Risco de Temer salvar aliados preocupa, diz banqueiro
Publicado em 13/02/2017 , por JOANA CUNHA
As recentes reviravoltas no governo do presidente Michel Temer para indicar Alexandre de Moraes ao STF, nomear Moreira Franco ministro da Secretaria-Geral e emplacar Edison Lobão na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado alertaram o mercado, segundo um dos principais assessores financeiros do país.
Ricardo Lacerda, fundador e presidente do banco de investimento BR Partners, diz que "há um temor de que o governo use seu capital político para livrar a cara de aliados em vez de aprovar reformas".
E prevê risco de novas manifestações. "Muitos dos que foram às ruas lutar contra a corrupção estão perplexos com essas nomeações."
Folha - A economia entra numa nova etapa, mas ainda há incertezas políticas. O que prevê?
Ricardo Lacerda - A economia se estabilizou e começa lentamente a mostrar recuperação. A reconquista da credibilidade na política monetária do Banco Central permitirá uma forte redução nos juros ao longo de 2017. A confiança dos empresários e consumidores vai aumentar e isso trará de volta o crescimento. Não acho que a economia vai bombar a ponto de salvar a política do buraco, mas as coisas estão no caminho certo.
A Lava Jato mudou o jeito de fazer negócio? Como ela influencia a visão do investidor?
Ela acabou com a percepção de completa impunidade que sempre existiu no país. Expôs a bandalheira de empresários próximos do poder com políticos corruptos e mandou vários deles pra cadeia. Antes da Lava Jato bastava ser rico pra ter status. Agora a sociedade cobra atitude ética dos empresários. Mas, pra mudar de fato a forma de fazer negócio no Brasil, é preciso reduzir o tamanho do Estado, em duas frentes: um programa agressivo de privatização de estatais e um plano para reduzir a burocracia e o controle do Estado sobre a iniciativa privada. Só isso pode reduzir corrupção e atrair investimento.
Como avalia o governo hoje?
Esse governo acertou na equipe econômica e tem grande capacidade de articulação política no Congresso. São vantagens sobre o anterior. Mas há limitações para um governo de transição, sem apoio popular, obrigado a lotear cargos e refém de políticos suspeitos.
Como avalia ajuste fiscal?
A atual equipe econômica tem as melhores cabeças para definir o ajuste que o país precisa. A aprovação da PEC do Teto foi importantíssima e mudou a percepção da solvência do Estado. O próximo desafio é a reforma da Previdência. A dúvida é o que efetivamente sairá daquilo que está tramitando no Congresso. Esse governo não tem uma agenda absolutamente transparente, mas com vitórias tão contundentes nas presidências da Câmara e Senado, cresceu seu cacife para aprovar reformas. Diante da dificuldade em gerar superavit fiscais no atual quadro econômico, a reforma da Previdência é crucial.
Quando vamos resgatar protagonismo e confiança?
Houve enorme decepção com o último ciclo de investimentos. Primeiro, porque o crescimento não veio. Segundo, porque o governo Dilma tinha mentalidade contrária à iniciativa privada. Terceiro, porque com a crise econômica veio a política, que escancarou a fragilidade das instituições, esfrangalhadas pelo apagão moral que acometeu Brasília. Destruiu-se muita riqueza no Brasil nos últimos cinco anos. Investidor machucado demorará a voltar. Mas somos uma grande economia, daremos a volta por cima.
Como a indicação de Alexandre Moraes ao STF, Edison Lobão na CCJ e o ministério de Moreira Franco comprometem a confiança do mercado?
Há um temor que o governo use seu capital político para livrar a cara de aliados em vez de aprovar reformas. Há também o risco de voltarmos a ver manifestações. Muitos dos que foram às ruas lutar contra a corrupção estão perplexos com essas nomeações.
Como está o apetite dos investidores estrangeiros por empresas brasileiras?
O apetite continua alto, mas há muita cautela ao negociar. Após muitos anos, estamos ouvindo novamente investidores mencionando preocupação com o cenário político ou econômico na hora de comprar ativos no país. Vi alguns até desistindo de olhar oportunidades em razão disso. Mas creio que tudo se normalize com a iminente retomada do crescimento.
O sr. acredita na retomada dos IPOs? Os investidores estão dispostos a pagar bem?
Acho que veremos alguns IPOs neste ano. Ninguém comprará Brasil sem fazer a lição de casa, sem olhar retornos. O ciclo será de mais cautela do que o de 2004 a 2007 ou o de 2009 a 2013.
O que espera das concessões?
Exceto pelos aeroportos, em que parece haver grande interesse, creio que teremos dificuldades. O governo precisa criar um modelo de concessões com o intuito de atrair capital privado, principalmente o estrangeiro. Quando o investidor olha o Brasil, vê tudo confuso, burocrático. Parece que estamos fazendo favor de deixar o investidor colocar seu dinheiro aqui.
RAIO-X
RICARDO LACERDA
IDADE
48 anos
CARREIRA
Sócio-fundador do banco de investimento BR Partners, ex-presidente do Goldman Sachs no Brasil e do Citigroup na America Latina
FORMAÇÃO
mestre em finanças pela Universidade Columbia (EUA)
Fonte: Folha Online - 11/02/2017
Notícias
- 27/11/2024 68,1 milhões de consumidores estavam inadimplentes em outubro
- Inflação já é uma realidade
- Bancos pressionam governo por revisão do teto de juros do empréstimo consignado do INSS
- Black Friday 2024: veja quais são os direitos do consumidor para a data
- Gastos do Bolsa Família aumentaram 47,1% em 2023, aponta IBGE
- TJDFT mantém indenização por cobranças indevidas e assédio telefônico a consumidor
- Um em cada três proprietários de imóveis enfrenta dificuldades para definir preço de venda ou aluguel
Perguntas e Respostas
- Quanto tempo o nome fica cadastrado no SPC, SERASA e SCPC?
- A consulta ao SPC, SERASA ou SCPC é gratuita?
- Saiba quais os bens não podem ser penhorados para pagar dívidas
- Após quantos dias de atraso o credor pode inserir o nome do consumidor no SPC ou SERASA?
- Protesto de dívida prescrita é ilegal e dá direito a indenização por danos morais
- Como consultar SPC, SERASA ou SCPC?
- ACORDO - Em caso de acordo, após o pagamento da primeira parcela o credor é obrigado a tirar o nome do devedor dos cadastros de SPC e SERASA ou pode mantê-lo cadastrado até o pagamento da última parcela?
- CHEQUE – Não encontro à pessoa para qual passei um cheque que voltou por falta de fundos. O que posso fazer para pagar este cheque e regularizar minha situação?
- Problemas com dívidas? Dicas para você não entrar em desespero
- PROTESTO - Qual o prazo para o protesto de um cheque, nota promissória ou duplicata? O protesto renova o prazo de prescrição ou de inscrição no SPC e SERASA?
- O que o consumidor pode fazer quando seu nome continua incluído na SERASA ou no SPC após o pagamento de uma dívida ou depois de 5 anos?
- Cartão de Crédito: Procedimentos em caso de perda, roubo ou clonagem
- Posso ser preso por dívidas ?
- SPC e SERASA, como saber se seu nome está inscrito?
- Acordo – Paga a primeira parcela nome deve ser excluído dos cadastros negativos (SPC, SERASA, etc)