Servidor aposentado mora em abrigo
Publicado em 07/08/2017 , por Douglas Gravas e Fábio Grellet
Com vencimentos atrasados, radiologista aposentado vende todos os seus bens, inclusive anel de formatura. Sem alternativa, acabou sem casa para morar
Alguns Estados, como o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, têm sido vistos por economistas como o futuro do País, caso a equação da dívida fiscal do governo Federal não seja resolvida.
O caso mais emblemático é o do Rio. Como os atrasos e parcelamentos de salários, é fácil encontrar histórias como a do servidor público aposentado Gilson Alves, de 69 anos. Ele se emociona ao falar do anel de formatura, que teve de vender para comprar comida. Com a aposentadoria atrasada, depois de trabalhar 35 anos como radiologista no Hospital do Servidor, ele se viu sem recursos para pagar o aluguel, teve de vender móveis e se mudou para um abrigo da prefeitura, no qual mora há dois meses.
“Estou muito magoado. Lá em casa, nunca sobrou muito, mas dava para viver. Há um ano, tudo mudou. A gente trabalha tanto a vida inteira e não pode contar com o mínimo. É só ligar a televisão e ouvir notícias de corrupção.”
Ele conta que, logo que saiu de casa, teve de dormir na rua, pois as vagas nos abrigos ficaram ainda mais disputadas com a crise. “Com o pouco dinheiro que sobrou, comprei um celular para manter contato com os amigos, que me mandam mantimentos e produtos de higiene pessoal quando podem. O básico não me falta, só sinto ter perdido a dignidade junto com a minha casa. O meu caso é simbólico, mas só de conversar com qualquer carioca, dá para sentir que aquele cenário até a Olimpíada era uma ilusão.”
Na última quinta-feira, a Secretaria de Fazenda do Rio disse ter quitado a última parcela dos vencimentos de maio para 64.130 servidores ativos, inativos e pensionistas que têm salário líquido mensal de até R$ 1.550. O total depositado foi de R$ 28,4 milhões. Para os servidores com salários e aposentadorias maiores, os depósitos da última parcela de maio serão anunciados posteriormente.
“A crise do Estado agravou muito a situação da população de rua. Vários postos de trabalho foram fechados, é uma situação de calamidade”, diz Teresa Bergher, secretária de Desenvolvimento Social do município.
A situação de penúria dos funcionários públicos também se reflete nos demais setores da sociedade. Formado eletricista por um curso técnico, Edmilson Silva de Deus, de 48 anos, está à procura de emprego para encerrar o ciclo de quase um ano morando nas ruas. “Aqui, a gente não dorme direito, não come direito, tem medo”, diz.
“Às vezes, passa gente distribuindo comida, mas não é todo dia. Então a gente busca no lixo”, afirma.
Fonte: Estadão - 07/08/2017
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