Alimente-se melhor, com menos dinheiro
Publicado em 23/04/2019 , por Marcia Dessen
Prepare sua comida e guarde o dinheiro poupado; mais saúde, poupança maior
Paulo é taxista, trabalha em um ponto perto da minha casa. Preocupado, comentou que não sabe ao certo o que está acontecendo, mas está faltando dinheiro. Perguntei a ele se achava que faltava dinheiro porque estava ganhando menos ou gastando mais.
Ele não soube responder. Não sabe quanto ganha, em média, com as corridas que faz nas mais de dez horas de serviço diário. Quanto gasta? Também não sabe, tentando lembrar de cabeça as despesas mais frequentes e habituais.
Era fim de mês, faltavam dois dias para começar um mês novo, ótimo momento para pôr em prática um novo hábito, o de anotar, todo santo dia, quanto ganha e quanto gasta. A experiência seria feita por um mês, ao fim do qual ele teria uma noção razoável do que estava acontecendo com seu dinheiro.
De um lado ele anotará o valor das corridas, única fonte de renda dele. Do outro, as despesas, que recomendei fossem separadas em duas: pessoais e do carro. Assim, ele saberá quanto gasta, com o quê, primeiro passo para avaliar onde é possível reduzir ou cortar. Ele gostou da ideia e parecia decidido a colocar a sugestão em prática.
Duas semanas mais tarde, fiz uma nova corrida com ele. Mostrou-me o caderninho que comprou, agora seu companheiro de bordo, com as anotações que começou a fazer. Descobriu que estava gastando muito com alimentação fora de casa.
O ponto de táxi fica ao lado de uma padaria. Ah, uma padaria... tão conveniente, comida pronta, trabalho nenhum, só pedir e comer. Pois é, mas essa conveniência toda tem um preço. As anotações no caderninho revelaram que ele estava gastando cerca de R$ 50 por dia na padaria, com café da manhã, almoço e jantar.
Tratou de multiplicar por 30 dias e se espantou ao perceber que deixava R$ 1.500 ao mês no caixa da padaria. Estava convencido de que poderia reduzir bastante essa despesa se passasse a cozinhar em casa, coisa que gosta de fazer, e substituir a padaria por uma boa e saudável marmita, com custo médio diário estimado em R$ 15.
Foi o que ele fez. Cerca de um mês mais tarde nos encontramos novamente e ele estava muito animado.
Todo dia coloca na gaveta de casa os R$ 35 poupados com alimentação. Uma vez por semana, vai ao banco depositar na poupança.
Ele mesmo fez as contas e me contou que consegue guardar R$ 1.050 por mês, R$ 12.600 por ano.
Dinheiro suficiente para tirar férias, coisa que ele nunca conseguia fazer, ir ao dentista para um tratamento que vinha sendo adiado por falta de grana, além de uma pequena reserva para os meses de movimento mais fracos.
Outro Paulo, muito mais confiante, duplamente feliz. Estava comendo melhor, comida que ele mesmo preparava aos sábados, suficiente para a semana. Tinha redescoberto o prazer de cozinhar e sabia que a mudança de hábito havia beneficiado dois aspectos muito importantes: a saúde e as finanças.
E pensar que tudo começou com uma dica que ele, atento, ouviu e abraçou. Sabia que tinha um problema e estava aberto e decidido a fazer alguma coisa para melhorar a situação.
As anotações no caderninho foram aprimoradas, e agora ele sabe quanto ganha como taxista, depois de pagar as despesas do carro, entre elas a diária da cooperativa, combustível e licenças.
Trocou receitas comigo, voltou a comer frutas e fica contente quando consulta o extrato da poupança e vê o saldo crescendo, recompensando um esforço que nem foi tão grande, no caso dele. Ele soube, muito bem, unir o útil ao agradável.
Quando paguei a corrida, o valor foi imediatamente anotado no caderninho. Fiquei feliz de ver que o controle se transformou em hábito.
Fonte: Folha Online - 22/04/2019
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