Brasileiro tem baixo conhecimento de finanças e não está preparado para imprevistos
Publicado em 27/11/2023
Pesquisa sobre letramento financeiro realizada pelo Banco Central demonstra baixa resistência a choques financeiros e dificuldade de lidar com números, com diferenças importantes entre grupos sociodemográficos
“No total, 45,6% não conseguiram constatar que, com uma inflação hipotética de 5% ao ano, um valor de R$ 1.000 daria para comprar menos coisas no final do ano do que comprava no início do ano. Percebemos ainda que essa dificuldade foi maior em respondentes menores de 44 anos. Provavelmente, são brasileiros com menor memória inflacionária, ou seja, que se lembram menos do tempo de altíssima inflação no Brasil. Então, em termos de educação financeira, podemos inferir que a explicação prática do efeito da inflação sobre o poder de compra é algo que precisa ser mais trabalhado na população mais jovem”, considera Ronaldo Silva. Ele supõe que muitos brasileiros enfrentam dificuldades com matemática e com cálculos e esse tipo de dificuldade pode afetar a vida financeira de alguém.
Daniel Lima complementa que a questão etária também influência nesse entendimento dos conceitos, principalmente a inflação. “Os mais velhos lembram de taxas de inflação muito altas. As novas gerações não experimentaram esse nível tão elevado. Porém, nos últimos três anos, a inflação voltou a subir e as pessoas começaram a sentir esse efeito de novo. Tem uma questão conjuntural de que, quando a inflação está baixa, as pessoas não sentem tanto a diferença. Mas, quando ela começa a aumentar, essa consciência do efeito volta a atuar”, considera.
- A média foi de 53 em uma escala de 0 a 100;
- Pix (91,6%), cartão de crédito (91,6%), conta corrente ou conta salário (90,6%) são os produtos e serviços mais conhecidos pela população;
- Apenas 14,3% conseguiram fazer um cálculo de juros simples;
- 46,6% acertaram a questão sobre implicações de composição nos juros
- 85% conhecem inflação como o aumento generalizado do custo de vida;
- 54% responderam corretamente à questão sobre a influência da inflação sobre o poder de compra;
- 61,3% possuíam ao menos um produto de crédito — financiamento imobiliário, empréstimo com e sem garantia, financiamento para a aquisição de veículo, cartão de crédito, microcrédito, carnê de loja, cheque especial, consórcio e crédito consignado.
Bem-estar financeiro do brasileiro
O bem-estar financeiro é a capacidade de uma pessoa de cumprir com suas necessidades financeiras, lidar com choques financeiros e, ao mesmo tempo, ser capaz de se planejar e de conquistar sonhos. “Quem não tem resiliência financeira provavelmente também não tem um elevado bem-estar financeiro. A falta de resiliência afeta diretamente a capacidade dos indivíduos de lidar com choques financeiros. Por exemplo, ficar desempregado, ou ter um problema de saúde agudo que impeça de trabalhar e aumente rapidamente as despesas médicas. Por isso, é muito importante construir uma reserva de emergência, ou seja, guardar uma quantia de dinheiro que seja suficiente para, minimamente, pagar as contas do dia a dia durante alguns meses. Quem não tem essa reserva e passa por um choque financeiro acaba, muitas vezes, atrasando pagamentos, pagando multas, ou tendo que recorrer a empréstimos”, explica o chefe-adjunto do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central.
- Para medir o bem-estar financeiro do brasileiro, a pesquisa utilizou a escala da Agência de Proteção Financeira ao Consumidor do governo americano (CFPB, na sigla em inglês).
- A média brasileira ficou em 45,7, na escala de 0 a 100.
- 44,8% afirmam que nunca ou raramente sobra dinheiro no final do mês.
- 48,6% estão apenas se virando financeiramente.
- 36% estão preocupados se o dinheiro não vai durar.
- 32,7% conseguiria cobrir uma despesa inesperada equivalente à própria renda mensal sem fazer empréstimos ou pedir ajuda para amigos.
O diretor-executivo do FGC compartilha a expectativa de que os dados sobre resiliência financeira dos brasileiros gere uma motivação para que as pessoas entendam mais sobre o tema. “É algo que já foi muito mais difícil de se ter informações a respeito. Com a internet e com influenciadores que transmitem os conhecimentos de forma didática e correta, temos uma popularização e aumento do acesso ao conhecimento financeiro. Falta um pouco as pessoas se interessarem mais sobre o assunto”, pondera. A pesquisa demonstra que o letramento financeiro da população brasileira ainda tem espaço para melhoria, principalmente entre mulheres, idosos e população de baixa renda. Indicadores como a baixa resistência a choques financeiros, baixa tendência a investir e o baixo nível de conhecimento financeiro indicam a necessidade de trabalhar diferentes aspectos da educação financeira, com o objetivo de apoiar a melhoria do bem-estar financeiro da população.
Fonte: Jovem Pan - 25/11/2023
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