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Um provedor de e-mail tem acesso às mensagens trocadas por seus usuários?
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Um provedor de e-mail tem acesso às mensagens trocadas por seus usuários?

Publicado em 27/11/2020 , por Altieres Rohr

Tira-dúvidas explica medidas de segurança aplicadas para a proteção do sigilo das mensagens de e-mail.

Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados etc.), envie um e-mail para g1seguranca@globomail.com. A coluna responde perguntas deixadas por leitores às terças e quintas-feiras.

 

Adorei as matérias de vocês sobre segurança digital. Então me surgiu uma dúvida. Os provedores de e-mail podem ler nossos e-mails pessoais ou são criptografados? – Joseph

Sua pergunta é curiosa, Joseph, porque você elencou duas possibilidades: o provedor ter acesso ao e-mail ou ele ser criptografado.

Mas a criptografia não impede por si só que o provedor de serviço tenha acesso aos dados. Isso vai depender de como a criptografia é usada.

Seria incorreto dizer que os e-mails não são criptografados. Hoje em dia, muitas mensagens são criptografadas durante a transmissão de um provedor para outro.

Dessa forma, um hacker não poderá interceptar os e-mails apenas invadindo a estrutura de rede desses provedores ou de intermediários da conexão.

Também é muito provável que os provedores de e-mail utilizem criptografia de armazenamento.

Essa criptografia serve para proteger o banco de dados caso os servidores sofram uma violação da integridade física – por exemplo, caso um disco rígido apresente defeito e precise ser substituído, a criptografia de armazenamento garante que nada fique exposto nos dados ainda legíveis do disco defeituoso.

Mesmo com esses mecanismos de proteção, a maioria dos provedores de e-mail possui acesso às suas mensagens.

Porém, não se assuste: funcionários do provedor não possuem permissão para bisbilhotar suas conversas.

Por regra, seus e-mails só serão revelados a terceiros caso haja uma ordem judicial para isso.

O acesso dos provedores é também uma necessidade técnica para alguns dos recursos que eles oferecem.

Comparando o e-mail com o WhatsApp – que utiliza criptografia de ponta a ponta para esconder as mensagens de todos os intermediários, inclusive do prestador de serviço –, é possível algumas diferenças importantes: 

  • Você pode acessar seu e-mail via web ou em vários dispositivos, sem precisar autorizá-los em um dispositivo principal (no WhatsApp, isso precisa ser feito na configuração do WhatsApp Web);
  • Os serviços de e-mail possuem filtros de spam, que analisam o conteúdo das mensagens e identificam o que pode ser malicioso. O WhatsApp não possui esse tipo de filtro e, mesmo que tivesse, ele teria de ser construído no próprio dispositivo da pessoa, o que reduziria sua eficácia;
  • Caso você perca sua senha do e-mail, você pode redefini-la e continuar tendo acesso às suas mensagens antigas. No WhatsApp, se você mesmo não realizar o backup das suas conversas, tudo será perdido quando você trocar de celular ou tiver de redefinir seu aparelho, e é impossível acessar uma conta sem acesso à linha (por regra, soluções criptográficas completas não permitem que você redefina sua senha em caso de esquecimento).

 

Para que um provedor de serviços (seja e-mail ou armazenamento em nuvem) não tenha acesso aos dados, é preciso que toda a decifragem seja realizada diretamente no seu dispositivo e que a senha de acesso não esteja totalmente vinculada à chave de decifragem.

Do contrário, o provedor ainda poderá calcular a chave de decifragem registrando sua senha no momento do login.

Como é o envio de e-mails criptografados

Existe uma tecnologia bastante difundida para o envio de mensagens criptografadas, caso você precise: o PGP.

O GPG (GNU Privacy Guard) é o software de código aberto mais popular entre os compatíveis com essa modalidade de comunicação.

Ele é distribuído gratuitamente, o que vai ajudar bastante, porque o destinatário da mensagem também terá de instalar e usar um software de decifragem.

A extensão de navegador Mailvelope permite utilizar funções criptográficas nos próprios serviços de webmail. O leitor de e-mails gratuito Thunderbird também possui a extensão Enigmail para a mesma finalidade. Ambos podem funcionar usando o GPG "nos bastidores".

Geração de chaves no Mailvelope exige apenas nome, e-mail e senha. — Foto: Reprodução

Para estabelecer uma comunicação criptografada por e-mail, são necessários os seguintes passos:

  1. Você precisa gerar um par de chaves criptográficas (chave privada e pública);
  2. Você precisa receber a chave pública do destinatário (após ele gerar o par de chaves próprio) e enviar a sua chave pública para ele;
  3. Você precisa configurar o software para utilizar suas chaves e adicionar a chave pública do destinatário;

Ao enviar a mensagem, você poderá criptografá-la com a chave pública do destinatário, que é atrelada ao endereço de e-mail dele. Após o envio, a mensagem ficará criptografada e apenas o destinatário poderá abri-la.

Esse processo não é simples, mas a comunicação criptografada em e-mail é largamente utilizada para a transmissão de informações sensíveis (seja para evitar represálias políticas em países autoritários ou resguardar detalhes técnicos de falhas de segurança). E-mail criptografado precisa ser redigido em janela segura e separada para evitar que o provedor de e-mail salve a mensagem como rascunho, sem criptografia. Destinatário só poderá ser escolhido entre as chaves publicadas cadastradas.  — Foto: Reprodução

E-mail criptografado precisa ser redigido em janela segura e separada para evitar que o provedor de e-mail salve a mensagem como rascunho, sem criptografia. Destinatário só poderá ser escolhido entre as chaves publicadas cadastradas. — Foto: Reprodução

Lembre-se que, se você perder a senha da sua chave privada, você não poderá mais decifrar as mensagens que receber.

Inclusive, você não poderá nem mesmo decifrar a mensagem após ela ter sido enviada ao destinatário – se você precisar consultar a mensagem enviada, terá de salvá-la em separado.

Para a maioria das pessoas, as proteções normais do e-mail, a conveniência do acesso na nuvem, a possibilidade de trocar de senha e a criptografia de transmissão e armazenamento dos provedores são suficientes para resguardar o sigilo das comunicações.

As principais causas de violação do sigilo do e-mail não têm relação com o provedor, mas sim com programas de espionagem instalados no dispositivo das vítimas – uma situação que a criptografia não resolve, pois o programa espião também poderá ver o conteúdo após a decifragem – e o acesso indevido após a obtenção da senha (seja por programa de espionagem ou enganando usuários com sites falsos).

Por essa razão, a autenticação multifatorial é sua principal defesa contra a violação do e-mail. Não faz qualquer sentido criptografar suas mensagens antes de adotar essa tecnologia e cuidar bem da segurança do seu dispositivo.

Fonte: G1 - 26/11/2020

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