Quase 40% dos jovens já tiveram ou têm o nome sujo
Publicado em 07/05/2019 , por Renato Jakitas
Brasileiros no início da vida adulta sofrem com desemprego maior e falta de educação financeira; apesar de terem de ajudar nas despesas domésticas e gastarem com educação e alimentação, grande parte se endivida para adquirir bens de consumo
No segundo ano da faculdade de Administração Pública, Samira Ferreira, de 21 anos, aprendeu de um jeito dolorido o que é déficit. Hoje, sua dívida pessoal soma R$ 50 mil, metade com o banco, outra parte com a instituição de ensino.
“Minha dívida cresce para que eu possa estudar”, diz ela, que está com o nome sujo e não sabe o que fazer para resolver a situação. “Tenho de me concentrar em uma coisa por vez, mas espero que isso não me prejudique lá na frente.”
A situação de Samira não é muito diferente de parte de seus amigos. Histórias que, agora, ganham contornos por meio de um levantamento inédito feito pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo birô de crédito SPC Brasil. As instituições mapearam a situação financeira dos brasileiros entre 18 e 24 anos, que dão os primeiros passos profissionais.
Atualmente, 4 entre 10 jovens estão ou já estiveram com o nome sujo. O principal motivo é a necessidade de contribuir com as despesas domésticas, associado ao descontrole com as finanças pessoais.
Dos entrevistados, 78% possuem alguma fonte de renda, sendo que 65% afirmam contribuir financeiramente para o sustento da casa. O principal comprometimento é com a alimentação (51%). A pesquisa ouviu 801 jovens, entre homens e mulheres de todo o Brasil, de 20 de fevereiro a 6 de março.
O endividamento da moçada não é muito diferente do resto dos brasileiros mais velhos, já que 40% da população total do País terminou 2018 endividada, segundo a CNDL. Mas é mais preocupante, pois indica que as gerações mais novas não vêm sendo educadas financeiramente – e o problema tende a persistir. “É necessário realizar algum tipo de política pública para aumentar a educação financeira dessa população”, diz Daniel Sakamoto, gerente de projetos da CNDL.
Desemprego
Pelo fato de o estudo ter sido o primeiro a ser realizado com esse corte de faixa etária, é difícil inferir o impacto da crise econômica nessa população. Ou do desemprego, que chega a 30% entre os jovens, ante 13% da população geral. “Não há parâmetros de comparação, mas com certeza as famílias enfrentam agora alto desemprego e gargalo de consumo”, diz. “Exatamente por isso, o jovem precisa contribuir mais com as contas de casa, o que aumentou o problema.”
Samira, por exemplo, toma emprestado R$ 7 mil por semestre da instituição de ensino, como parte do programa de bolsa de estudos. É com esse valor que ela paga o aluguel da república na qual mora (R$ 650 por mês), cobre os gastos com alimentação, transporte e, de vez em quando, ajuda os pais, que moram em São José dos Campos (SP). “Estudo em período integral e não consigo trabalhar, faço apenas alguns bicos durante as férias”, diz. No fim de semana antes do feriado de 1.º de maio, ela trabalhou na sorveteria do pai de uma amiga em Ubatuba para conseguir um dinheiro extra. “Minha família precisa de mim, tenho de ajudar.”
Para Guilherme Prado, presidente da Bem Gasto, projeto de educação financeira nascido no Insper, além de trabalharem para completar o orçamento doméstico, os jovens entram no mundo adulto sem referências de como e onde gerenciar os novos recursos. “O descontrole financeiro dos jovens é, no momento, um grande problema nacional e sem atenção devida das autoridades”, afirma Prado. Segundo ele, o objetivo inicial da Bem Gasto era atender às comunidades carentes com técnicas de planejamento financeiro. “Neste ano, por conta da realidade que encontramos em nossas caminhadas pelo Brasil, resolvemos redirecionar a atuação para os jovens, justamente entre 18 e 24 anos”, afirma.
Para ele, falar de dinheiro é um tabu dentro de casa. “Os pais não dizem quanto ganham nem para seus companheiros”, diz ele. “Quando o filho começa a trabalhar, não faz a menor ideia do que fazer com o dinheiro. Só sabe que quer comprar um celular e trocar de tênis.”
Dados da pesquisa mostram que, entre as dívidas de longo prazo, 26% dos jovens que se declaram endividados estão comprometidos com pagamentos de crediários e carnês, 21% têm parte do orçamento destinado à amortização de empréstimos pessoais e consignados e outros 21% tentam quitar as parcelas de financiamento para automóveis. “O que identificamos é que, com a crise, eles precisam ajudar em casa e acabam se enrolando com esses gastos de longo prazo”, afirma Sakamoto.
Fonte: Estadão - 06/05/2019
Notícias
- 29/11/2024 Mercado Pago registra crescimento de 43% nas transações parceladas na pré-Black Friday
- Dólar fecha o dia cotado a R$ 5,98 após mercado reprovar o pacote fiscal do governo
- 13º salário: parcela única ou 1ª parte devem ser pagas até hoje; veja o que fazer se não recebeu
- Dólar fecha o dia cotado a R$ 5,98 após mercado reprovar o pacote fiscal do governo
- Isenção de IR até R$ 5 mil: meu salário vai aumentar? Alíquota vai subir? Veja o que se sabe
- Programa Pé-de-Meia será incorporado ao orçamento federal em 2026
Perguntas e Respostas
- Quanto tempo o nome fica cadastrado no SPC, SERASA e SCPC?
- A consulta ao SPC, SERASA ou SCPC é gratuita?
- Saiba quais os bens não podem ser penhorados para pagar dívidas
- Após quantos dias de atraso o credor pode inserir o nome do consumidor no SPC ou SERASA?
- Protesto de dívida prescrita é ilegal e dá direito a indenização por danos morais
- Como consultar SPC, SERASA ou SCPC?
- ACORDO - Em caso de acordo, após o pagamento da primeira parcela o credor é obrigado a tirar o nome do devedor dos cadastros de SPC e SERASA ou pode mantê-lo cadastrado até o pagamento da última parcela?
- CHEQUE – Não encontro à pessoa para qual passei um cheque que voltou por falta de fundos. O que posso fazer para pagar este cheque e regularizar minha situação?
- Problemas com dívidas? Dicas para você não entrar em desespero
- PROTESTO - Qual o prazo para o protesto de um cheque, nota promissória ou duplicata? O protesto renova o prazo de prescrição ou de inscrição no SPC e SERASA?
- O que o consumidor pode fazer quando seu nome continua incluído na SERASA ou no SPC após o pagamento de uma dívida ou depois de 5 anos?
- Cartão de Crédito: Procedimentos em caso de perda, roubo ou clonagem
- Posso ser preso por dívidas ?
- SPC e SERASA, como saber se seu nome está inscrito?
- Acordo – Paga a primeira parcela nome deve ser excluído dos cadastros negativos (SPC, SERASA, etc)