Bancos sobem tarifas acima da inflação e fintechs cobram taxas em contas grátis, diz Idec
Publicado em 05/07/2019 , por Luisa Marini
Estudo revela que nos últimos dois anos os grandes bancos aumentaram 14%, em média, o preço das cestas de serviços de conta corrente; nas fintechs, alguns serviços têm taxas maiores que as cobradas por bancos tradicionais
Apesar do cenário de maior competição com as chamadas fintechs - startups do setor financeiro -, os grandes bancos têm aumentando tarifas bancárias muito acima da inflação, revela estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Por outro lado, esses novos bancos digitais também falham com os consumidores porque muitas vezes não são transparentes e impõem taxas mesmo sob o slogan "sem tarifas".
O estudo obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast identificou que em dois anos - entre abril de 2017 e março de 2019 - os grandes bancos elevaram em média em 14% o preço das cestas de serviços de conta corrente. As tarifas por serviços específicos tiveram aumento médio de 12%. Nesse período, a inflação foi de 7,5%. Os dois anos estudados pelo Idec coincidem com a entrada de fintechs e bancos digitais no mercado brasileiro.
Nas tarifas avulsas, o maior ajuste foi o de pagamento de conta no cartão de crédito do Banco do Brasil, que subiu 89%. Dos 20 principais serviços mais utilizados pelos consumidores, a maioria dos bancos reajustou mais da metade dos serviços acima da inflação. No total, foram encontrados 50 serviços com reajustes entre 10% e 89%. A tarifa de retirada no cartão de crédito sofreu reajuste de 69% na Caixa Econômica e 60% no Bradesco. A compra e venda de câmbio do Santander saltou 50%.
Nos pacotes, o maior reajuste foi registrado pelo Bradesco, no chamado Classic 2, que teve variação de 50% em dois anos. O pacote que apresentou menor reajuste foi o Personalizado I do BB, que subiu 14%, ainda assim quase o dobro da inflação. Caixa, Itaú Unibanco e Santander também tiveram cestas de serviços com aumento acima da inflação.
A economista responsável pela pesquisa, Ione Amorim, acredita que, em resposta à entrada dos bancos digitais, os tradicionais estão fazendo fusões com fintechs para criar um braço digital em vez de reduzir taxas para concorrer diretamente com os novos nomes. Como exemplo, ela cita o Next, lançado pelo Bradesco para o público jovem.
Além disso, o Santander havia adquirido 50% do ContaSuper em 2015, integrou o banco virtual e mudou o nome para Superdigital e o Itaú que lançou o iti, plataforma aberta de pagamentos digitais, que estará disponível no terceiro trimestre.
Nem tudo é grátis nas fintechs
Do lado das fintechs, porém, nem tudo são flores. O estudo também aponta que a publicidade oferecida pelos novos bancos com o slogan "sem tarifas" não é bem assim. No caso da Nubank, há cobrança de R$ 6,50 para saques nos terminais 24 horas, enquanto as tarifas de bancos tradicionais variam entre R$ 2,05 e R$ 2,60. O Agibank cobra, além de anuidade de R$ 4,99, tarifa de R$ 12,99 para emissão de cartão físico e R$ 9,90 para emitir segunda via. Os valores são bem superiores aos praticados pelos grandes bancos tradicionais.
A economista alerta para a falta de transparência das novas instituições e pelo incentivo ao consumo. "Nesse quesito, os bancos digitais podem se equiparar aos tradicionais", diz Ione. Ela acredita que a entrada de novos nomes e o ambiente mais competitivo são saudáveis para o mercado financeiro, mas é preciso ficar atento a promessas falsas. "Os bancos digitais repetem a falta de transparência na comunicação dos preços", afirma.
Assim como nos bancos tradicionais, os digitais também condicionam gratuidade de serviços a um consumo mínimo, o que vai em linha com o que é praticado por grandes bancos. "Alguns oferecem isenção ou descontos em certas tarifas caso o cliente gaste uma determinada quantia ou faça um certo número de operações com o cartão do banco. Esse é um vício do sistema bancário tradicional reproduzido pelos bancos digitais que é danoso ao consumidor, pois pode levar ao endividamento", explica.
Ainda assim, a profissional acredita que há espaço para bancos e fintechs no mercado. "No caso dos bancos tradicionais, é necessário revisar os custos dos serviços. Para os bancos virtuais, o desafio é crescer e aumentar a transparência."
Outro lado
Em nota, o Itaú afirmou que o reajuste realizado "leva em consideração a inflação, custos operacionais e características de cada um dos pacotes ofertados". "O Itaú reitera seu posicionamento de manter preços competitivos no mercado", cita a nota.
O Santander explica que o reajuste das tarifas segue "a inflação medida desde a última alteração de preço, além de serem ajustadas às condições do mercado".
O Bradesco disse que dispõe de amplo portfólio de cestas de serviços e, por isso, no momento de escolha do pacote, é importante o cliente levar em conta o perfil de consumo.
Banco do Brasil e Caixa não responderam até o fechamento desta reportagem.
O Nubank explica que a cobrança da tarifa é destinada a cobrir custos como transporte e segurança do dinheiro, aluguel do espaço para os caixas eletrônicos, bem como os custos operacionais internos para viabilizar esta nova função. "Neste momento, o Nubank entendeu que repassar este custo em forma de tarifa para as pessoas que efetivamente utilizam o serviço é a única forma de disponibilizá-lo sem limitar ou passar a cobrar por outras funções que julgamos ser mais importantes a longo prazo para todos os clientes", disse a empresa.
O Agibank informa que tarifas e pacotes de serviços são disponibilizadas para os clientes em todos os seus canais: site, aplicativo, pontos físicos e central de atendimento. Na instituição, os clientes podem utilizar pacotes gratuitos que incluem até quatro boletos, quatro transferências entre bancos e transferências ilimitadas entre contas Agibank, 4 saques por mês, 2 saques em Lotéricas ao mês e pagamento para um contato ou grupo de pessoas ilimitado. "Quando exceder o pacote, o cliente passa a ter acesso aos serviços extras com valores reduzidos", aponta o banco em nota.
Fonte: Estadão - 04/07/2019
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