Brasileiro gasta mais e leva menos itens para casa, aponta estudo
Publicado em 08/03/2022 , por Letícia Moura
Consumidor que adquiria 19 produtos por compra em janeiro do ano passado, passou levar para casa somente 17 no mesmo período de 2022, queda de 8%
Rio - Com os preços dos alimentos cada vez mais altos, o brasileiro está gastando mais no supermercado, mas reduziu a quantidade de mercadorias compradas. O consumidor que adquiria 19 produtos por compra em janeiro do ano passado, passou a levar para casa somente 17 no mesmo período de 2022, queda de 8%. Isso ocorre devido ao aumento do valor médio por produto, que fez o cliente pagar 13% a mais nos itens, na mesma comparação entre períodos. Os dados foram apurados pela Dotz, empresa de tecnologia que também desenvolve análise de dados de consumo, com base nos dados de suas parcerias de varejo alimentar.
"Com este estudo do Radar Dotz, pudemos observar que o consumidor está gastando mais dinheiro, mas levando menos produtos para casa. O ticket médio cresceu 4%, chegando a um gasto de aproximadamente R$ 130 por compra, em razão do aumento de preços, decorrente de inflação e outros efeitos", disse o CEO da empresa, Roberto Chade.
Isso mostra que a alta de preços afetou diretamente no comportamento de compra e consumo dos clientes, que, mesmo reduzindo o tamanho da cesta, substituindo categorias, produtos e marcas, tiveram um aumento na despesa com o abastecimento dos lares. O reflexo dessa mudança é um crescimento do faturamento do setor em torno de 7%, inferior à inflação do período e puxado exclusivamente pela alta de preços. Por isso, o setor não teve crescimento real.
Impacto mais intenso
A população de menor renda sofre um impacto mais intenso provocado pela alta dos preços. Segundo Thiago de Moraes Moreira, economista e professor do Ibmec RJ, o peso que os alimentos têm nas famílias de mais baixa renda é bem maior do que nas famílias de alta renda. "Então, nesse sentido, o aumento no preço dos alimentos provoca um processo perverso de crescimento da desigualdade", destacou Moreira. "Você tem um impacto inflacionário muito mais forte sobre as famílias de baixa renda, que têm um peso no seu orçamento muito maior para alimentos do que nas famílias mais ricas que, claramente, apresentam um peso dos alimentos, mas possuem uma diversificação muito maior da cesta de consumo", analisou o economista.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no dia 15 de fevereiro, o segmento que apresentou a maior inflação em janeiro deste ano foi o das famílias com renda muito baixa (0,63%), enquanto as famílias de renda alta registraram a menor taxa de inflação no período (0,34%).
"Na comparação com janeiro do ano passado, houve alta da inflação para todas as faixas, sendo que o impacto foi maior para classe de renda mais baixa, cuja inflação em janeiro deste ano (0,63%) foi o triplo da apontada em janeiro de 2021 (0,21%)", comparou a pesquisadora do Ipea Maria Andreia Lameiras, autora do indicador mensal.
Categorias com grandes variações
A plataforma Radar Dotz analisou as 20 categorias mais relevantes na cesta do consumidor e destacou seis itens que apresentaram grandes variações na comparação com o ano anterior. Tanto a carne quanto o frango tiveram acréscimo de aproximadamente 18% no seu preço médio. Entretanto, foi possível notar que o consumidor está levando menos carne para casa, mas continua comprando a mesma quantidade de itens por cesta de frango, por ser mais barato, custando em média R$ 14, enquanto a carne chega a R$ 38.
Café e açúcar apresentaram aumento de preço, no entanto, não tiveram uma grande queda na quantidade adquirida, por se tratarem de itens básicos na cesta do brasileiro, com diminuição de 6% e 7%, respectivamente. No caso do óleo de cozinha, mesmo que o preço tenha aumentado 17%, os brasileiros consumiram mais o produto neste ano, apresentando um acréscimo na cesta de 4%.
Já o iogurte, por sua vez, subiu 32% no seu preço médio e, consequentemente, apresentou a maior redução na quantidade de itens por cesta das categorias analisadas, por se tratar de um produto não essencial. "Ou seja, com as mercadorias mais caras, o brasileiro tem prezado pela proteína com preço menor e optado pelo essencial na hora de escolher o que comprar, para não aumentar, ainda mais, os gastos com alimentação", observou o CEO da Dotz.
Como driblar a inflação
Para economizar na hora de realizar compras no supermercado em meio à elevada inflação, que já acumula alta de 10,38% nos últimos doze meses, o consultor de Varejo Marco Quintarelli recomendou fazer uma lista com os itens necessários. "Eu preciso comprar o que exatamente? Seguindo a lista, você já diminui 80% de desvio. Se o cliente não for com uma lista ao supermercado, ele pode aumentar até 80% o valor da compra".
Ele também recomendou que o consumidor não deve ir ao mercado com fome. "Você tem que estar alimentado, porque a fome te induz a ter vontade de comprar outras coisas, como biscoitos, salgadinhos e doces. A embalagem e a exposição de produtos te atraem, então você se desvia desse processo de só comprar aquilo que necessita", esclareceu Quintarelli.
Segundo o especialista, fazer escolhas econômicas, optando, por exemplo, por comprar o refil dos produtos se já tiver o frasco em casa, pode ser uma opção para driblar a alta dos preços. Além disso, o consultor de varejo indicou a busca por promoções "leve e ganhe" ou descontos. Ele exemplificou: "Eu consumo muito óleo de soja e, se comprar dois, vou ter um desconto. Então, vale comprar duas unidades, se puder investir nisso".
Por fim, Quintarelli aconselhou aproveitar as oportunidades oferecidas pelos estabelecimentos. "Muitos têm ações de fidelização, ou seja, se você é fiel àquele mercado, tem descontos específicos, principalmente em aplicativos", explicou, acrescentando que alguns mercados também cobrem o preço do concorrente, o que auxilia a poupar gastos.
Fonte: O Dia Online - 07/03/2022
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