos veem nas novas modalidades um duplo benefício: inclusão financeira e coleta de dados de consumo, que permitem ofertas cada vez mais personalizadas.
Até onde o consumidor aguenta?
A pergunta central segue sem resposta definitiva. O crédito digital democratiza o acesso e fortalece pequenos negócios, mas também aumenta a pressão sobre o bolso do consumidor brasileiro — já sobrecarregado com parcelas de cartão, crediário e empréstimos pessoais.
A advogada Laís D’Albuquerque resume:
“O Pix parcelado é um avanço em termos de inclusão, mas exige responsabilidade. Sem educação financeira, o que hoje é conveniência pode virar endividamento amanhã.”
Fonte: Terra - 15/10/2025
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