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Aos 102, criador da Manah trabalha, dirige e é craque no computador
Publicado em 17/10/2016 , por ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
No último dia 19, ele completou 102 anos.
Acordou, leu jornais pela internet, respondeu a e-mails e checou estatísticas da fazenda.
Vestiu-se e tomou café no apartamento em que mora, sozinho, em um residencial para idosos no Alto de Pinheiros (zona oeste de SP).
A festa de aniversário foi num bufê infantil para acomodar seus 38 bisnetos (mais 20 netos, 6 filhos e 27 consortes). Dias depois voou para Mato Grosso e foi pescar dourados no rio Corumbá.
Pegou três de "um tamanhozinho bom", 5 kg, 7 kg. "Já cheguei a pescar mais de 30, mas pescaria é como roleta, nem sempre a isca cai perto do peixe", diz Fernando Penteado Cardoso, que fundou a fábrica de adubos Manah nos anos 1940, vendeu-a em 2000 para a multinacional Bunge e hoje administra os canaviais "e um pouco de gado" de sua propriedade.
O engenheiro agrônomo virou industrial por culpa da Segunda Guerra Mundial.
O bloqueio naval do Atlântico impedia a chegada de fertilizantes, e ele começou a misturar cinzas de café (ricas em potássio) e de torta de algodão (fonte de fósforo) para adubar as terras da família.
Vizinhos se interessaram. Ele arriscou e abriu em Descalvados, no interior paulista, a Adubos FC -"era de ′Fernando Cardoso′, mas os outros chamavam de Adubos Futebol Clube." Virou Manah.
ADUBANDO DÁ
Numa viagem de trem, surgiu a inspiração para o slogan que correu o país: "Com Manah, adubando dá".
"Foi de um conto do Monteiro Lobato. Perguntam ao caboclo: ′Se essa terra é tão boa, por que não dá nada?′. E ele, de cócoras, respondeu: ′Uai, plantando dá′."
A Manah chegou a ser a segunda maior empresa de adubos com Brasil, com 15 fábricas e 2.000 funcionários.
O negócio foi passado adiante, mas Cardoso não saiu da área.
Com o dinheiro da família, criou a Agrisus, que patrocina pesquisas em fertilidade de solo e hoje é independente.
Assina versões eletrônicas das revistas técnicas e confere cada nova edição on-line.
"Quando entro no computador, eu tenho o mundo, a família, a troca de ideias, as comunicações, as fotos dos bisnetos. Quando não estou lá, me sinto um pouco isolado. É difícil o diálogo, nem sempre há reciprocidade. A idade nos força à solidão, não há dúvida."
Mas medo de morrer ele não tem. "Só peço uma morte súbita. A vagarosa é muito penosa para si e para os outros. Já a morte súbita liquida logo o assunto."
Enquanto ela não vem, Cardoso não fica esperando.
Faz ginástica duas vezes por semana e divide todas as tardes o escritório com os filhos, em outro bairro da cidade.
Os finais de semana são para percorrer, de preferência a pé, a fazenda que comprou em Mogi Mirim (SP).
Da porteira para dentro, ele ainda dirige. Montar cavalo, abandonou há cinco anos para "evitar acidentes".
Suas únicas queixas de saúde são de audição e visão.
Enfraquecidas, não o deixam ler ou ouvir música sinfônica como gostaria.
A limitação auditiva também dificultou que ele acompanhasse os debates entre os candidatos à Presidência americana, Donald Trump e Hillary Clinton.
CACHAÇA
Política internacional é assunto que o interessa, principalmente os EUA ("a maior potência bélica do planeta"), a China e, agora, a Índia (que "está despertando, com 1 bilhão de pessoas").
Outros focos são família e agronomia. "É a minha cachaça. A vida toda lidei com isso."
Anima-se com o progresso tecnológico. "Chegar aos 100 anos com a cabeça boa é uma aventura, porque você acompanha a família, a sociedade. Veja as maravilhas da agronomia de hoje. Quando é que é que eu iria sonhar que a gente tiraria um gene de uma espécie e colocaria em outra... É fantástico!"
Seus planos para o futuro são "ver os netos crescerem e acompanhar o que está acontecendo na agricultura".
"Gosto muito de ler sobre o futuro, e há muito pouca produção. É preciso pensar para a frente. Como é que vai ser daqui a 30 anos? O Brasil precisará alimentar o mundo e a agricultura é uma coisa complexa, exige planejamento. Quem é que está estudando isso? Precisa estudar."
PAIXÃO E HOMENAGEM
Neste sábado (15), Cardoso será homenageado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, onde se formou há 80 anos.
Na tela de seu computador, mostra um rascunho do que pode ser o discurso. Inspirado por uma palestra de Steve Jobs -da qual ele tem uma cópia-, diz que é fundamental ter paixão pelo que se faz.
Cardoso deixa a bengala no quarto e acompanha repórter e fotógrafo até uma rampa. "Daqui eu volto. Se tivesse um patinete, descia."
Acordou, leu jornais pela internet, respondeu a e-mails e checou estatísticas da fazenda.
Vestiu-se e tomou café no apartamento em que mora, sozinho, em um residencial para idosos no Alto de Pinheiros (zona oeste de SP).
A festa de aniversário foi num bufê infantil para acomodar seus 38 bisnetos (mais 20 netos, 6 filhos e 27 consortes). Dias depois voou para Mato Grosso e foi pescar dourados no rio Corumbá.
Pegou três de "um tamanhozinho bom", 5 kg, 7 kg. "Já cheguei a pescar mais de 30, mas pescaria é como roleta, nem sempre a isca cai perto do peixe", diz Fernando Penteado Cardoso, que fundou a fábrica de adubos Manah nos anos 1940, vendeu-a em 2000 para a multinacional Bunge e hoje administra os canaviais "e um pouco de gado" de sua propriedade.
O engenheiro agrônomo virou industrial por culpa da Segunda Guerra Mundial.
O bloqueio naval do Atlântico impedia a chegada de fertilizantes, e ele começou a misturar cinzas de café (ricas em potássio) e de torta de algodão (fonte de fósforo) para adubar as terras da família.
Vizinhos se interessaram. Ele arriscou e abriu em Descalvados, no interior paulista, a Adubos FC -"era de ′Fernando Cardoso′, mas os outros chamavam de Adubos Futebol Clube." Virou Manah.
ADUBANDO DÁ
Numa viagem de trem, surgiu a inspiração para o slogan que correu o país: "Com Manah, adubando dá".
"Foi de um conto do Monteiro Lobato. Perguntam ao caboclo: ′Se essa terra é tão boa, por que não dá nada?′. E ele, de cócoras, respondeu: ′Uai, plantando dá′."
A Manah chegou a ser a segunda maior empresa de adubos com Brasil, com 15 fábricas e 2.000 funcionários.
O negócio foi passado adiante, mas Cardoso não saiu da área.
Com o dinheiro da família, criou a Agrisus, que patrocina pesquisas em fertilidade de solo e hoje é independente.
Assina versões eletrônicas das revistas técnicas e confere cada nova edição on-line.
"Quando entro no computador, eu tenho o mundo, a família, a troca de ideias, as comunicações, as fotos dos bisnetos. Quando não estou lá, me sinto um pouco isolado. É difícil o diálogo, nem sempre há reciprocidade. A idade nos força à solidão, não há dúvida."
Mas medo de morrer ele não tem. "Só peço uma morte súbita. A vagarosa é muito penosa para si e para os outros. Já a morte súbita liquida logo o assunto."
Enquanto ela não vem, Cardoso não fica esperando.
Faz ginástica duas vezes por semana e divide todas as tardes o escritório com os filhos, em outro bairro da cidade.
Os finais de semana são para percorrer, de preferência a pé, a fazenda que comprou em Mogi Mirim (SP).
Da porteira para dentro, ele ainda dirige. Montar cavalo, abandonou há cinco anos para "evitar acidentes".
Suas únicas queixas de saúde são de audição e visão.
Enfraquecidas, não o deixam ler ou ouvir música sinfônica como gostaria.
A limitação auditiva também dificultou que ele acompanhasse os debates entre os candidatos à Presidência americana, Donald Trump e Hillary Clinton.
CACHAÇA
Política internacional é assunto que o interessa, principalmente os EUA ("a maior potência bélica do planeta"), a China e, agora, a Índia (que "está despertando, com 1 bilhão de pessoas").
Outros focos são família e agronomia. "É a minha cachaça. A vida toda lidei com isso."
Anima-se com o progresso tecnológico. "Chegar aos 100 anos com a cabeça boa é uma aventura, porque você acompanha a família, a sociedade. Veja as maravilhas da agronomia de hoje. Quando é que é que eu iria sonhar que a gente tiraria um gene de uma espécie e colocaria em outra... É fantástico!"
Seus planos para o futuro são "ver os netos crescerem e acompanhar o que está acontecendo na agricultura".
"Gosto muito de ler sobre o futuro, e há muito pouca produção. É preciso pensar para a frente. Como é que vai ser daqui a 30 anos? O Brasil precisará alimentar o mundo e a agricultura é uma coisa complexa, exige planejamento. Quem é que está estudando isso? Precisa estudar."
PAIXÃO E HOMENAGEM
Neste sábado (15), Cardoso será homenageado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, onde se formou há 80 anos.
Na tela de seu computador, mostra um rascunho do que pode ser o discurso. Inspirado por uma palestra de Steve Jobs -da qual ele tem uma cópia-, diz que é fundamental ter paixão pelo que se faz.
Cardoso deixa a bengala no quarto e acompanha repórter e fotógrafo até uma rampa. "Daqui eu volto. Se tivesse um patinete, descia."
Fonte: Folha Online - 15/10/2016
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