Alex Campos: Crédito é uma coisa, o resto é dívida
Publicado em 07/11/2016 , por Alex Campos
Cartão é uma arma que estimula o cliente a atirar primeiro e só pensar nas consequências depois
Rio - Crédito é o empréstimo que você consegue pagar. Dívida é o empréstimo que você não consegue pagar. Ou seja: crédito é uma coisa... o resto e dívida! Essa é uma pequena diferença semântica que pode fazer uma grande diferença financeira. Por isso, em alguns casos, não pergunte o que você quer da vida, pergunte se você pode pagar.
Excessos, encargos, abusos
Pesquisas estão sempre mostrando que as famílias brasileiras usam e abusam do crédito que vira dívida. Periodicamente, números de federações ou confederações do comércio e de entidades privadas de gestão financeira apontam que pelo menos metade dessas pessoas está endividada — e esse endividamento é correspondente à metade da renda familiar.
Há situações de inadimplência prolongada e persistente e há casos de calote mesmo, quando o devedor não tem mais como quitar. A maioria absoluta (entre 60% e 70%) está pendurada no cartão de crédito, justamente o pior dos recursos para quem precisa de socorro ou coisa parecida. Isso porque, no cartão, os juros são eternos campeões de excessos, encargos e abusos. O cartão é uma arma que estimula o cliente a atirar primeiro e só pensar nas consequências depois.
Por isso vale lembrar, repetir e insistir que existe, sim, dinheiro mais barato e menos perigoso. É possível encontrá-lo no penhor, no consignado ou no microcrédito. Pelo menos nesses três casos, as dívidas são pagáveis porque as taxas de juros são razoáveis. Transações comerciais ou financeiras, quando necessárias, podem ser bem-vindas e, quando bem-vindas, devem ser pagáveis, razoáveis, renováveis e renegociáveis. Essas não são boas dicas porque são novidades; essas são boas dicas porque são a coisa certa a fazer... sempre.
E aqui cabe uma boa e velha oração ou um bom e velho mantra a ser repetido toda manhã, ou toda a noite, ou toda a manhã e toda a noite: "Dívida não é dádiva da vida. Dádiva é vida sem dívida. Não duvide disso. Divida isso".
Adoram novelas, odeiam matemática
Se gostassem de fazer contas como gostam de ver novelas, brasileiros perderiam menos tempo e ganhariam mais dinheiro. O problema é que eles adoram novela e crediário, mas odeiam matemática. Milhões não se incomodam de levar meses para saber se vai ter beijo gay ou como vai acabar a mais cruel das vilãs dos folhetins, e também não se incomodam de levar um ano ou mais presas a contratos de crédito ou confissões de dívida.
Se a mesma rotina, paciência ou disciplina para torcer toda noite pelo casalzinho das 9 fosse aplicada para "juntar" dinheiro, haveria mais lares com finais e finanças felizes para sempre.
O drama ou a trama de R$ 300 bilhões
Parece não assombrar ninguém o drama ou a trama em que brasileiros pagam por ano R$ 300 bilhões somente em juros, de acordo com relatórios do Banco Central. O problema é entrar no financiamento primeiro para ver como pagar depois. Quem sonha com um carro de R$ 40 mil, por exemplo, pode esperar três anos e pagar à vista, sem financiamento. Ou pode assinar logo um contrato e passar três anos pagando quase o valor de dois carros (essa é a opção mais comum).
A favor do cliente, contra o cliente
No primeiro caso, o cliente vai precisar investir em um fundo de renda fixa R$ 1 mil por mês, com rendimento de 0,8% ao mês. Após três anos, lá estarão mais de R$ 40 mil — ou seja: 36 depósitos de R$ 1 mil, totalizando R$ 36 mil, mais uns R$ 6 mil de juros (a favor do cliente).
No segundo caso, o cliente decide financiar o carro, dando R$ 20 mil de entrada e ainda pagando mais de R$ 1 mil por mês, com juros compostos de 2% ao mês. No fim das contas e dos mesmos três anos, ele verá que gastou mais de R$ 70 mil — ou seja: R$ 20 mil de entrada, mais R$ 52 mil referentes a parcelas crescentes de juros sobre juros (agora contra o cliente).
O que a novela e o crediário não ensinam é que, primeiro, é preciso poupar e, somente depois, partir para o consumo. Assim como, primeiro, é preciso cuidar da saúde para, somente depois, queimar energia.
Bom domingo e boa sorte!
Fonte: O Dia Online - 06/11/2016
Notícias relacionadas
- Pesquisa Serasa aponta que 44% dos endividados apostaram em bets para pagar contas
- STF obriga o governo federal a impedir que Bolsa Família seja usado em apostas
- Recuperações judiciais de empresas aumentam no terceiro trimestre
- 6 dicas para utilizar o cartão de crédito de modo consciente
- Inadimplência entre os mais pobres chega a 37,7%, segundo CNC
- Banco é condenado por manter negativado nome de cliente após quitação de dívida
- Mais de 1,45 milhão de famílias assumiram dívidas nos últimos anos
- Por que a taxa de desemprego não reflete melhora na vida dos brasileiros?
- Black Friday sem fraude: veja como se proteger dos golpes na hora das compras
- Juiz suspende passaporte de mulher que deve R$ 150 mil e ostenta pelas redes sociais
Notícias
- 27/11/2024 68,1 milhões de consumidores estavam inadimplentes em outubro
- Inflação já é uma realidade
- Bancos pressionam governo por revisão do teto de juros do empréstimo consignado do INSS
- Black Friday 2024: veja quais são os direitos do consumidor para a data
- Gastos do Bolsa Família aumentaram 47,1% em 2023, aponta IBGE
- TJDFT mantém indenização por cobranças indevidas e assédio telefônico a consumidor
- Um em cada três proprietários de imóveis enfrenta dificuldades para definir preço de venda ou aluguel
Perguntas e Respostas
- Quanto tempo o nome fica cadastrado no SPC, SERASA e SCPC?
- A consulta ao SPC, SERASA ou SCPC é gratuita?
- Saiba quais os bens não podem ser penhorados para pagar dívidas
- Após quantos dias de atraso o credor pode inserir o nome do consumidor no SPC ou SERASA?
- Protesto de dívida prescrita é ilegal e dá direito a indenização por danos morais
- Como consultar SPC, SERASA ou SCPC?
- ACORDO - Em caso de acordo, após o pagamento da primeira parcela o credor é obrigado a tirar o nome do devedor dos cadastros de SPC e SERASA ou pode mantê-lo cadastrado até o pagamento da última parcela?
- CHEQUE – Não encontro à pessoa para qual passei um cheque que voltou por falta de fundos. O que posso fazer para pagar este cheque e regularizar minha situação?
- Problemas com dívidas? Dicas para você não entrar em desespero
- PROTESTO - Qual o prazo para o protesto de um cheque, nota promissória ou duplicata? O protesto renova o prazo de prescrição ou de inscrição no SPC e SERASA?
- O que o consumidor pode fazer quando seu nome continua incluído na SERASA ou no SPC após o pagamento de uma dívida ou depois de 5 anos?
- Cartão de Crédito: Procedimentos em caso de perda, roubo ou clonagem
- Posso ser preso por dívidas ?
- SPC e SERASA, como saber se seu nome está inscrito?
- Acordo – Paga a primeira parcela nome deve ser excluído dos cadastros negativos (SPC, SERASA, etc)