Seu filho consome aquilo que você é
Publicado em 04/04/2017 , por Samy Dana
O debate sobre publicidade infantil sempre é tema de muita polêmica justamente pelo potencial que as crianças têm nas decisões de compra dos adultos. Para anunciantes, por exemplo, o mercado de crianças até 3 anos de idade é avaliado em torno de US$ 20 bilhões, de acordo com informações do livro "Brandwashed - O lado oculto do marketing". No entanto, não são somente as propagandas óbvias ou tentações na altura dos olhos das crianças em lojas e supermercados que fazem delas alvos tão preciosos para as marcas.
Aliás, as crianças já são visadas antes mesmo de virem ao mundo. De um modo geral, grávidas e seus bebês são a galinha dos ovos de ouro para profissionais de marketing. Conforme o próprio livro aponta, muitas de nossas lembranças olfativas e auditivas do início da vida ficam enraizadas de tal forma em nosso cérebro que podem resistir até mesmo a acidentes que provocam danos cerebrais mais sérios, como amnésia. A psicoterapeuta Marie-France Archambault, em parceria com a empresa International Flavors and Fragances (IFF), desenvolveu um trabalho em que pacientes com danos cerebrais graves eram capazes de resgatar memórias antigas através de cheiros sintetizados.
O auxílio na recuperação desses pacientes é um bom exemplo de uso deste tipo de conhecimento. Em contrapartida, ciente dessa nossa habilidade em registrar sons e cheiros, a indústria adota estratégias para atingir grávidas - tendo em vista que o objetivo não é somente fidelizar aquela mulher, mas também criar um consumidor cativo que está ainda em processo de gestação.
O livro cita, por exemplo, um shopping asiático que espalhava talco em lojas de roupas infantis, colocava aroma de cereja em praças de alimentação e tocava músicas suaves que evocavam memórias antigas das gestantes. A tática foi feita para atingir as grávidas, mas acabou gerando um efeito surpresa. Depois de aproximadamente um ano dessas experiências sensoriais, as mães escreveram cartas para a administração da rede, dizendo que o shopping tinha um efeito "mágico" sobre as crianças. Assim que entravam no local, os bebês ficavam calmos, mesmo quando chegavam muito agitados. Pelos relatos das mães, essa mudança de comportamento nos bebês não acontecia em outros ambientes.
Além disso, os hábitos alimentares das gestantes influenciam os gostos dos bebês até na fase adulta. Estudo feito pela Escola de Medicina de Harvard, com 1.044 duplas de mães e filhos, mostrou que os filhos de mulheres que engordam acima do esperado durante a gestação tinham quatro vezes mais chances de ficarem obesos na primeira infância. De forma complementar, um estudo feito na Escola de Medicina da Universidade do Colorado mostrou que a dieta da mãe sensibiliza o feto a cheiros e sabores, assim como transforma o cérebro e influencia o que o bebê vai consumir no futuro.
Nas Filipinas, uma marca chamada Kopiko se preparou para o lançamento de um café e detinha as informações acima. O produto lançado no mercado era um café com aroma de um chocolate que a mesma marca distribuía gratuitamente em consultórios pediátricos e maternidades. Além do sabor do chocolate ter agradado aos adultos, muitas mães consultadas pela marca respondiam que a bebida produzia uma espécie de efeito calmante quando os bebês consumiam uma pequena dose. Com menos de três anos de lançamento, o produto chegou ao patamar de terceiro café mais vendido nas Filipinas.
As influências que determinam o que consumimos podem estar muito mais escondidas do que imaginamos. Ainda que seja impossível blindar nossas crianças e a nós mesmos de todas as abordagens do marketing, ter ciência de que nossos hábitos interferem tão profundamente na formação das crianças é importante para que estejamos mais alertas a respeito do que consumimos. Uma alimentação saudável e equilibrada na gestação, por exemplo, pode contribuir para um futuro adulto avesso a redes de fast food e alimentos processados.
Fonte: G1 - 02/04/2017
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