Bradesco, BB, Caixa, Santander e Itaú têm 80% do mercado, diz BC
Publicado em 05/06/2020 , por Fábio Pupo
Percentual fica estável apesar de Guedes criticar a concentração no setor
As cinco maiores instituições financeiras no país (Bradesco, Banco do Brasil, Caixa, Santander e Itaú) concentraram 80,7% das operações de crédito no sistema bancário ao fim de 2019.
Os números mostram que o indicador de concentração ficou em patamares similares ao observado nos anos anteriores, mesmo com críticas à concentração feitas pelo ministro Paulo Guedes (Economia).
Os dados foram apresentados hoje pelo BC (Banco Central) no relatório sobre a economia bancária e mostram um recuo marginal da concentração ao longo dos últimos três anos. Ao fim de 2017, a participação dos cinco maiores era de 83,4%. Em 2018, de 82,2%.
Contribuiu para essa leve redução a retração de participação dos principais bancos públicos federais. Ela foi, em alguma medida, compensada por um avanço das instituições privadas (mas, segundo o BC, não o suficiente para aumentar a concentração total).
João Manoel Pinho de Mello, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, diz que o indicador é importante. Mas afirma que a autarquia vai monitorar cada vez mais outros índices, como aqueles que atestam o nível de competição entre os bancos.
“É perfeitamente possível ter um sistema bancário razoavelmente concentrado e muito competitivo”, afirmou. “É por isso que estamos olhando cada vez mais, estamos dando ênfase crescente aos indicadores de competição. Não deixando de lado a concentração, porque é um indicador importante”, disse.O Banco Central costuma defender que certas medidas devem produzir resultados para o aumento da competição. Entre elas, a implantação do chamado open banking (iniciativa que autoriza instituições financeiras a compartilharem entre si dados de clientes), que pode gerar tarifas mais baixas.
Os dados são apresentados em meio a críticas de empresários sobre a dificuldade de acessar crédito durante a pandemia do coronavírus. Levantamento do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) divulgada no mês passado aponta que 86% dos pequenos negócios que buscaram crédito na crise não conseguiram.
Antes mesmo do estouro da pandemia, Guedes criticava a concentração bancária dizendo que o país é formado por uma população de “trouxas” atendidos por poucos concorrentes. Por isso, ele dizia que haveria mudanças.
Os dados do BC mostram também que o lucro das instituições financeiras bateu novo recorde, de quase R$ 120 bilhões, na série apresentada no relatório (iniciada em 1994).
A rentabilidade dos bancos subiu pelo terceiro ano seguido. O chamado retorno sobre o patrimônio líquido do sistema bancário nacional alcançou 16,5% em dezembro do ano passado, contra 14,8% no fechamento de 2018.
O crescimento da rentabilidade foi principalmente resultado do aumento do crédito e da mudança de composição da carteira, com o aumento das operações com maiores juros (para pessoas físicas e para pequenas e médias empresas).
Para 2020, o BC espera uma redução da rentabilidade principalmente por causa do coronavírus. Paralelamente, deve haver aumento no crédito. A estimativa de alta para o saldo neste ano passou de 4,8% para 7,6% com o coronavírus.
Fabio Kanczuk, diretor de Política Econômica do BC, considera que a demanda por crédito atualmente não é para atender novos investimentos, mas sim para mitigar os efeitos da crise.
Para ele, esse cenário deve começar a ser revertido até o fim do ano, considerando a expectativa oficial de recuperação no terceiro trimestre e a gradual substituição do perfil de crédito para um objetivo mais voltado à expansão da atividade.
Fonte: Folha Online - 04/06/2020
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