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Como o rotativo do cartão de crédito virou uma máquina de produzir superendividados no Brasil
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Como o rotativo do cartão de crédito virou uma máquina de produzir superendividados no Brasil

Publicado em 24/08/2023

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Presidente do Banco Central afirmou que a instituição avalia alternativas para reduzir a inadimplência nas operações com cartão de crédito rotativo – que ocorre quando o cliente não paga o valor total da fatura e joga a dívida para o mês seguinte.

"Esse modelo é uma máquina de produzir superendividados". A avalição é do economista Lauro Gonzalez, professor e coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV-SP, em entrevista ao podcast O Assunto desta quarta-feira (23) para falar sobre o rotativo do cartão de crédito.

"O problema é antigo e a razão principal da taxa de juros do rotativo ser tão elevada, [fazendo] os juros serem escorchantes, é o fato de que a taxa de inadimplência deste produto chamado rotativo é extremamente elevada." 

No início de agosto, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou que a instituição avalia alternativas para reduzir a inadimplência nas operações com cartão de crédito rotativo – que ocorre quando o cliente não paga o valor total da fatura e joga a dívida para o mês seguinte. 

Segundo dados do próprio BC, a inadimplência do crédito atinge cerca de 50% das operações – um índice sem precedentes em outros países. Campos Neto disse que uma alternativa seria extinguir o rotativo do cartão.

"Me surpreende é ter demorado tanto tempo para o Banco Central e os demais atores vocalizarem assim com tanto vigor o fato de que um produto que tem taxas de juros de 15% ao mês, que pode chegar a 1000% ao ano em algumas instituições, e com uma taxa de inadimplência de 50%, é um produto completamente insustentável."

 

Para explicar por que o modelo precisa mudar, Gonzalez compara com a crise de 2008 nos Estados Unidos. Em 15 de setembro de 2008, o Lehman Brothers entrou com pedido de recuperação judicial e teve sua falência decretada. Com uma dívida de US$ 613 bilhões, o banco, fundado em 1847, empregava cerca de 25 mil pessoas no mundo todo.

"Nós já temos mais de 70, quase 75 milhões de negativados, e se esse número continuar aumentando, vai haver uma crise de crédito, e o crédito pode ficar, um certo pedaço do mercado de crédito, pode ficar completamente travado como ficou, nos Estados Unidos, lá na crise de subprime, o mercado de crédito imobiliário."

"Esse é o cenário que nós temos hoje: o encanamento do mercado de crédito não tá funcionando bem, tá cheio, a água tá correndo de maneira muito menos eficiente do que poderia correr. Corre o risco de ter um entupimento completo se nada for feito e o número de de superendividados e de negativados continuar aumentando indiscriminadamente."

Gonzalez também avalia que o modelo de uso do cartão de crédito — mais como uma contratação de crédito imediato do que forma de pagamento — é um problema que cresceu devido à combinação de três fatores:

  • macroeconomia indo mal;
  • decisões individuais;
  • modelos das empresas para fornecer crédito. 

"Fatores macroeconômicos. Por exemplo: a renda, o emprego, o crescimento, a taxa de juros... A segunda caixinha nós vamos chamar de fatores individuais: são as pessoas, é a renda, é o salário, é o nível de educação, tanto formal quanto a própria educação financeira, são as questões psicológicas, o impulso ao consumo que muitos têm."

"E finalmente tem um terceiro grupo de fatores, que são os modelos que as empresas usam para oferecer crédito, que podem ser modelos predatórios, pode haver um marketing muito agressivo, estratégias de marketing que levam as pessoas a ter vários cartões ao mesmo tempo."

Fonte: G1 - 23/08/2023

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