Com queda dos juros, taxas corroem rentabilidade dos planos de previdência
Publicado em 08/08/2017 , por Malena Oliveira
Levantamento do 'Estado' mostra que 1 em 4 fundos de previdência em renda fixa renderam abaixo do CDI no 1º semestre
A queda da Selic, a taxa básica de juros, já começou a espremer a rentabilidade de aplicações financeiras, incluindo a dos fundos de previdência. O momento, porém, pode favorecer o investidor na busca por aplicações com tarifas mais atrativas.
Os planos ou fundos de previdência privada são aplicações financeiras oferecidas por bancos e seguradoras para poupar dinheiro para a aposentadoria. São eles o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL), Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), Fundo de Aposentadoria Programada Individual (Fapi) e fundos de pensão – estes ofertados por empresas a seus funcionários. Cada modalidade tem benefícios distintos, como abatimento no Imposto de Renda (IR) ou facilidade maior para planejar a transmissão de recursos a herdeiros.
No primeiro semestre, um em cada quatro fundos de previdência que aplicam em renda fixa tiveram um rendimento abaixo do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), taxa que baliza investimentos conservadores. O levantamento foi feito pelo Estado com base nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), consolidados até o dia 9 de junho. Considerando o CDI acumulado no ano até a mesma data – que foi de 5,04% –, a rentabilidade de 125 entre 491 fundos desse tipo ficou abaixo da marca. Entre os multimercados, que têm mais liberdade para aplicar recursos inclusive no exterior, o desempenho desde o início do ano foi ligeiramente melhor: de 551 fundos analisados, 104 não bateram o CDI – cerca de 19%.
No universo dos fundos, a taxa de administração é paga sobre o total de recursos aplicados e acaba corroendo parte dos rendimentos da aplicação. “Conforme a rentabilidade cai, essa taxa vai ficando mais pesada”, explica Mauro Calil, consultor de investimentos do banco Ourinvest.
Comparação. No levantamento feito pela reportagem, por exemplo, há fundos de previdência de renda fixa que cobram taxa acima de 2% e que renderam abaixo de 3% no período (o resultado já traz a tarifa descontada). No caso dos multimercados, essa taxa é geralmente mais alta por conta da promessa de um resultado melhor. Mesmo assim, há fundos nessa categoria em que os mesmos 3% de rendimento foram entregues a taxas de administração entre 3% e 5%.
Além da taxa de administração, alguns fundos também possuem taxas de carregamento, cobradas a cada aporte feito. Esse é outro custo que deve ser levado em conta nas aplicações.
A possibilidade de portar recursos entre fundos de um mesmo banco ou seguradora, ou ainda de migrar para outras instituições, facilita a busca por tarifas mais favoráveis.
É preciso, porém, avaliar condições além da rentabilidade e dos custos. “No caso de planos muito antigos, migrar pode não valer a pena por conta das características desses produtos. Eles podem oferecer, em um prazo mais longo, um retorno maior do que planos mais novos. A conversão em renda vitalícia também pode ter um critério mais favorável”, explica José Faria Junior, planejador financeiro certificado pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros Planejar.
É necessário ainda atentar ao tipo de aplicação e ao regime de tributação do plano. “Não é possível sair de um regime regressivo para um progressivo, ou vice-versa. Também não é possível trocar um PGBL por um VGBL”, diz Calil.
Idade. Para quem pensa em sair dos planos de previdência, Faria Junior diz que a idade do investidor é uma questão central. “Quem é jovem geralmente está disposto a arriscar mais em troca de uma rentabilidade maior. Daí é possível pensar em outros investimentos, tanto em renda fixa quanto em renda variável”, diz. O planejador recomenda mesclar inclusive aplicações em diferentes tipos de previdência privada para usufruir de seus diferentes benefícios.
Porém, quem já tem algum patrimônio acumulado deve colocar na ponta do lápis os custos, tanto de sacar quanto de manter o dinheiro aplicado. “Não vale a pena resgatar tudo pensando apenas na queda dos juros. Assim, como também não vale seguir pagando altas taxas de administração por um rendimento que não vem sendo atrativo em um período mais longo. Cada caso tem de ser analisado à parte”, diz Faria Junior.
Fonte: Estadão - 07/08/2017
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