BC sinaliza que pode acelerar queda do juro
Publicado em 03/03/2017
Ata da última reunião do Copom indica que, diante das expectativas para inflação e ociosidade da economia, Selic pode sofrer redução maior
O Banco Central (BC) indicou que pode acelerar o ritmo de queda da taxa de juros, segundo ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta quinta-feira.
"Os membros do Comitê reafirmaram o entendimento de que, com expectativas de inflação ancoradas, projeções de inflação na meta para 2018 e marginalmente abaixo da meta para 2017, e elevado grau de ociosidade na economia, o cenário básico do Copom prescreve antecipação do ciclo de distensão da política monetária", informou pelo documento.
Essa extensão, no entanto, foi ponderada por alguns membros do Copom pela ata, porque ela "poderá ser revisada também em função do grau de antecipação do ciclo", segundo a ata, na qual ressaltou a importância das reformas fiscais, com destaque para a da Previdência, para redução da taxa de juros estrutural.
Na semana passada, o BC reduziu a Selic em 0,75 ponto porcentual pela segunda vez seguida, a 12,25% ao ano, diante de perda de força da inflação. Também deixou a porta aberta para acelerar o ritmo de redução ao pontuar que esse movimento dependerá não só da extensão do ciclo, mas da evolução da atividade econômica, dos fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação.
"A ata passa uma mensagem positiva de flexibilização monetária, com quadro de antecipação do ciclo de acordo com o desempenho das expectativas ancoradas, do choque dos alimentos e da ociosidade", afirmou o economista-sênior do banco Haitong, Flávio Serrano, acrescentando que sua previsão para abril continuava de corte de 0,75 ponto porcentual da Selic, mas a evolução de alguns fatores, especialmente a ociosidade industrial, podem mudá-la para 1 ponto.
Liberdade. A ata mostrou ainda que todos os membros do colegiado "manifestaram preferência por manter maior grau de liberdade quanto às decisões futuras", sendo que a "condição fundamental" para qualquer investida é que seja compatível com a manutenção das projeções de inflação na meta e com a ancoragem das expectativas de inflação.
Nesse sentido, o BC defendeu ainda que um ambiente com expectativas ancoradas lhe permite direcionar o foco para evitar possíveis efeitos secundários de ajustes de preços relativos, incluindo o choque de oferta favorável nos preços de alimentos.
"O Copom entende que deve buscar identificar os efeitos primários desse choque de oferta, aos quais a política monetária não deve reagir, levando em conta as condições de demanda no setor", afirmou.
A previsão do BC é de inflação a cerca de 4,2% em 2017 no cenário de mercado e de alta do IPCA a 4,5% no ano seguinte. Também voltou a ressaltar que esses cenários consideram a hipótese de que a Selic alcance 9,5% e 9% ao final de 2017 e 2018, respectivamente.
Em pesquisa Focus mais recente, conduzida pelo BC com mais de uma centena de economistas, a expectativa para a taxa de juros ao fim de 2017 caiu a 9,25%, sobre 9,50% antes. Para o ano que vem, seguiu em 9,0%.
Já a estimativa para a alta do IPCA foi reduzida a 4,36% neste ano e mantida em 4,50% em 2018. A meta oficial é de 4,5% para os dois anos, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
A ata mostrou ainda que continuará reavaliando suas estimativas da taxa estrutural de juros ao longo do tempo, repetindo a mensagem de que a duração do ciclo de queda nos juros vai depender desses cálculos. Também reconheceu que essa dimensão "produz mudanças menos frequentes e mais estruturais para a política monetária".
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, avaliou que o BC pavimentou o caminho para reduzir a Selic em 0,75 ponto em sua próxima reunião, em abril, ao destacar na ata a convergência da inflação para a meta neste ano e no próximo. Para ele, corte maior de 1 ponto poderá vir a reboque da divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016, na próxima semana.
Fonte: Estadão - 02/03/2017
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