Inadimplência das universidades privadas de São Paulo cresce 70% em 15 dias
Publicado em 23/04/2020
Semesp aponta que evasão e inadimplência registraram alta de 71% na primeira quinzena de abril; um em cada quatro estudantes está inadimplente
A crise do novo coronavírus (Sars-Cov-2) tem impactado diversos setores, inclusive a educação . Professores estão sendo desafiados a remanejar seus métodos de ensino e alunos se adaptam às plataformas de aulas remotas.
O maior impacto, porém, é financeiro ; tanto por parte dos alunos — já que muitos enfrentam a impossibilidade de trabalhar diante do fechamento de serviços não essenciais, medida necessária na contenção à disseminação do Covid-19 — quanto por parte das instituições de ensino, que enfrentam alta nos índices de inadimplência e evasão do ensino superior.
De acordo com o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), a inadimplência nas instituições particulares de ensino superior registrou alta de 71,1% na primeira quinzena de abril, em relação ao mesmo período do mês anterior. Os dados foram levantados através de uma pesquisa realizada com cerca de 200 instituições.
Com essa alta, a inadimplência ultrapassou 25% do corpo discente das instituições de ensino superior da pesquisa no mês de abril deste ano. Isso significa que pelo menos um em cada quatro alunos já deixou de pagar, no mínimo, uma mensalidade.
A alta no atraso dos pagamentos tem preocupado as instituições de ensino. Segundo Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, "a redução da receita representa uma ameaça à manutenção de milhares de empregos e a oferta de acesso ao ensino superior a milhões de brasileiros".
De acordo com ele, essa redução substancial nos pagamentos observada na primeira quinzena de abril pode ter sido motivada pela incerteza dos alunos diante da posição das universidades em relação à crise. "Muitos alunos estão esperando para ver se terão descontos e se haverá alteração no valor das mensalidade", declarou.
A estudante de jornalismo e lojista Thais Souza, 21, é uma das muitas pessoas que têm enfrentado dificuldades para quitar as parcelas mensais . "Precisei fechar a loja assim que a quarentena foi decretada em São Paulo. Estou tentando vender on-line, mas o resultado é muito menor, então automaticamente não tenho mais fonte de renda", conta.
Segunda a estudante, ela teve que priorizar outras despesas e, por isso, acabou deixando de pagar as mensalidades. "Não cheguei a trancar o curso e nem pretendo, mas espero que a universidade ajude com descontos ou parcelamentos na hora de acertar os valores atrasados."
Alunos pedem redução das mensalidades
Com a substituição das aulas presenciais pela educação à distância, estudantes do ensino básico e superior têm questionado a manutenção do valor das mensalidades . Muitos colocam em pauta as diferenças de custo entre os modelos presencial e à distância. A questão, no entanto, é complicada.
"Os custos com o corpo docente , que mantém sua dedicação ministrando as aulas de forma remota e buscando ajustar o plano de aulas a essa realidade, continuam rigorosamente os mesmos. Assim como ocorre com os custos com os demais colaboradores, que desenvolvem suas atividades em regime de home office", afirmou o diretor-executivo do sindicato.
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Além disso, aponta Rodrigo, as instituições têm aumentado suas despesas com a instalação de novos equipamentos, tecnologias, treinamentos para o corpo acadêmico e aquisição de licenças de uso de novas ferramentas para suportar a transmissão remotamente aos alunos da mesma aula que era ministrada presencialmente.
E quanto ao aluno que não conseguem pagar a mensalidade? A estudante Thais Souza sugere: "Caso não seja possível reduzir o valor das mensalidades, eu espero que ajudem os alunos eliminando juros de atrasos ou parcelando a dívida, de uma forma que ninguém saia prejudicado."
Para Rodrico Capelano, o ideal é que as universidades observem caso a caso. “Se o desconto for horizontal, como, por exemplo, um abatimento geral em 30%, como ficará aquele aluno que não pode pagar mesmo com esse desconto”, indaga. Por outro lado, o vice-diretor acredita que não faz sentido famílias que não tiveram a renda afetada por causa da crise se beneficiarem do abatimento.
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Evasão universitária
De acordo com os números obtidos pela Semesp, a evasão dos alunos cresceu 11,5% na primeira quinzena de abril em relação ao mesmo período do ano de 2019.
O sindicato ainda projeta que, ao final de 2020, o índice chegue a 33,1%, superando os 31% de 2019. No entanto, segundo Capelato, a alta não é tão preocupante e as instituições de ensino devem dar um jeito para segurar os alunos.
Semesp/Divulgação Evasão também cresceu na primeira quinzena de abril, mas em menor proporção
Para Capelato, é muito pouco provável que as aulas presenciais retornem antes de junho. De toda forma, diz ele, o legado que fica dessa crise é a rápida transformação do processo analógico para o digital e a necessidade de desburocratizar o sistema.
Fonte: economia.ig - 22/04/2020
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