Consumo das famílias tem queda recorde de 5,5% em 2020, e investimento recua 0,8%
Publicado em 04/03/2021 , por Eduardo Cucolo e Fábio Pupo
Auxílio emergencial e programas de crédito evitaram recuo ainda maior
Base da recuperação econômica após a recessão iniciada em 2014, o consumo das famílias brasileiras caiu 5,5% em 2020 em relação a 2019, segundo dado divulgado nesta quarta-feira (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O consumo das famílias é o principal componente do PIB (Produto Interno Bruto), sob a ótica da demanda, respondendo por mais de 60% do cálculo do indicador, e vinha sustentando a lenta retomada da economia nos últimos anos, enquanto investimentos e mercado externo oscilavam.
O número representa a maior queda registrada na série histórica, iniciada em 1996. O pior resultado anterior da série foi em 2016 (-3,8%).
Uma queda ainda maior do consumo das famílias foi evitada pelos programas de apoio financeiro do governo e pelo crescimento do crédito voltado às pessoas físicas.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, afirmou que a redução do auxílio emergencial e o aumento da inflação impactaram negativamente o consumo das famílias no último trimestre. No ano, a participação do consumo caiu de 64,8% para 62,7% do PIB.
Segundo a pesquisadora, a queda está relacionada às medidas de distanciamento social, seus efeitos negativos sobre o mercado de trabalho e sobre os serviços prestados às famílias. Por outro lado, contribuíram os programas de apoio do governo a empresas e famílias e o crescimento do crédito com para as famílias.
Os números do PIB mostram também que os investimentos públicos e privados (a chamada Formação Bruta de Capital Fixo) na economia brasileira recuaram 0,8% em 2020. O pior resultado anterior foi em 2015 (-13,9%).
A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE afirmou que o dado do investimento foi elevado por conta da importação de plataformas no quarto trimestre, antes do fim do Repetro, regime aduaneiro especial para empresas do setor de óleo e gás.
O FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) estima que o investimento teria uma queda de 8% sem o efeito das plataformas. O IBGE não faz estimativas sobre esse impacto. Apesar da inflar os investimentos, como o dado também é contabilizado como consumo (por ser importação), o efeito no PIB é nulo.
O IBGE destaca que o investimento também foi influenciado pelo aumento no número de construções imobiliárias e equipamentos para extração mineral. Além disso, no último trimestre, a produção nacional de bens de capital aumentou.
O consumo do governo caiu 4,7% no ano, segundo o IBGE. O resultado desse componente é influenciado por fatores como números de matrículas nas escolas públicas, internações no SUS (Sistema Único de Saúde) e gastos com salários do funcionalismo. No segundo semestre, os dois primeiros fatores puxaram o número para baixo.
Outros dois componentes da demanda são as exportações e as importações. As importações caíram 10%, e as vendas de bens e serviços para o exterior recuaram 1,8%.
Palis também citou uma mudança de padrão em relação a 2017-2019, quando a demanda interna contribuiu para o crescimento do PIB, mas a externa teve efeito negativo. Em 2020, assim como na recessão de 2015 e 2016, ocorreu o contrário: a demanda interna caiu 5,2% (-3,5 pontos percentuais apenas de consumo das famílias), enquanto a externa cresceu 1,25%, principalmente por causa da queda nas importações no ano.
Fonte: Folha Online - 03/03/2021
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