Golpe do amor: como evitar roubo em apps de paquera ou redes sociais
Publicado em 07/06/2022 , por Paula Soprana
Estelionatários seduzem vítimas e prometem lucros com criptomoedas
SÃO PAULO
A polícia e a Receita Federal intensificaram no último ano o alerta para o "golpe do amor", ou estelionato sentimental, como tem aparecido em alguns tribunais.
O termo engloba diferentes tipos de fraude, mas todos consistem em envolver a vítima sentimentalmente a fim obter vantagem econômica dela. Em alguns casos, a aproximação romântica pode levar meses. Embora não seja novo, o crime passou a ocorrer com mais frequência pelas redes sociais.
A Folha mostrou neste domingo (5) o caso de uma vítima em São Paulo que perdeu cerca de R$ 600 mil com um estelionato que começou no Tinder e terminou em uma corretora falsa de criptomoedas. Outros relatos com tentativas semelhantes chegaram à reportagem.
Uma advogada que preferiu não se identificar contou que conversa há mais de um mês com um estrangeiro e que ele topou até fazer chamada de vídeo (em péssima qualidade e sempre interrompida pela suposta fragilidade do sinal) para tentar mostrar que não era uma fraude.
Embora ela desviasse do assunto finanças, ele tentava falar sobre o tema. Após colocar a imagem dele no aplicativo Google Lens, que leva à foto indexada no buscador, ela viu que o golpista usava a foto de um político alemão.
Outra pessoa relatou que falava com um suposto médico no Tinder que dizia estar na guerra. Ele pediu R$ 25 mil argumentando que seu dinheiro estaria preso. Ao procurar a foto no Google, a mulher identificou que ele usava a imagem de um atleta.
A fraude costuma ser registrada pela polícia como estelionato sentimental (mesmo que não tenha ocorrido na internet). O termo golpe do amor é recente e está ligado ao aumento desse tipo de ação nas redes sociais.
"A linguagem jurídica é estelionato sentimental, que sempre existiu, mas agora está facilitado pelos meios virtuais, onde a pessoa cria contextos sem precisar conhecer a vítima pessoalmente. Às vezes, a vítima não dá prosseguimento na esfera criminal. Na cível, pode conseguir condenação por dano moral quando o estelionatário é encontrado", diz o advogado criminalista Pedro Martinez.
Autoridades apontam para padrões nesse tipo de interação: a pessoa diz ser estrangeira e mostra a intenção de morar no Brasil; a conversa acontece em inglês ou o golpista diz que vai traduzir sua fala para o português; a foto é roubada de outra pessoa da internet; o número do WhatsApp é internacional; e, inevitavelmente, o dinheiro aparece em algum momento da conversa.
O crime pode envolver investimentos falsos em criptomoedas, transferências bancárias, doações e, em casos mais extremos, sequestros. O que une esses golpes é a manipulação emocional, sempre ligada a um romance.
No ano passado, a Receita Federal registrou um volume crescente de relatos em que a vítima foi induzida a pagar uma quantia ao criminoso para acessar bens e dinheiro em espécie que estariam retidos em aeroportos. Esses relatos incluem "propostas de casamento" e caixas com presentes, como um suposto anel para noivado.
Nesse tipo de esquema, o criminoso diz que pretende se mudar para o Brasil, que um pacote seu está retido na alfândega e que precisa de transferências da vítima para poder liberá-lo. A remessa seria parte de sua mudança ou algum presente.
Segundo a autoridade, há outros episódios em que o golpista diz estar doente e envia fotos falsas de sua internação fictícia.
FIQUE ATENTO AO GOLPE
Conheça alguns padrões relacionados ao estelionato sentimental
- O golpista ou a quadrilha fisga a vítima nas redes sociais ou em aplicativos de namoro, onde as pessoas estão mais abertas a se relacionar
- Utiliza fotografia de outra pessoa e diz ser estrangeiro. Quando a conversa migra para o WhatsApp, o número costuma ser internacional, o que dificulta sua rastreabilidade pela polícia
- Trata a pessoa com gentileza e faz aproximações românticas, demonstrando interesse em relacionamento sério e vontade de morar no Brasil
- Dificulta chamadas por vídeo ou encontros físicos
- Fala sobre dinheiro, seja contando uma situação dramática, solicitando empréstimo ou convidando a pessoa a investir
- Em golpes mais orquestrados, cria páginas falsas na internet –como de logística, em casos que pretende enviar uma remessa para o Brasil
NÃO CAIA NO GOLPE DO AMOR
Veja dicas para se relacionar em aplicativos de namoro ou em redes sociais
- Não fale sobre dinheiro
Jamais compartilhe dados bancários ou faça qualquer transação como PIX e transferência a pessoas com quem você só se relaciona pela internet. Às vezes, o golpista não tem pressa e conversa por meses com a vítima para obter confiança
- Sempre desconfie
Cheque informações da pessoa na internet: aplicativos como o Google Lens (disponível em celulares Android) ou Live Text (na Apple) permitem que você escaneie ou tire uma foto do perfil com quem conversa e encontre links relacionados a ele na internet
- Se informe sobre segurança nos apps
Aplicativos de namoro têm páginas sobre segurança digital, física e sobre orientação para denúncias
- Denuncie
Não tenha receio de denunciar comportamentos suspeitos e/ou ofensivos
- Faça chamadas por vídeo no app
Mesmo que alguns criminosos consigam forjar, tente ver o rosto da pessoa em uma chamada de vídeo e confirmar se é a mesma pessoa da foto
- Opte por recursos de verificação
No Tinder, perfis com tíque azul são genuínos porque passaram por uma comprovação de identidade; é desejável que todos solicitem essa verificação na plataforma
- Não caia na conversa de remessas presas na alfândega
Em casos de supostas remessas trancadas pela Receita, veja se a empresa está habilitada no Brasil. A autoridade alerta que o?pagamento de tributos?nunca?ocorre por meio de depósito/transferência em conta-corrente e que remessas expressas (courier) ocorrem só em empresas habilitadas pelo órgão
- Não invista seu dinheiro por meio desse contato
Só invista em criptomoedas de forma independente: procure uma corretora brasileira credenciada e conheça seu agente
- Não clique em links suspeitos
Não abra links enviados por alguém que você não conhece, especialmente em supostos convites de investimentos em criptomoedas ou de doações
VIREI ALVO DE UM GOLPISTA. O QUE FAÇO?
Se você identificou que é vítima de um esquema, é possível ajudar outras pessoas antes de desmascarar o criminoso
- Entre em contato com a polícia
Se você viu que a identidade da pessoa com quem conversa é falsa, entre em contato com a delegacia mais próxima para entender como pode colaborar. As delegacias de cibercrime são as mais indicadas. Abaixo, a lista por capital
- Denuncie e bloqueie
Evite entrar em discussões. Após orientação da polícia, denuncie o perfil à plataforma e bloqueie de seus aplicativos
Fonte: Folha Online - 06/06/2022
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