Compulsão por compras: 'Parece uma forma de compensação', diz empresária que admite consumo além do necessário por prazer
Publicado em 23/03/2023 , por Manuella Mariani
Comportamento pode ser definido como perturbação psiquiátrica crônica. Além disso, compras desnecessárias podem levar ao acúmulo de dívidas, alertam especialistas.
Comprar é uma atividade rotineira. Os especialistas lembram, contudo, que existe um sinal de alerta quando o consumo leva ao endividamento, estresse financeiro e até mesmo a problemas psicológicos, como ansiedade e depressão.
De acordo com a pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2022, cerca de 8% da população mundial sofria de oniomania, conhecido como "Compras Compulsivas" que, segundo a ciência, é uma perturbação psiquiátrica crônica.
Ao trazer esse comportamento para o orçamento familiar, podem aparecer o endividamento e a inadimplência.
O número de pessoas que não conseguiram pagar as dívidas aumentou nos últimos 12 meses, de acordo com dados extraídos do SPC Brasil em parceria com a Federação da Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná (Faciap).
Segundo dados, em fevereiro, com projeção da população do ano de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Paraná, cerca de 38,2% da população adulta estava inadimplente.
Conforme a pesquisa, a maior parte das dívidas atrasadas são com os bancos, com 55,04%. Depois, aparecem comércio, com 15,68%, e comunicação, com 10,62%.
O hábito do consumo exagerado
A empresária Fernanda Mendes, 44 anos, mora em Curitiba e se considera consumista. Ela relatou que teve uma infância humilde e com privações. Diz que o sonho dela era ter lindos e novos sapatos.
Na fase adulta, a empresária disse que, antes de ter condições de financeiras para realizar as compras, tinha mais controle dos gastos.
"Quanto eu não tinha condições, eu era muito pé no chão. Eu me recordo uma vez, há 25 anos, que um cliente me levou um sapato porque o meu era furado na frente", disse.
Fernanda falou que fica feliz ao comprar roupas e calçados. Depois, segundo ela, às vezes, essa alegria se transforma em culpa, por sentir que não deveria levar tantos produtos para casa.
"Parece que é uma forma de compensação. Tudo que eu não tive, hoje eu tenho condições de ter e acabo me empolgando".
Sensação de prazer
A psicóloga Genoveva Ribas Claro explicou que esse comportamento é uma característica onde a pessoa é tomada pelo desejo de realizar uma ação que gera prazer.
"Muitas vezes descobrem que o fato de irem às lojas para fazer compras melhora seu ânimo e desenvolvem a compulsão, nem tanto pelo prazer de possuir um objeto em si, mas porque são paparicadas pelo vendedor dentro de uma loja bonita e num ambiente agradável", disse.
Segundo a psicóloga, muitas pessoas se arrependem da compra logo após sair da loja.
Apesar disso, a empresária Fernanda afirmou que não sente culpa de comprar, apenas se não usa o produto com mais frequência.
"Às vezes eu fico até com vergonha de subir com todas aquelas sacolas, tem gente que acha que sou maluca. Tem dias que eu saio e tudo que eu olho eu compro e tenho alegria de pensar que eu posso, então vou levar", relata.
Tratamento para compulsão
De acordo com a psicóloga, o ato compulsivo pode também estar relacionado com a necessidade de preencher alguma falta que gera uma alegria momentânea, sensação de alívio de ansiedade, mas também desconforto e sofrimento psicológico após ter consumado o desejo.
Segundo ela, o tratamento para a compulsão por compras é feito através de uma equipe multidisciplinar: psiquiatra e psicólogo.
O psiquiatra acompanha o caso e, se necessário, indica uma medicação adequada ao paciente de forma a reduzir os sintomas de ansiedade, de acordo com cada paciente.
"A psicoterapia consegue reduzir os sintomas e, muitas vezes, eliminá-los completamente", diz Genoveva.
Consumo X consumismo
Rosimara Mendes Pedro Braga é contadora e consultora financeira pessoal e explica que é importante diferenciar consumo e consumismo. Segundo ela, o consumo é uma ação voltada para a sobrevivência, como alimentação.
A consultora orienta que é necessário ficar atento com o excesso, pois também impacta na vida financeira.
Para prevenir, Rosimara ressalta que é importante ter o olhar atento ao alto consumo no dia a dia, observando as compras no mercado, as comidas que sobram em casa e o valor que ultrapassa o limite programado.
Ela sugere que o consumidor faça uso de listas com os produtos indispensáveis no mês.
"Será que realmente preciso disso? Aquelas compras que a gente fala 'preciso daquilo', 'vou ter que levar, porque está muito bom', são coisas do nosso dia a dia que a gente pode pensar se está consumindo mais do que o necessário", explicou.
Fernanda afirmou que ainda não teve problemas financeiros e que, apesar de comprar exageradamente, não se apega às mercadorias.
"Eu já tenho uma clientela que quando olha a roupa no meu corpo, já imagina que logo eu vou vender. As meninas que trabalham comigo logo já encomendam a roupa no meu corpo. Uso 2 ou 3 vezes e logo vendo. É uma forma de eu estar sempre reciclando", contou.
Planejamento financeiro
Consultora financeira pessoal dá dicas de como controlar compras em excesso
Rosimara explicou que dentro do planejamento financeiro, uma parte do salário deve ser destinada para as despesas essenciais como alimentação, aluguel, luz e outras contas básicas do dia a dia.
Outro valor do salário deve ser reservado para o lazer e outra para investimento futuro, como aposentadoria ou realizações de metas, como pagar uma faculdade, por exemplo.
"Precisamos criar uma reserva de emergência para os imprevistos que podem acontecer no dia a dia, por exemplo, quando o pneu do carro fura ou uma despesa com saúde, com remédio”, falou.
Segundo a consultora, o consumidor pode utilizar aplicativos de celulares, planilhas ou caderno para anotar os gastos mensais que auxiliam no processo de controle financeiro.
O consumidor pode também realizar pesquisas de valores do produto antes de realizar a compra.
"O mercado mostra muitos produtos que enchem os nossos olhos e quando a gente compra, traz aquela sensação gostosa. Mas a sensação do descontrole, do endividamento não é uma sensação boa, então, por isso que a gente tem que ficar atenta a essas tentações e tentar resistir o máximo possível através de um controle", falou.
Fonte: G1 - 22/03/2023
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