Chega de serviços caros e ineficientes
Publicado em 16/02/2017 , por Thais Herédia
O setor de serviços amargou perdas intensas nos dois últimos anos, mas não perdeu importância na composição da economia brasileira. Ele continua respondendo por quase 70% do PIB e segue como maior empregador do país. Entre 2014 e agora aumentou bastante a distância entre os consumidores e os prestadores de serviços. Afinal, quem não promoveu cortes de restaurantes, salão de beleza, internet, curso de idioma, viagens, financiamentos e tantos outros itens da enorme cesta que abriga os serviços?
O excesso de demanda a partir dos anos 2000, somado ao esgotamento da mão de obra disponível, fez os preços dos serviços dispararem. Tanto assim que a inflação do setor anda bem acima do índice oficial, o IPCA, há uma década. A alta nos preços dos serviços também está entre as maiores preocupações do Banco Central porque ela é mais resistente aos juros e demanda mais persistência no aperto. Demorou, mas o efeito atingiu seu ápice e a inflação está cedendo com maior intensidade.
Para se ajustar à recessão e à queda brutal dos negócios, os empresários e empreendedores tiveram que cortar na carne. O fechamento de vagas de trabalho foi o mais violento da economia com quase 400 mil empregos formais eliminados em 2016. Em seguida vieram comércio, indústria e construção civil, responsáveis pelos outros 900 mil postos com carteira assinada fechados no ano passado.
Assim como aconteceu no comércio, muita gente não aguentou o tranco da recessão e fechou as portas, ou pior, foi para informalidade prestando serviços “por fora”. Quem conseguiu se manter foi porque foi capaz de fazer ajustes, cortes e alguma inovação sem comprometer a saúde do negócio. Quem está de pé na saída do poço certamente está mais produtivo e mais barato.
Consumidores e prestadores de serviços precisam se reencontrar e tudo indica que isso vai acontecer em 2017. O brasileiro que assimilou todo conforto, comodidade e modernidade dos serviços não vai mais abrir mão disto – nem deve. Os serviços são o futuro das economias e o Brasil está entre os países onde eles mais crescem. A diferença entre nós e o resto do mundo está no preço e na competitividade. Ainda somos caros e ineficientes, mesmo para o público interno.
E isto vale desde a manicure – mesmo com a melhor fama do planeta – até os serviços prestados pelos bancos. A mão de obra que se encaixava em qualquer posto, mesmo sem qualificação, perdeu valor e terá que ser precificada sob a perspectiva de um país que não tem mais dinheiro sobrando na carteira. Será um duro aprendizado, mas absolutamente necessário.
Na bonança, quando todos queriam tudo, o preço não importava. E a má qualidade foi assimilada com o velho “no Brasil é assim mesmo, mas pelo menos a gente tem”. De agora em diante não devemos mais aceitar esta fórmula. Nenhum dos lados do balcão pode se contentar com a má qualidade e o alto custo. A recuperação do setor, que deve terminar o ano com estabilidade, prescinde dessa exigência.
Fonte: G1 - 15/02/2017
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