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Caso Scarpa: saiba identificar golpes financeiros e investimentos fraudulentos
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Caso Scarpa: saiba identificar golpes financeiros e investimentos fraudulentos

Publicado em 21/03/2023 , por André Catto e Thais Matos

Especialista ouvidos pelo g1 dão dicas para proteger seu dinheiro.

prejuízo de R$ 6,3 milhões de Gustavo Scarpa, ex-jogador do Palmeiras, acendeu um alerta sobre golpes financeiros envolvendo promessas de retornos inatingíveis. Apesar da forte atuação de estelionatários, existem mecanismos que podem ajudar a identificar e fugir dessas armadilhas.

O atleta, que atualmente joga pelo Nottingham Forest FC, da Inglaterra, ainda tenta resgatar o valor milionário que teria investido em criptomoedas, por meio de uma empresa indicada por Willian Bigode, ex-colega de Scarpa no Palmeiras. Bigode também diz ter perdido R$ 17 milhões em operações.

 

Especialistas ouvidos pelo g1 e pelo podcast Educação Financeira explicam as características mais comuns dos golpes e as maneiras mais eficientes para fugir dessas armadilhas e proteger seu dinheiro.

Dá para atingir 5% investindo?

No caso de Scarpa, o primeiro sinal de que algo estaria errado é o lucro prometido: 5% ao mês, o equivalente a quase 80% ao ano — quase seis vezes mais do que a taxa Selic, que é referência para os juros no país.

É o que afirma Rodrigo Sgavioli, responsável pela área de alocação e fundos da XP Investimentos. Para o especialista, qualquer rendimento acima de 1% ou 1,1% ao mês — usando a taxa básica de juros como referência — exige algum risco adicional.

 "E, nesse caso, geralmente você abre mão do seu conforto em relação aos retornos. Dificilmente no investimento que te paga 2% a 3% no mês — ou os 5% da promessa do Scarpa — vai garantir que todo mês seja esse valor. Haverá, inclusive, meses em que o retorno será negativo", explica.

Mas é possível alcançar o retorno de 5% ao mês em alguma aplicação tradicional? 

Sgavioli pondera que os 5% podem, eventualmente, ser atingidos caso você tenha uma carteira de investimentos bastante arrojada – ou seja, que tolera maior volatilidade em busca de retornos maiores. Mas nunca será algo garantido mês a mês, e será preciso enfrentar riscos.

"Quando falamos em ações, dependendo, algumas podem te entregar, sim, um retorno de 5% ao mês ou de 80% ao ano. Mas vale lembrar que há volatilidade, ou seja, oscilação do preço da ação no meio do caminho", diz.  

Como saber que é um golpe?

A promessa de rentabilidade alta, garantida e sem risco é sinal claro de que você pode estar lidando com um golpista. A educadora financeira Carol Stange reforça que, nesses casos, não há segredo: em finanças, risco e retorno andam de mãos dadas.

"Ligue o sinal de alerta para qualquer promessa de retornos elevados e garantidos, riscos baixos ou inexistentes e, ainda, em um curto espaço de tempo", diz. 

Nesse contexto, é comum que fraudadores vendam uma imagem de investidores milionários, bem-sucedidos e com supostos métodos de sucesso financeiro comprovados. A dica aqui é não se deixar levar pelas aparências. Percebeu muita ostentação, fotos de viagens e carros de luxo? Desconfie.

Um caso recente resultou na prisão do músico e empresário Patrick Abrahão, em outubro de 2022, na Operação La Casa de Papel, da Polícia Federal (PF), Receita Federal e Agência Nacional de Mineração (ANM).

A operação policial que deteve o empresário buscou desmobilizar um esquema de pirâmide financeira. Pelas redes sociais, Abrahão buscava justamente chamar a atenção para seu negócio exibindo imagens de palestras e mentorias, além de viagens, roupas de marca e carros.

No esquema de pirâmide, os participantes são incentivados a comprar um estoque de produtos ou serviço com a promessa de revendê-los e, com isso, ganhar comissões sobre as vendas de novas pessoas recrutadas.

"No entanto, a verdadeira fonte de lucro dessa empresa é o recrutamento de novos membros, e não a venda dos produtos, o que significa que esse lucro é insustentável e a maioria dos participantes acaba perdendo dinheiro", explica Carol Stange.

Segundo a especialista, a pirâmide financeira é o tipo mais comum de golpe no Brasil. Outro golpe muito aplicado, alerta a educadora, é o das criptomoedas falsas. Nesse tipo de fraude, os golpistas criam falsas moedas (ou tokens) e as promovem como uma oportunidade de investimento absurdamente lucrativa.

"Eles pedem aos investidores que comprem essas criptomoedas e prometem valorização muito rápida. Mas, na realidade, esses criptoativos são falsos e não têm valor real. Quando os investidores tentam vendê-los, descobrem que não há compradores, que é tudo falso, e acabam perdendo todo o dinheiro investido", alerta. 

Esse tipo de golpe é semelhante ao que atingiu o jogador Gustavo Scarpa. Após promessa de rendimentos irreais, a transferência de dinheiro para supostas compras de criptomoedas pela empresa apresentada pelo amigo Willian Bigode fez R$ 6,3 milhões de seu patrimônio desaparecerem.

Desconfiar das dicas de amigos — por melhor intencionadas que sejam — é, inclusive, outro cuidado que deve ser tomado, alerta Rodrigo Sgavioli, da XP. Isso porque, em alguns casos, a pessoa de confiança que está te apresentando ao suposto negócio também pode estar caindo em uma fraude.

"Durante um, dois anos ou mais anos pode até ser que a chamada pirâmide funcione. Mas ela tende a quebrar. Por isso, o primeiro canal de cuidado está em como essa informação de ganhos rápidos está chegando até você. Se for alguém de confiança, desconfie de que essa pessoa também possa estar caindo no golpe", alerta. 

Além da pirâmide e fraude com criptomoedas, há outros golpes financeiros na praça:

  • fraude em ações, que é quando alguém vende alguma ação falsa ou manipula o preço de ações para enganar investidores;
  • fraude em Forex (ou mercado de câmbio), em que golpistas criam falsas empresas e prometem retornos garantidos, mas roubam dinheiro dos investidores;
  • falsos consultores financeiros, que se passam por consultores experientes, mas, na verdade, são enganadores e não possuem nenhuma qualificação;
  • golpes de empréstimos, nos quais os fraudadores oferecem créditos a juros baixos, mas, na realidade, usam informações pessoais dos investidores para obter crédito em nome deles e roubar dinheiro sem conceder o empréstimo prometido.

Como se precaver de golpes, segundo as dicas dos especialistas

Desconfiar das dicas de amigos — por melhor intencionadas que sejam — é um cuidado que deve ser tomado. Isso porque, em alguns casos, a pessoa de confiança que está te apresentando ao suposto negócio também pode estar caindo em uma fraude.

Desconfie da garantia de altos rendimentos com baixo risco. Um exemplo é o caso do jogador Scarpa, que teve lucro prometido de 5% ao mês, o equivalente a quase 80% ao ano — quase seis vezes mais do que a taxa Selic, que é referência para os juros no país. 

A promessa de rentabilidade alta, garantida e sem risco é sinal claro de que você pode estar lidando com um golpista. Nesses casos, não há segredo: em finanças, risco e retorno andam de mãos dadas. 

Pedras preciosas ou joias: desconfie se alguém oferecer esse tipo de garantia de pagamento. O ideal é que tenha a quantia em dinheiro e liquidez real para te pagar.

Para atrair novos participantes, os fraudadores costumam vender a ideia de que aquele investimento é valioso, exclusivo e uma possibilidade única de conseguir altos retornos. Dizem ainda que chances assim não aparecem todo dia. Desconfie.

Para que um investimento seja comercializado no Brasil, é obrigatório seu registro de distribuição em órgãos como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Essa consulta pode ser realizada facilmente pelo site da autarquia.

O fraudador pode pedir depósito em conta corrente de pessoa física como forma de garantir a participação do investidor no esquema. Vale lembrar: transferir recursos diretamente para contas pessoais ou para uma conta bancária de uma empresa sem registro na CVM é mais um sinal de que algo não está certo. 

Fonte: G1 - 20/03/2023

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