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Loja da Daslu do shopping JK Iguatemi recebe ordem de despejo imediato
Publicado em 21/10/2016
A Justiça determinou nesta segunda-feira (17) o despejo da loja Daslu no shopping de luxo JK Iguatemi, no Itaim, zona oeste de São Paulo. O mandado já foi expedido para cumprimento imediato da sentença.
A decisão é do juiz Rogério Sampaio, da 27ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo. A ação de despejo por falta de pagamento corre desde março. Estima-se que a dívida da loja –que no passado foi símbolo da elite paulistana– chegue a R$ 4 milhões.
No dia 12 de abril, o shopping chegou a fechar um acordo extrajudicial com a loja para que os pagamentos em atraso, que na época somavam cerca de R$ 2,5 milhões, fossem efetuados, evitando o despejo. O acordo, porém, foi descumprido.
A unidade da Daslu no shopping JK ocupava, no início do ano, 1.600 m². Durante a ação, ela foi reduzida para 300 m². O valor pago em aluguel não foi divulgado.
A Folha entrou em contato com a assessoria do JK Iguatemi, que afirmou não comentar nenhuma relação comercial com lojistas.
Em nota, a Daslu informou que o encerramento das atividades no shopping ocorre devido a irredutibilidade do mesmo nas negociações e seu baixo fluxo de clientes. A loja ainda informou que apresentará uma nova loja na capital paulista.
HISTÓRIA
A loja de luxo —que no passado foi considerada a mais tradicional de São Paulo– foi fundada há 59 anos pelas sócias Lucia Piva de Albuquerque e Lourdes Aranha.
Até o começo dos anos 80, ela comercializava apenas roupas e acessórios nacionais. Após a morte de Lucia, sua filha Luciana Tranchesi assumiu o negócio e propôs a expansão da empresa.
Com a nova direção, a loja virou grife própria e, a partir dos anos 90, começou a trabalhar com marcas de luxo importadas, após liberação desse tipo de produto pelo presidente Fernando Collor de Mello. Tranchesi foi para Europa e voltou com malas repletas de bolsas e sapatos famosos que caíram no gosto dos endinheirados paulistanos.
Em seu ápice da fama, a Daslu era conhecida como "templo de luxo" e ocupava uma área de mais de 15 mil m² em um prédio estilo neoclássico com colunas gregas na Vila Olímpia, ao lado de onde seria erguido o shopping JK Iguatemi, na zona oeste de São Paulo.
Em 2005, antes de ver seu império derrubado por uma série de escândalos, a loja de Tranchesi movimentava cerca de R$ 400 milhões em vendas ao ano, segundo especialistas ouvidos pela Folha, e empregava cerca de mil pessoas.
Entre elas, havia as "dasluzetes", vendedoras das lojas —muitas vezes vindas de famílias ricas— que recebiam até R$ 15 mil mensais, incluindo as comissões de roupas e acessórios cujos valores chegavam a ultrapassar os cinco dígitos.
Entre 75% e 80% das pessoas que iam à loja saíam pelo menos com uma sacola em mãos. Em um shopping comum, essa taxa varia entre 15% e 30%.
OPERAÇÃO NARCISO
O início da queda do império começou há 11 anos, no dia 13 de julho de 2005. Uma megaoperação da Polícia Federal, em parceria com a Receita levou à detenção de Tranchesi e seus sócios, todos suspeitos de importação irregular por meio de crimes de descaminho e sonegação fiscal. O esquema utilizaria empresas de fachada para subfaturar importações com o objetivo de sonegar impostos.
Nele, a Daslu era responsável por negociar a compra das mercadorias de luxo no exterior e encaminhá-las à importadora que falsificava documentos para subfaturar as mercadorias, pagando assim menores impostos.
Durante o processo, a defesa de Tranchesi afirmou que ela não era responsável pelas questões financeiras e administrativas da loja, e portanto desconhecia a fraude.
Em 2009, Tranchesi foi condenada pela juíza Maria Isabel de Praro, da 2ª Vara da Justiça Federal, em Guarulhos, a cumprir 94,5 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, descaminho tentado e consumado e falsidade ideológica.
Roberto Fakhouri Júnior (da importadora Kinsberg), André Beukers (Kinsberg), Rodrigo Nardy Figueiredo (Todos os Santos) e Christian Polo (By (Brasil), além de Celso de Lima, irmão de Tranchesi, também foram condenados na ação.
À época, Tranchesi enfrentava um câncer de pulmão e entrou com um recurso para recorrer da sentença. Ela chegou a ser presa no dia da condenação mas foi solta um dia depois. Tranchesi morreu em 2012 em decorrência do câncer. Ela respondia pelos processos em liberdade.
Com uma dívida próximo ao vencimento de R$ 80 milhões, mais a pendência com a Receita Federal, estimada em R$ 500 milhões, o antigo império do luxo teve seu plano de recuperação judicial aprovado pela Justiça em 2011, que previa a venda da marca.
O único interessado foi a empresa Leap Investments, que adquiriu a marca pelo valor simbólico de R$ 1.000 e se comprometeu a investir R$ 65 milhões na empresa. A venda não incluiu a pendência com a Receita.
Quatro anos após a aquisição, a Leap foi denunciada pelo Ministério Público Federal (MPF) por sete crimes contra o sistema financeiro, operações fraudulentas no mercado de capitais, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e organização criminosa e desobediência a ordem judicial.
A sede da mesma era localizada nas Ilhas Bermudas. Segundo a acusação, os empresários causaram prejuízos de mais de R$ 2,5 bilhões ao mercado mobiliário e a investidores com operações fraudulentas no lançamento de ativos.
Em fevereiro deste ano, a fatia majoritária (52%) acabou sendo comprada por um grupo de investidores liderado pelo empresário baiano Crezo Suerdieck, que se especializou em adquirir empresas de diversos setores em dificuldade. Foi anunciado então um plano de expansão para a marca, baseado no modelo de franquias. Hoje, além da unidade sujeita ao despejo, a Daslu possui quatro lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com o grupo de Suerdieck.
A decisão é do juiz Rogério Sampaio, da 27ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo. A ação de despejo por falta de pagamento corre desde março. Estima-se que a dívida da loja –que no passado foi símbolo da elite paulistana– chegue a R$ 4 milhões.
No dia 12 de abril, o shopping chegou a fechar um acordo extrajudicial com a loja para que os pagamentos em atraso, que na época somavam cerca de R$ 2,5 milhões, fossem efetuados, evitando o despejo. O acordo, porém, foi descumprido.
A unidade da Daslu no shopping JK ocupava, no início do ano, 1.600 m². Durante a ação, ela foi reduzida para 300 m². O valor pago em aluguel não foi divulgado.
A Folha entrou em contato com a assessoria do JK Iguatemi, que afirmou não comentar nenhuma relação comercial com lojistas.
Em nota, a Daslu informou que o encerramento das atividades no shopping ocorre devido a irredutibilidade do mesmo nas negociações e seu baixo fluxo de clientes. A loja ainda informou que apresentará uma nova loja na capital paulista.
HISTÓRIA
A loja de luxo —que no passado foi considerada a mais tradicional de São Paulo– foi fundada há 59 anos pelas sócias Lucia Piva de Albuquerque e Lourdes Aranha.
Até o começo dos anos 80, ela comercializava apenas roupas e acessórios nacionais. Após a morte de Lucia, sua filha Luciana Tranchesi assumiu o negócio e propôs a expansão da empresa.
Com a nova direção, a loja virou grife própria e, a partir dos anos 90, começou a trabalhar com marcas de luxo importadas, após liberação desse tipo de produto pelo presidente Fernando Collor de Mello. Tranchesi foi para Europa e voltou com malas repletas de bolsas e sapatos famosos que caíram no gosto dos endinheirados paulistanos.
Em seu ápice da fama, a Daslu era conhecida como "templo de luxo" e ocupava uma área de mais de 15 mil m² em um prédio estilo neoclássico com colunas gregas na Vila Olímpia, ao lado de onde seria erguido o shopping JK Iguatemi, na zona oeste de São Paulo.
Em 2005, antes de ver seu império derrubado por uma série de escândalos, a loja de Tranchesi movimentava cerca de R$ 400 milhões em vendas ao ano, segundo especialistas ouvidos pela Folha, e empregava cerca de mil pessoas.
Entre elas, havia as "dasluzetes", vendedoras das lojas —muitas vezes vindas de famílias ricas— que recebiam até R$ 15 mil mensais, incluindo as comissões de roupas e acessórios cujos valores chegavam a ultrapassar os cinco dígitos.
Entre 75% e 80% das pessoas que iam à loja saíam pelo menos com uma sacola em mãos. Em um shopping comum, essa taxa varia entre 15% e 30%.
OPERAÇÃO NARCISO
O início da queda do império começou há 11 anos, no dia 13 de julho de 2005. Uma megaoperação da Polícia Federal, em parceria com a Receita levou à detenção de Tranchesi e seus sócios, todos suspeitos de importação irregular por meio de crimes de descaminho e sonegação fiscal. O esquema utilizaria empresas de fachada para subfaturar importações com o objetivo de sonegar impostos.
Nele, a Daslu era responsável por negociar a compra das mercadorias de luxo no exterior e encaminhá-las à importadora que falsificava documentos para subfaturar as mercadorias, pagando assim menores impostos.
Durante o processo, a defesa de Tranchesi afirmou que ela não era responsável pelas questões financeiras e administrativas da loja, e portanto desconhecia a fraude.
Em 2009, Tranchesi foi condenada pela juíza Maria Isabel de Praro, da 2ª Vara da Justiça Federal, em Guarulhos, a cumprir 94,5 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, descaminho tentado e consumado e falsidade ideológica.
Roberto Fakhouri Júnior (da importadora Kinsberg), André Beukers (Kinsberg), Rodrigo Nardy Figueiredo (Todos os Santos) e Christian Polo (By (Brasil), além de Celso de Lima, irmão de Tranchesi, também foram condenados na ação.
À época, Tranchesi enfrentava um câncer de pulmão e entrou com um recurso para recorrer da sentença. Ela chegou a ser presa no dia da condenação mas foi solta um dia depois. Tranchesi morreu em 2012 em decorrência do câncer. Ela respondia pelos processos em liberdade.
Com uma dívida próximo ao vencimento de R$ 80 milhões, mais a pendência com a Receita Federal, estimada em R$ 500 milhões, o antigo império do luxo teve seu plano de recuperação judicial aprovado pela Justiça em 2011, que previa a venda da marca.
O único interessado foi a empresa Leap Investments, que adquiriu a marca pelo valor simbólico de R$ 1.000 e se comprometeu a investir R$ 65 milhões na empresa. A venda não incluiu a pendência com a Receita.
Quatro anos após a aquisição, a Leap foi denunciada pelo Ministério Público Federal (MPF) por sete crimes contra o sistema financeiro, operações fraudulentas no mercado de capitais, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e organização criminosa e desobediência a ordem judicial.
A sede da mesma era localizada nas Ilhas Bermudas. Segundo a acusação, os empresários causaram prejuízos de mais de R$ 2,5 bilhões ao mercado mobiliário e a investidores com operações fraudulentas no lançamento de ativos.
Em fevereiro deste ano, a fatia majoritária (52%) acabou sendo comprada por um grupo de investidores liderado pelo empresário baiano Crezo Suerdieck, que se especializou em adquirir empresas de diversos setores em dificuldade. Foi anunciado então um plano de expansão para a marca, baseado no modelo de franquias. Hoje, além da unidade sujeita ao despejo, a Daslu possui quatro lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com o grupo de Suerdieck.
Fonte: Folha Online - 20/10/2016
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