Crescem as queixas de consumidores com demora e ineficiência dos serviços de assistência técnica
Publicado em 14/10/2019 , por Luciana Casemiro e Pedro Palmeira
Números representam avanço de 79% em relação ao acumulado ano de 2015
RIO - As reclamações sobre produtos danificados e assistência técnica registradas de janeiro a agosto deste ano no portal de intermediação de conflitos do governo federal, o Consumidor.gov.br, já ultrapassaram as contabilizadas em todo o ano passado — 4.277 contra 4.201. E representam um crescimento de 79% em relação ao acumulado em 2015. Os números, dizem especialistas, podem refletir o aperto dos cintos diante da crise econômica, que levou mais de 12 milhões de brasileiros ao desemprego. Mais propensos a consertar produtos do que trocá-los por novos, os consumidores têm se deparado com serviços ineficientes, caros e demorados.
Odisseia com geladeira
A paulista Elenice Ribeiro, de 32 anos, conta que levou três vezes sua televisão Philco à assistência técnica, sem que o problema fosse resolvido:
— Com seis meses a TV apresentou o primeiro defeito, um risco na tela. Tive que levar até a assistência, o que foi um transtorno, além de dispendioso. Dois meses, apareceu outro e quando liguei para reclamar disseram que estava fora da garantia. Não aceitei a alegação, porque televisão é um bem durável. Não ia perder o produto com menos de um ano de uso — contou Elenice, que depois de escrever a esta seção e ameaçar ir à Justiça conseguiu o reembolso do valor pago pelo produto.
O consultor de engenharia Morvan Vianna, de 68 anos, se queixa que a assistência da LG, na Tijuca, reteve por duas semanas seu micro-ondas, que passou a desligar sozinho, para no fim alegar que não tinha defeito, apesar do mau funcionamento:
— Saí muito insatisfeito, já estava fora da garantia, mas achei que teria conserto. Agora a autorizada fechou. Ou seja, nem tenho onde levar.
Em carta à “Defesa do Consumidor”, Sandra Cristina Garcia Portella também se queixa do serviço prestado pela rede autorizada da Electrolux, que realizou o “conserto” da sua geladeira. Segundo ela, o técnico informou que seria preciso fazer um carga de gás e trocar uma peça que estava com vazamento, além do “isopor” do freezer que estava encharcado de água. O serviço, conta, custou R$ 590.
A recomendação era deixar a geladeira fechada por dias. No entanto, Sandra conta que no mesmo dia percebeu que ela não estava funcionando. Foram dias sem geladeira, até que o mesmo técnico retornou e constatou que, dessa vez, o compressor havia queimado. Sandra conta ter entrado em contato com o SAC da Electrolux, mas que, passada uma semana, ainda não tinha sido sequer contatada.
Prática abusiva
Para a coordenadora de Atendimento do Procon-SP, Renata Reis, os fabricantes têm se mostrado incapazes de entregar o serviço que foi contratado quando o consumidor precisa recorrer à assistência técnica:
— São muitos os relatos de consumidores de que os produtos saem das assistências técnicas piores do que entraram. O que mostra que falta treinamento à rede para garantir um serviço mais eficiente e mais rápido.
Para Fernanda Vilela Oliveira, coordenadora de Sanções Administrativas da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), os fabricantes precisam investir em inteligência no pós-venda:
— Os produtos precisam ter rastreabilidade, e é preciso usar de inteligência de dados para gerir peças, coletar os itens. Avançamos tanto em tecnologia, mas nesse ponto não caminhamos.
Fernanda chama atenção ainda para o fato de que a crise econômica também tem efeito sobre o abastecimento de peças da rede por fabricantes:
— Se os recursos estão curtos, a empresa reduz o envio de peças à assistência técnica e concentra na produção. E com isso os problemas vão se multiplicando.
Algumas situações, diz a coordenadora do Procon-SP, podem ser caracterizadas como prática abusiva. É o caso, diz, da negativa de assistência da Microsoft para o conserto do Xbox de Alessandro Soares da Silva, comprado nos EUA. Sabendo que o console está fora da garantia, ele ligou para a empresa para pedir uma indicação de rede para conserto:
— No SAC me sugeriram procurar indicações para o conserto em grupo degamers . E admitiram que esse era um problema crônico da Microsoft e que iriam relatar novamente à matriz nos EUA. É absurdo!
Segundo Renata, não há razão para negar uma rede de assistência a um produto que a empresa vende no Brasil.
— É uma prática abusiva, com certeza — confirma.
O que dizem as empresas
A Britânia/Philco não respondeu à reclamação de Elenice nem ao pedido de informação dos repórteres sobre o caso.
Já a LG Electronics do Brasil admite que o conserto pode demorar devido ao fato de muitas das peças de reposição serem produzidas em outros países e importadas, por conta de atrasos envolvendo transporte ou liberação na alfândega.
A Microsoft diz trabalhar ativamente para oferecer o melhor suporte aos consumidores brasileiros, mas admite que, no caso dos consoles comprados no exterior, após o período de garantia, não há atendimento na rede de assistência técnica, mesmo mediante pagamento.
Em resposta à reclamação de Sandra, a Electrolux informou que a autorizada já havia pedido as peças faltantes para finalizar o reparo sem custo adicional. A empresa diz que sempre deixa “à disposição nossos canais de atendimento, por telefone, e-mail e canais digitais oficiais, todos disponíveis em nosso site institucional, onde o consumidor pode detalhar qual o problema, solicitando visita técnica ou reportar outras situações”.
Fonte: O Globo Online - 12/10/2019
Notícias
- 27/11/2024 68,1 milhões de consumidores estavam inadimplentes em outubro
- Inflação já é uma realidade
- Bancos pressionam governo por revisão do teto de juros do empréstimo consignado do INSS
- Black Friday 2024: veja quais são os direitos do consumidor para a data
- Gastos do Bolsa Família aumentaram 47,1% em 2023, aponta IBGE
- TJDFT mantém indenização por cobranças indevidas e assédio telefônico a consumidor
- Um em cada três proprietários de imóveis enfrenta dificuldades para definir preço de venda ou aluguel
Perguntas e Respostas
- Quanto tempo o nome fica cadastrado no SPC, SERASA e SCPC?
- A consulta ao SPC, SERASA ou SCPC é gratuita?
- Saiba quais os bens não podem ser penhorados para pagar dívidas
- Após quantos dias de atraso o credor pode inserir o nome do consumidor no SPC ou SERASA?
- Protesto de dívida prescrita é ilegal e dá direito a indenização por danos morais
- Como consultar SPC, SERASA ou SCPC?
- ACORDO - Em caso de acordo, após o pagamento da primeira parcela o credor é obrigado a tirar o nome do devedor dos cadastros de SPC e SERASA ou pode mantê-lo cadastrado até o pagamento da última parcela?
- CHEQUE – Não encontro à pessoa para qual passei um cheque que voltou por falta de fundos. O que posso fazer para pagar este cheque e regularizar minha situação?
- Problemas com dívidas? Dicas para você não entrar em desespero
- PROTESTO - Qual o prazo para o protesto de um cheque, nota promissória ou duplicata? O protesto renova o prazo de prescrição ou de inscrição no SPC e SERASA?
- O que o consumidor pode fazer quando seu nome continua incluído na SERASA ou no SPC após o pagamento de uma dívida ou depois de 5 anos?
- Cartão de Crédito: Procedimentos em caso de perda, roubo ou clonagem
- Posso ser preso por dívidas ?
- SPC e SERASA, como saber se seu nome está inscrito?
- Acordo – Paga a primeira parcela nome deve ser excluído dos cadastros negativos (SPC, SERASA, etc)