Google é multado em quase R$ 9 bi na Europa por favorecer serviço próprio
Publicado em 28/06/2017 , por DIOGO BERCITO
O Google recebeu a multa recorde de € 2,4 bilhões (R$ 8,9 bilhões, pela cotação atual) da União Europeia acusado de favorecer ilegalmente seu mecanismo de comparação de preços de produtos.
A decisão marca a primeira vez que uma importante autoridade regulatória mundial pune a empresa americana pelo modo como ela opera, o que pode abrir precedente para novos casos.
Segundo as autoridades europeias, que iniciaram as investigações em 2010, o Google foi mudando a sua procura de tal modo que os principais concorrentes só começavam a aparecer, em média, apenas na quarta página com os resultados da busca.
Enquanto isso, os produtos pesquisados pelo Google Shopping (como é conhecido o mecanismo) apareciam sempre no alto da primeira página das buscas.
Aparecer no topo é muito relevante nessa disputa. Segundo a UE, os dez primeiros links na primeira página da busca recebem 95% dos cliques dos usuários. Quem está na segunda página leva 1%.
O resultado dessa estratégia, segundo as autoridades europeias, é que o Google domina 90% desse mercado no bloco formado por 31 países.
No Reino Unido, por exemplo, o Google Shopping cresceu 45 vezes desde 2008. Na Alemanha, ele é 34 vezes maior que há nove anos.
O serviço é uma fonte de receita para o Google, já que o anunciante tem que pagar por cada clique que recebe. Assim, se um usuário procurar um celular pela busca da empresa e clicar no produto de uma das lojas sugeridas pelo Google, caberá a esse lojista pagar um valor à empresa.
Esse fluxo de visitas é essencial para várias empresas que, diferentemente do Google, são especializadas apenas nesse tipo de serviço.
"O Google abusou de seu domínio no mercado como mecanismo de busca ao promover seu próprio serviço nas buscas e minimizar os de competidores", disse Margrethe Vestager, comissária da UE responsável pela investigação.
Agora a gigante americana tem 90 dias para interromper as práticas consideradas irregulares e um prazo de três meses para pagar os € 2,4 bilhões. É possível apelar a cortes europeias, mas a multa seguirá em vigor até que haja uma decisão contrária.
Caso o Google não cumpra a decisão, terá que pagar novas multas de até 5% de sua receita diária -algo em torno de US$ 12 milhões.
O valor de € 2,4 bilhões foi calculado, de acordo com o "Financial Times", com base em até 30% do faturamento do Google Shopping multiplicado pelos anos em que houve a irregularidade. A multa poderia chegar no máximo a 10% da receita da companhia americana, ou € 9 bilhões.
Como o Google tem US$ 90 bilhões em caixa, o impacto da multa é pequeno nas operações da empresa americana. Mais importante é se novas punições se seguirão (outros serviços estão sendo investigados pela Europa, como mapas e preços de viagens) e se terá que mudar drasticamente o modo como opera, o que pode ter efeito importante na sua receita.
O Google é acusado, em outro caso, de utilizar seu sistema operacional Android para prejudicar rivais. É esperado que a Comissão Europeia (braço executivo da União Europeia) mantenha a linha dura também nessa acusação. Além disso, o serviço de publicidade on-line AdSense também é investigado.
OUTRO LADO
Procurado, o Google não quis comentar a acusação. Mas a empresa encaminhou uma nota oficial de Kent Walker, conselheiro-geral.
"Quando você faz compras na internet, quer encontrar os produtos de maneira rápida e fácil", escreveu Walker. "Milhares de empresas europeias usam companhias anúncios para competir com empresas maiores, como a Amazon e o eBay."
"Quando você usa o Google para procurar por produtos, nós tentamos mostrar aquilo que você está buscando. Nossa habilidade de fazer isso bem não nos favorece ou a nenhum site ou vendedor em particular. É o resultado do trabalho duro e da constante inovação."
"Nós discordamos de maneira respeitosa das conclusões anunciadas hoje [terça]. Vamos revisar a decisão da comissão em detalhe enquanto consideramos nosso recurso", diz a nota.
Batalhas do Google
ABRIL DE 2015 as autoridades antitruste da Europa acusaram o Google de favorecer alguns dos seus próprios serviços de pesquisa ligados a compras on-line
ABRIL DE 2016 as autoridades antitruste da região apresentaram acusações contra o Android, alegando que o Google exigia injustamente que os fabricantes de celulares pré-instalassem seus serviços e oferecesse aos fabricantes incentivos financeiros inadequados para favorecer os produtos do Google.
JULHO DE 2016 o órgão de controle da concorrência europeu disse que o Google abusou da sua posição dominante ao oferecer algumas de suas ferramentas de publicidade on-line como parte dos serviços de pesquisa em sites de terceiros.
OUTRO LADO Google nega qualquer irregularidade nos casos. Ele diz que os consumidores podem usar livremente produtos alternativos de pesquisa on-line, os rivais são bem-vindos para oferecer seus próprios serviços digitais que competem diretamente com os do Google e os fabricantes de smartphones não são obrigados a usar seus serviços digitais com o Android
Fonte: Estadão - 27/06/2017
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