Seca que atinge reservatórios pressiona conta de luz; gás foi reajustado recentemente e água também subiu

Vender o almoço para comprar a janta. O antigo ditado popular parece ser a realidade de muitas famílias que seguem tentando economizar em casa para fazer as contas caberem no orçamento doméstico. E, se o bolso já estava pesado, os consumidores precisam seguir ainda mais atentos: gás de cozinha, recém-reajustado, e luz e água mais caras em plena seca, devem pesar ainda mais.

Desde a última segunda-feira (14), quem precisou comprar gás levou um susto. Se, em junho de 2020, o botijão de 13 quilos podia ser encontrado em São Paulo por R$ 68,24, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), em junho deste ano, o botijão sai por R$ 85,95, 25,86% a mais.

A Petrobras reajustou em 5,9% o preço médio do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) para as refinarias. O novo preço é de R$ 3,40 por quilo. Distribuidoras e revendedores têm a liberdade de definir se vão repassar o aumento ao consumidor final. Mas, segundo Robson Carneiro dos Santos, presidente do Sergás (Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás), essa é uma condição inevitável. 

“Não teremos como segurar esse aumento. Os custos estão muito altos: gasolina, manutenção de funcionário, entrega. Não é só o reajuste da Petrobras. Então, creio que todas as revendas vão repassar na íntegra ao consumidor”, afirma ele.

Economia é a solução encontrada pelo zelador Pedro Rocha, 64 anos. “Diminuímos muito o consumo de gás. Quando minha esposa vai cozinhar feijão, por exemplo, ela já faz comida para dois ou três dias.

Também reduzimos frituras. Pagar R$ 100 em um botijão de gás não é fácil“, conta ele, que chegou a reduzir a compra do supermercado para conseguir pagar as contas.

“Deixei de comprar uma carne melhor, por exemplo. Antes, eu comprava até três latas de óleo, hoje compro no máximo duas. Aos poucos fizemos nosso consumo de gás reduzir. Um botijão que durava 60 dias, hoje dá para quase três meses”, afirma. 

Torneira fechada

A Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo) autorizou a revisão tarifária da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) em abril. O reajuste foi de R$ 5,1251 por m3 neste ano.

Segundo a Sabesp, a revisão garante seu “equilíbrio econômico-financeiro” para que “realize nos próximos quatro anos os investimentos em abastecimento, coleta e tratamento de esgoto”.

“Eu senti o aumento na conta quando passei a trabalhar em home office, em 2020. Mas, neste ano, estou surpresa. A conta vinha alta e eu conseguia reduzir e estabilizar. Agora, parece que está mais difícil”, diz a técnica de projetos Marta Fernandes Marcatti, 30, de São Paulo (SP).

“Eu tenho conseguido pagar tudo, mas reduzimos bastante os gastos. No caso da água, por exemplo, reduzimos o tempo de banho, mas como estou com um bebê, a quantidade de roupa para lavar aumentou", diz ela.

"Então, para dar conta de tudo, cortamos por exemplos compras no cartão de crédito, cancelamos serviços de streaming e mudei o pacote do meu celular. Porque, de continha em continha, fica pesado no final”, comenta.

A diarista Gabriela Araújo, 25, também sentiu o aumento no bolso. “Ganho, em média, R$ 800 por mês e, como tenho quatro filhos, minha água costuma vir R$ 200. Então, ou comemos ou pago conta."

Ela diz que, muitas vezes, conta com ajuda dos familiares. “Para mim, todos esses aumentos são absurdos. Tem muita gente desempregada. Quem mora na periferia sabe bem o que é passar dificuldade. Às vezes fico sem jantar para que meus filhos comam”, afirma.

Controle de gastos Para Wagner Cunha Carvalho, especialista em eficiência energética e hídrica da W-Energy, empresa especializada em soluções para economia de água e energia, a solução mais barata e inteligente sempre foi controlar o consumo e aplicar tecnologias economizadoras.

“Em relação à água, existem no mercado duchas capazes de economizar 75% no banho e tecnologias que, se instaladas nas torneiras, vão gerar até 96% de redução do consumo de água. Já para economizar no gás, é preciso muita disciplina. Para quem usa gás encanado, reduzir o tempo de banho e utilizar duchas ecológicas pode reduzir o consumo em até 40%", diz.

E, para os 91% da população que usa gás de botijão, optar por alimentos que demandam menos tempo de cozimento é o caminho. "Vale ainda reduzir o consumo de frituras”, afirma. “Repensar seus hábitos ajudará seu bolso e o meio ambiente”.

Alta nos preços | Confira as dicas

PARA GASTAR MENOS GÁS

1. Cozinhe os alimentos com as panelas tampadas sempre que a receita permitir
2. Coloque panelas grandes nas bocas grandes do fogão
3. Diminua o fogo depois que a água ferver; mantê-lo alto não apressa o cozimento, apenas contribui para o gasto de gás
4. Evite abrir o forno com frequência quando ele estiver funcionando
5. Se possível coloque mais de um alimento para assar de uma vez
6. Fique de olho nas chamas: amareladas ou alaranjadas significa que os bocais não estão funcionando corretamente

PARA ECONOMIZAR LUZ

• Não deixe as luzes acessas em cômodos sem pessoas
• Não deixe televisores, rádios, videogames e outros aparelhos ligados quando não estiver usando
• Quando ficar muito tempo fora de casa, tire da tomada os aparelhos eletrônicos de controle remoto
• Se puder, opte por lâmpadas eletrônicas ou de LED (mais econômicas)
• Evite abrir constantemente a porta da geladeira
• Se for usar o ar-condicionado, deixe a porta do ambiente fechada

Clique aqui para ver mais 15 dicas para economizar luz.

COMO ECONOMIZAR ÁGUA

No banheiro

• Tome banhos mais rápidos; cinco minutos são suficientes para higienizar o corpo
• A economia é ainda maior se, ao ensaboar, você fechar o registro
• Ao escovar os dentes, feche a torneira após molhar a escova
• Mantenha a válvula da descarga sempre regulada, consertando os vazamento assim que forem notados

Na cozinha

• Antes de lavar a louça, limpe os restos de comida dos pratos e panelas; abra a torneira só depois para molhá-los
• Ensaboe tudo o que tem que ser lavado e então abra a torneira novamente para enxaguar
• Se for utilizar uma lavadora de louças, prefira ligá-la quando estiver cheia
• Ao higienizar frutas e verduras, deixe-as durante 15 minutos de molho com água com cloro/água sanitária e, depois, elas devem ser deixadas durante 10 minutos numa vasilha com vinagre para limpar sem gastar água

Na área de serviço

• Junte bastante roupa suja antes de ligar a máquina; não lave uma peça por vez
• Se for lavar no tanque, deixe as roupas de molho e use a mesma água para esfregar e ensaboar
• Caso use lavadora de roupas, procure utilizá-la cheia e ligá-la no máximo três vezes por semana
• Aproveite a última água da máquina para lavar o quintal ou a área de serviço
• No jardim, use regador para molhar as plantas em vez da mangueira
• Use vassoura para limpar a calçada e o quintal da casa
• Não lave o carro durante a estiagem

RETRATO DO DESPERDÍCIO

• Uma torneira gotejando desperdiça 40 litros de água por dia
• Acionar descarga desnecessariamente gasta de 10 a 14 litros

BONS HÁBITOS

• Banho de 5 minutos, fechando registro ao ensaboar, traz economia de 90 litros em uma casa
• Em apartamento, o mesmo hábito economiza 162 litros
• Escovar os dentes com torneira fechada e se barbear do mesmo modo gera economia de 11,5 litros e 9 litros, respectivamente, nas casas
• Nos apartamentos, ter esses dois hábitos faz com que se poupe 79 litros

Fontes: Comgás (Companhia de Gás de São Paulo); Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Wagner Cunha Carvalho, especialista em eficiência energética e hídrica da W-Energy, Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Enel e Energytech Holu

Fonte: Folha Online - 19/06/2021