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Morre Doyle Owens, homem que transformou mala perdida em negócio
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Morre Doyle Owens, homem que transformou mala perdida em negócio

Publicado em 13/12/2016 , por RICHARD SANDOMIR

Doyle Owens, que transformou as malas perdidas por passageiros e jamais solicitadas no Centro de Bagagem Extraviada, uma grande atração turística e comercial em Scottsboro, Alabama, morreu em 3 de dezembro em sua casa naquela cidade, aos 85 anos.

A morte foi confirmada por seu filho, Bryan.

Owens criou o seu negócio com base no pesadelo dos viajantes: não encontrar sua mala, mochila ou pacote na esteira de bagagens do aeroporto, enquanto os demais passageiros saem alegremente com as malas nas mãos.

"Você nunca sabe o que vai encontrar nessas malas até abri-las", disse Owens em 1978. "É como comprar um porco no escuro".

Cerca de um milhão de visitantes vão ao Centro de Bagagem Extraviada a cada ano e percorrem seus quase 4.000 metros quadrados para vasculhar bagagem que jamais foi reclamada pelos proprietários originais.

Owens era vendedor de seguros em 1970 quando um amigo que trabalhava para a Trailways, uma companhia de ônibus, falou a ele sobre o depósito de bagagem não reclamada que a empresa tinha em Washington. Owens ficou curioso, pegou uma picape emprestada e comprou as malas extraviadas por US$ 300.

"Parecíamos a família de Jed Clampett na viagem de volta de Washington ao Alabama", Owens contou em entrevista ao neto Benjamin, gravada quatro anos atrás.

Ele e a mulher, Mollie Sue, alugaram uma casa, montaram mesas e colocaram o conteúdo das malas à venda, liquidando o estoque inteiro no primeiro dia, ele recordou na entrevista. O sucesso acelerou suas compras: ele comprou bagagens extraviadas de outras companhias de ônibus e começou a expandir suas ambições às empresas de aviação, que tinham muito mais bagagem a extraviar.

A perda de pertences confiados a uma companhia de aviação há muito serve de tema a cartas zangadas e monólogos de humor, como o de Rhod Gilbert, que chegou à Austrália e encontrou só a alça de sua mala na esteira de bagagem. Perguntado por um funcionário da companhia de aviação se "alguma coisa pode ter interferido com ela", ele respondeu que "bem, essa hipótese certamente não pode ser descartada".

  Joe Buglewicz/The New York Times  
The Unclaimed Baggage Center (Centro de Bagagem Extraviada) em Scottsboro, Alabama

The Unclaimed Baggage Center (Centro de Bagagem Extraviada) em Scottsboro, Alabama

 As companhias de aviação estão melhorando no que tange a encontrar bagagem perdida. De acordo com o Departamento do Transporte dos Estados Unidos, uma média de 2,75 por mil passageiros reportaram problemas com sua bagagem nos nove primeiros meses de 2016 —o que representa cerca de um terço da proporção que prevalecia 10 anos atrás.

A tecnologia de rastreamento vem ampliando a capacidade das companhias de aviação para encontrar e devolver bagagens perdidas. Mas muitos passageiros ainda aterrissam sem suas roupas e produtos pessoais, e vivem na esperança de que sejam encontrados rapidamente.

Bagagem cujos proprietários não sejam localizados muito provavelmente ressurgirá em Scottsboro, uma cidadezinha no nordeste do Alabama talvez mais conhecida pela condenação indevida de nove adolescentes negros —conhecidos como "os meninos de Scottsboro"— acusados de estuprar duas mulheres brancas em 1931.

A cada dia, pelo menos 5.000 novos itens são acrescentados às prateleiras da loja, trazidos dos grandes aeroportos do país em carretas. As mercadorias passam por uma triagem comercial: os funcionários decidem o que será vendido, doado ou descartado.

Muitos dos itens que são colocados à venda consistem em sapatos, eletrônicos, joias e roupas que passam por lavagem a seco no local. Eles são vendidos com descontos de entre 20% e 80% ante seus preços regulares de varejo. Muitos laptops são vendidos por entre US$ 200 e US$ 400; vestidos de noiva variam de US$ 75 a algumas centenas de dólares.

"É a engenhosidade norte-americana", disse Brett Snyder, responsável pelo blog de viagens Cranky Flyer, sobre a loja. "Encontrar oportunidade em um nicho de mercado e colocá-la em uso".

As bagagens propiciaram surpresas, ao longo dos anos, como uma armadura, uma cascavel viva, uma lápide, uma pele de cobra, uma esmeralda de 42 quilates e artefatos egípcios datando de 1.500 AC.

"Tende a ser como uma escavação arqueológica", disse Bryan Owens. "É uma amostra de como as pessoas vivem as suas vidas, por meio de seus objetos pessoais".

O pai dele não teria imaginado que à medida que as companhias de aviação começaram a cobrar taxas cada vez mais caras pelo embarque de bagagens, as pessoas passariam a transportar como bagagem de mão parcela maior de suas posses, entre as quais eletrônicos fáceis de perder, como celulares ou tablets.

"Muitos de nossos produtos vem da cabine", ele disse.

  Joe Buglewicz/The New York Times  
Compradores na Unclaimed Baggage Center em Scottsboro, Alabama

Compradores na Unclaimed Baggage Center em Scottsboro, Alabama

Hugo Doyle Owens nasceu em 6 de julho de 1931 em Fyffe, Alabama. O pai dele, Oliver, e sua mãe, Geórgia, eram donos de uma loja que vendia comida e eletrodomésticos, aproveitando a eletrificação crescente das comunidades agrícolas locais.

Quando estava no segundo grau, Owens jogou futebol americano, como running back, e passou dois anos na Universidade Estadual de Jacksonville antes de servir na força aérea.

Ele se aposentou em 1995, depois que ele, sua mulher e seu filho mais novo, Mark, venderam a Bryan suas ações na empresa.

Owens deixa dois filhos e três netos. Sua mulher morreu no ano passado.

Ele não se afastou completamente da loja depois da aposentadoria, e muitas vezes recebia os consumidores e contava histórias do passado no café da empresa. Em novembro, ele participou da liquidação anual de esquis da loja, um dos grandes eventos de vendas do ano, para a companhia.

"Eu ligava sempre para ele", disse Bryan Owens, "e ele dizia 'você não imagina quem eu encontrei', e era alguém de Bowling Green. E meu pai logo sabia tudo sobre a vida da pessoa".

Fonte: Folha Online - 12/12/2016

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