Sem perícias e com agendamento, agências do INSS reabrem vazias em SP
Publicado em 17/09/2020 , por Fábio Munhoz,Juca Guimarães, Havolene Valinhos e Ana Paula Branco
Atendimento foi retomado nesta quinta (17) após decisão judicial
Cerca de 122 agências do INSS no estado de São Paulo estavam previstas para reabrir nesta quinta-feira (17), após decisão do TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3 Região) a favor do instituto. Algumas, no entanto, permaneceram com os portões trancados, pois não havia agendamento para hoje.
Nesta primeira fase da reabertura gradual, as agências atendem apenas segurados agendados e em horário reduzido, das 7h às 13h. De acordo com o INSS, serão priorizados os seguintes atendimentos: avaliação social, cumprimento de exigência, justificação administrativa e reabilitação profissional.
Nesta manhã, a reportagem do Agora encontrou agências sem filas e segurados sem horário agendado que tentavam tirar dúvidas para liberar benefícios.
No posto da Água Branca (zona oeste) não havia nenhum segurado às 7h, quando o portão abriu. O atendimento, segundo um cartaz no portão, seria exclusivo para quem tinha horário marcado. Dentro da agência, a reportagem foi orientada sobre distanciamento social, após passar pela medição de temperatura e desinfetar as mãos com álcool em gel. Os funcionários evitavam contato físico com documentos dos segurados em busca de informação, mas sem agendamento.
Já o segurado que foi à agência do INSS de São Miguel Paulista (zona leste) nesta quinta (17) deu de cara com portão fechado. Servidores explicaram que apenas os agendamentos expressos estavam sendo atendidos, ou seja, somente apresentação de documentos que faltavam para análise de pedidos. No posto não há perícia médica. Hoje, havia nove agendamentos apenas para entrega expressa.
Quem chegava não entendia o motivo das portas trancadas. "Vi na televisão que hoje atenderiam. Eu tenho agendamento para amanhã, mas já vim hoje para saber se abririam e, infelizmente, não estão atendendo", afirma o aposentado Hélio Machado, 68 anos, de São Miguel Paulista (zona leste). Ele precisa verificar o motivo do INSS não ter repassado o valor para o banco que tem um consignado.
"Ninguém resolve. É um absurdo". Antes da reportagem deixar o local, o aposentado foi orientado por um servidor.
O metroviário Dailton Gomes de Souza, 52 anos, do Itaim Paulista (zona leste), afirma que tentou agendar perícia pelo 135 e pelo site, mas não obteve sucesso. Mesmo assim o servidor insistiu que ele deveria fazer o agendamento pelo Meu INSS.
O segurado afirma que teve Covid-19, e após 14 dias, o teste deu novamente positivo. Por isso, tem 22 dias afastamento e precisa de um documento ou auxílio-doença. "Farei o teste amanhã de novo, mas o trabalho disse que preciso de um papel do INSS para eu não perder esses dias. Eu só quero trabalhar, mas é muita burocracia." Ele recebeu uma senha para tentar agendar a perícia pela internet.
A copeira hospitalar Elizabeth Mina de Oliveira, 61 anos, do Itaim Paulista (zona leste), conta que deu entrada em sua aposentadoria foi idade em janeiro, mas foi roubada e seus documentos foram levados. " Disseram que eu devo entrar novamente com o pedido, mas tenho agendar no 135 e no site, mas nunca consigo. Cheguei aqui e está fechado." Um servidor insistiu que ela deveria agendar por meio eletrônico, mas acabou imprimindo uma senha do Meu INSS para a segurada.
Mesmo com atendimento agendado, sem os médicos peritos, muitos segurados perderam a viagem nesta quinta. A Secretaria de Previdência exigiu o retorno dos profissionais e ameaça corte no ponto, mas médicos peritos se recusam a retomar o atendimento presencial, alegando falta de segurança e de higiene nos postos. A associação que representa a categoria diz que as vistorias para liberação das agências do INSS foram "feitas por gerentes da administração sem o mínimo de competência técnica ou legal para tal feito".
A auxiliar de limpeza Janecleia dos Santos, saiu de casa ainda de madrugada para chegar a tempo do exame pericial marcado para 8h na agência da Lapa (zona oeste), mas teve que voltar para casa sem expectativa de prazo para a concessão do benéfico. “Gasto muito dinheiro com condução. Sai cedo e eles nem me avisaram que não teria perícia. Não recebi nem torpedo e nem e-mail. Não fizeram nem a remarcação. Tenho que me virar por conta própria para conseguir outra data”, disse.
O auxiliar de serviços gerais Vitor Firme de Lima Queirós, 31, chegou à agência do INSS na Vila Mariana (zona sul), por volta das 7h e saiu sem atendimento. Afastado do trabalho desde março por conta de problemas vasculares, ele tinha perícia médica marcada para as 8h40. Porém, não foi atendido.
Ele diz não poder voltar ao trabalho sem passar pela perícia. "Tentei solicitar a antecipação do benefício. Enviei todos os documentos pela internet, mas foram rejeitados", diz.
O INSS pede para que segurados fiquem atentos a SMS, emails e mensagens no Meu INSS sobre os agendamentos, mas nem todos estão recebendo os comunicados.
O tratorista Emerson dos Santos Oliveira, 37, saiu de sua casa por volta de 5h30 para levar o sogro, de 67, à perícia na agência do Jabaquara 9zona sul). Moradores do distrito Engenheiro Marsilac, no extremo sul da capital, eles levaram mais de duas horas para chegar, quando foram informados sobre o cancelamento.
Oliveira diz que o sogro teve complicações após passar por uma cirurgia no abdômen. "Ele chegou a receber o auxílio-doença por três meses, mas cortaram", relata. O idoso que aguarda perícia será submetido a novo procedimento médico em outubro.
"A sorte é que ele mora com a gente, pois está dependendo de nós para tudo. Caso contrário, já teria morrido", lamenta. "É humilhante a pessoa contribuir com o INSS durante a vida toda e, na hora que precisa, ter que passar por isso", desabafa.
A motorista Mônica Fraga, 46, também tinha perícia marcada, para a agência da Vila Mariana. Afastada do trabalho há aproximadamente 20 dias em razão de problemas na coluna, ela tenta ter acesso ao auxílio-doença. Com atendimento agendado, não sabia se haveria perícia.
O posto de Caieiras, na Grande SP, também estava com os portões fechados por volta das 9h40. Segundo um funcionário, os portões estavam trancados porque não tinha nenhum agendamento para hoje. O servidor acredita que, por conta da liminar que proibiu a abertura das agências em São Paulo ter sido derrubada anteontem, não houve tempo de montar uma agenda.
Sem agendamento, a vendedora Monica Yamamoto tentava ser atendida. Ela teve um problema de saúde e se afastou do trabalho no meio do mês passado e o departamento de RH da empresa marcou a perícia dela no INSS para o dia 14, última segunda, quando o INSS iria reabrir. “Moro em Caieiras e tive que ir até outra cidade para descobrir que não seria atendida. Estou desde de segunda tentando remarcar. Por telefone é impossível e no aplicativo diz que tem um erro no meu CPF, mas não há nenhuma opção para resolver isso nem no aplicativo e nem no site”.
Nesta quinta, ela recebeu uma nova senha para tentar um acesso no site e então remarcar sozinha a sua perícia.
Na Vila Mariana, Lurdes Queirós dos Santos, 70, não tinha agendamento marcado. Mesmo assim, foi ao posto do INSS para tentar obter informações sobre seu pedido de aposentadoria, feito há cerca de um ano e meio.
"Faço tratamento contra a leucemia desde 2013 e não tenho condições de trabalhar", informa. Ela diz ter cumprido os critérios de idade e tempo de serviço trabalhando como empregada doméstica.
Lurdes foi atendida na calçada por um funcionário, que lhe deu orientações sobre como proceder para tentar obter o benefício.
BPC
No posto da Previdência Social no Jabaquara (zona sul), a advogada Talita Lima, 33, acompanhava dois clientes que tentavam obter o BPC (Benefício de Prestação Continuada).
Portadores do vírus HIV, os jovens tinham perícia agendada para a agência do bairro Santo Amaro (zona sul). "Chegando lá, mandaram vir ao Jabaquara. E aqui também não conseguimos o atendimento", diz Talita. Para um dos solicitantes, a perícia foi reagendada para 1° de janeiro do ano que vem.
A advogada diz atender em torno de 20 clientes em seu escritório que estão à espera do BPC, sem conseguir a antecipação do benefício durante a pandemia.
Fonte: Folha Online - 16/09/2020
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