Consumidor foge de financiamentos
Publicado em 21/11/2016 , por Maeli Prado
Com medo do desemprego, o consumidor está fugindo de financiamentos e partindo para operações de crédito que não envolvem pagamento de juros.
É esse o cenário mostrado por dados de agosto divulgados neste mês pelo Banco Central: juntas, as operações no cartão de crédito parceladas sem juros e à vista somaram R$ 62,9 bilhões, alta de 11,6% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Elas já representam 42,3% dos novos empréstimos pessoais totais, percentual que era de 39,4% em agosto de 2015. Os números do BC, que englobam essas duas operações em uma categoria (cartão de crédito à vista e cartão parcelado sem juros), ainda mostram ela foi a única a ter crescimento acima da inflação oficial quando a base de comparação é agosto do ano passado. A variação de preços no período foi de 8,7%.
"Há uma reversão do que ocorreu há 15 anos, quando as pessoas estavam sedentas por crédito. Hoje, o pensamento é: aquilo que dá para comprar, pago à vista ou no parcelado sem juros", afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
Os novos empréstimos de cheque especial, por exemplo, subiram somente 2,8% em relação ao ano passado, segundo o BC. O cartão de crédito rotativo caiu 4,9% no período, e o montante gasto no cartão de crédito parcelado com juros recuou 18,6%.
Os números da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços confirmam a tendência de aumento das modalidades sem juros.
Além do crescimento no cartão à vista e parcelado sem incidência de juros, a entidade registrou aumento de 13% nas transações com cartão de débito no primeiro semestre.
GASTOS
"O brasileiro está usando o cartão de uma forma melhor, mais consciente", afirma Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs.
"Essa cautela fica clara no tíquete médio, que está menor por causa da crise econômica, mas também por causa de um comportamento mais cuidadoso."
O valor médio gasto pelo consumidor no cartão de crédito à vista, segundo a associação, caiu de R$ 47,7 no primeiro semestre do ano passado para R$ 43,6 no mesmo período deste ano.
Na mesma comparação, o tíquete médio do cartão parcelado sem juros, que era de R$ 217,2 no ano passado, recuou para R$ 203,1 neste ano. No caso do cartão de débito, a queda no valor foi de R$ 39,7, em média, para R$ 37,1.
Famílias buscam educação financeira
Há quatro meses, a vendedora Carolina Fischer, 28 anos, decidiu procurar ajuda profissional para planejar sua vida financeira. "Estava preocupada por que não conseguia guardar dinheiro, por falta de organização", afirma.
Ela se matriculou em um curso de educação financeira e levou junto o marido, o também vendedor Celso Alves, 33 anos. O curso foi realizado em um sábado, em São Paulo, onde moram, durante o dia inteiro, com outras 30 pessoas.
Lá, receberam orientações de como gastar de forma consciente, e não fazer compras por impulso. Também aprenderam que é preciso ter metas para poupar.
"Foi importante para mudar a nossa mentalidade em relação ao dinheiro. Ficamos extremamente motivados e já estamos conseguindo poupar cerca de 20% da nossa renda", diz a vendedora, cujo objetivo é comprar uma casa.
Como eles, outras famílias estão buscando orientação para lidar melhor com as finanças. Profissionais do setor têm notado um aumento deste segmento nos últimos anos. Segundo a empresa de educação financeira DSOP, esse público aumentou 20% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2015.
"Muitas dessas pessoas estão endividadas e sofreram queda na renda", afirma Reinado Domingos, presidente da DSOP e da Associação Brasileira de Educadores Financeiros.
Para o planejador financeiro Fabiano Calil, em época de crise é comum que famílias busquem orientação por causa das incertezas em relação ao futuro. "Além disso, percebemos que gerações diferentes começam a buscar relações mais transparentes no que se refere às finanças", diz Calil, que já atendeu grupos de até 30 pessoas, incluindo avós, pais, filhos e netos.
Segundo o educador financeiro Vinicius Azambuja, da empresa Novi, o planejamento financeiro dá mais resultado quando envolve toda a família. "Tem que ter sinergia e transparência para funcionar, porque não adianta um construir e o outro destruir."
Os preços para fazer um curso ou receber orientação de um planejador financeiro variam conforme o prazo, o número de pessoas, o prestador de serviço e a complexidade de cada caso. Uma consulta com planejador pode custar a partir de R$ 300.
ENDIVIDAMENTO
"Muita gente ainda está pagando o que tomou de empréstimo lá atrás", lembra Reinaldo Domingos, fundador da escola de educação financeira DSOP. "As pessoas estão com medo de se endividarem ainda mais."
Ele lembra que, mesmo que o consumidor opte pelo parcelamento sem juros ou mesmo pelo cartão de crédito à vista para fazer suas compras, deve fazer um acompanhamento cuidadoso.
"No caso do cartão de crédito à vista, o consumidor ganha alguns dias para pagar, o que é positivo, mas não pode esquecer de se programar. Quanto maior o prazo, maior o risco de se embananar", explica Domingos.
O educador financeiro destaca ainda que muitas lojas acabam embutindo nas parcelas o custo do financiamento, mesmo que o parcelamento dos produtos seja anunciado como sendo sem a incidência de juros.
Especialistas em finanças afirmam que a ideia não é ficar sem comprar nada, especialmente no fim do ano, com a chegada do Natal. O que não pode, porém, é comprar sem pesquisar e sem ter certeza de que será possível pagar. Todos são unânimes: antes de fechar a compra, procure por um preço melhor e avalie as finanças.
Fonte: Jornal da Cidade - jcnet.com.br - 20/11/2016
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