Melhora da nota do Brasil dependerá de qual reforma da Previdência será aprovada, diz Fitch
Publicado em 04/12/2018 , por Fernanda Nunes e Vinicius Neder
Definição da nota, no entanto, dependerá do modelo de reforma aprovado pelo Congresso
A agência de classificação de risco Fitch Rating poderá rever a nota brasileira, fixada em BB- em fevereiro deste ano, caso o novo governo consiga aprovar reformas no Congresso, principalmente, a da Previdência. A definição da nota, no entanto, não dependerá exclusivamente da aprovação, mas do modelo de reforma que sair da discussão entre os parlamentares.
"Em havendo a passagem das reformas, olharemos no que essas reformas impactam na trajetória fiscal do Brasil no longo prazo. Nossa preocupação é com a sustentabilidade da dívida no médio e longo prazos", afirmou o presidente da agência no Brasil, Rafael Guedes, após participar de evento promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro.
Segundo Guedes, a reforma da Previdência é a mais importante, mas outras, como a tributária, também são importantes. Para mexer na nota do Brasil e sinalizar ao investidor de que o cenário de aposta no País melhorou, "dependerá de qual Reforma da Previdência será aprovada", acrescentou ele. O modelo de capitalização, por exemplo, possui um custo muito alto para as contas públicas num momento em que, em sua opinião, o Brasil não teria como arcar. "Teria que ter uma série de ajuste para abrir espaço fiscal", afirmou.
O viés de estabilidade da nota definida pela Fitch ao Brasil em fevereiro deste ano indicaria que o rating do País não deve ser alterado num prazo de 18 a 24 anos. Porém, a sinalização de redução dos gastos pode interferir nessa decisão, segundo Guedes. "Havendo uma inflexão e tão mais rápido seja essa queda do endividamento, os analistas podem se sentir confortáveis a dar uma boa notícia de aumento da nota do Brasil", acrescentou.
Política americana continuará fortalecendo o dólar
O cenário atual da economia global, com crescimento econômico acima do potencial, marcado por mudanças na política monetária americana e no elevado déficit fiscal da maior economia do mundo, sugerem o fortalecimento do dólar nos próximos anos, afirmou Rafael Guedes. O movimento é negativo para economias emergentes, como o Brasil.
"As políticas americanas continuarão fortalecendo o dólar. O fortalecimento do dólar é uma notícia ruim para mercados emergentes", afirmou Guedes.
Apesar disso, o Brasil tem algumas vantagens, na comparação com outras economias emergentes, para o caso de enfrentar uma piora nas condições da economia global. Guedes destacou as expectativas de inflação ancoradas pela política monetária, o fato de o endividamento público, apesar de relativamente elevado, ser mais concentrado no mercado local, e o regime cambial flexível, que permitiria "reagir rapidamente" a eventual crise.
"A dívida de mercado do Brasil é relativamente grande, mas o risco é de médio para baixo porque a dívida é eminentemente local", disse Guedes.
Além disso, segundo o executivo, o passivo dos bancos brasileiros em moeda estrangeira é baixo. No setor bancário, se há algum risco para o Brasil, seria na exposição dos bancos às empresas.
Congresso fragmentado
Guedes ainda destacou a estratégia do novo governo de negociação com parlamentares como um dos principais desafios a serem enfrentados pela equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro, a partir do ano que vem.
Ele destacou a vitória "convincente" do novo presidente sobre o PT, durante as eleições. Porém, lembrou que o Congresso eleito é mais fragmentado, do ponto de vista partidário, do que o atual. "A agenda proposta vai testar novo estilo de negociação com o Congresso e o apoio do Congresso ao Executivo", afirmou.
Ainda assim, acredita, a oposição não será capaz de bloquear reformas. "A expectativa é que a agenda (de Bolsonaro) seja pró-mercado. Se implementada, vai agradar e levar a um crescimento mais robusto", complementou.
Entre os dados que serão avaliados na hora da Fitch definir uma possível alteração do rating do Brasil a partir do ano que vem, o executivo elencou a avaliação da coesão da equipe de Bolsonaro, a independência do Banco Central, a estratégia de aprovação de reformas, a redução do déficit fiscal e a redução da dívida econômica. Além disso, destacou medidas microeconômicas que deverão ser adotadas para reduzir o desemprego.
A Fitch revisou a nota do Brasil para BB- no dia 23 de fevereiro deste ano. "Foi a primeira vez em vários anos em que a perspectiva passou a estável. Significa que existe uma possibilidade maior que 50% de que nos próximos 18 a 24 meses a nota não seja alterada", disse Guedes.
Entre os fatores que pesam negativamente sobre a avaliação da economia brasileira, Guedes citou a "inércia continuada na reforma fiscal", além da "deterioração nas condições de acesso ao refinanciamento da dívida" e a "erosão do colchão de reservas e nas contas externas".
Fonte: Estadão - 03/12/2018
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