Juro deve cair ao menor nível em 4 anos, mas analistas veem risco
Publicado em 27/07/2017 , por FLAVIA LIMA
A Selic, a taxa básica de juros, deve ser reduzida nesta quarta (26) para um dígito e atingir seu menor nível em quatro anos. Economistas, no entanto, sinalizam que o movimento pode não ser duradouro e o BC tenha de voltar a elevar a taxa em 2018.
Não seria a primeira vez que o alívio na política monetária permaneceria por pouco tempo. No fim de 2012, os juros chegaram ao piso histórico —7,25%, em outubro—, mas voltaram a subir no início do ano seguinte, como aumento da pressão inflacionária.
Desta vez, é consenso entre economistas que inflação abaixo do centro da meta, câmbio comportado e fraca atividade econômica conspiram para que o juro siga em queda nos próximos meses.
A trajetória, no entanto, pode ser revertida, caso as reformas no campo fiscal não saiam do papel ou o bom humor do investidor externo com o Brasil se arrefeça.
A percepção é que a reforma da Previdência seria crucial para colocar a trajetória da dívida pública sob controle, mas, abandonada, levaria o real a se desvalorizar, o que contaminaria a inflação e pressionaria os juros.
Uma mudança no cenário de liquidez externa teria efeito parecido, com saída de recursos do país, pressão sobre o câmbio e efeito nos preços.
Por enquanto, a expectativa é que o corte seja de um ponto percentual nesta quarta, reduzindo a Selic de 10,25% para 9,25% ao ano, menor nível desde agosto de 2013.
Também não está excluída a hipótese de os juros se aproximarem de 7% no fim de 2017, um recorde de baixa.
RISCO POLÍTICO
Mas o risco político em 2018 pode levar a uma depreciação do real, conjuntura que faria o BC ter de voltar a elevar a Selic, diz André Duarte, da gestora de recursos Truxt.
"A alta da Selic não é o nosso cenário-base, nem tampouco pode ser descartada no próximo ano", diz Duarte, que contempla taxa de juro de 7,75% ao longo de 2018.
Na mesma linha, Fernando Rocha, da JGP, não desconsidera que as eleições possam trazer maior volatilidade e valorização do dólar, forçando a alta do juro. Por enquanto, mantém perspectiva de taxa em 7,5% em 2017 e em 2018.
O Votorantim já prevê Selic em 9% em 2018, após encerrar 2017 em 8%.
Carlos Lopes, economista da banco, diz que o juro em 8% serve como estímulo à atividade ainda muito fraca. Diante da aceleração do crescimento em 2018, será necessário normalizar os juros para não pressionar a inflação.
O Votorantim espera alta de 0,5% para o PIB deste ano e de 2,4% para 2018.
Lopes diz que a reforma da Previdência poderia abrir espaço para a economia crescer um pouco mais sem pressionar a inflação, mas não conta com a aprovação.
Para o BTG Pactual, as incertezas políticas não impedem, como se chegou a imaginar, um corte maior do juro no curto prazo.
O banco revisou suas projeções e agora espera que a Selic encerre o ano não mais em 8,5%, mas em 8%.
A equipe liderada pelo ex-diretor do BC Eduardo Loyo diz que o adiamento da reforma da Previdência eleva o risco de que o Copom tenha de voltar atrás em algum ponto no futuro, ainda que não especifique em que momento.
Em relatório, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore espera que a Selic chegue ao fim de 2017 em 7,5%, mas aponta dois riscos ao cenário: mudança no quadro internacional e agravamento da crise política doméstica, levando a uma piora no quadro do ajuste fiscal.
A alta do risco levaria a uma queda nos ingressos de capitais, depreciando o real, com efeitos inflacionários.
Fonte: Folha Online - 26/07/2017
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