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Educação financeira das crianças é tarefa só dos pais? Escolas provam que não
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Educação financeira das crianças é tarefa só dos pais? Escolas provam que não

Publicado em 25/05/2016 , por Mayara Moraes

Sucesso de projetos em colégios de SP mostra que compromisso e sustentabilidade se constroem desde cedo

Há três anos o Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo, incluiu a temática da educação financeira na sua grade curricular e vem ensinando seus alunos do ensino fundamental ao médio a lidar de maneira saudável com o dinheiro.

Durante a infância, as noções da educação financeira são trabalhadas de forma lúdica, por meio de excursões e brincadeiras em sala de aula. A simulação do ‘mercadinho’, que conta com caixa, produtos e dinheiro de verdade ensina as crianças a escolher, comprar e refletir sobre o valor do dinheiro. O passeio a um dos principais parques e espaços educativos da cidade não compreende apenas jogos, mas também discussões sobre quanto e como cada estudante gasta seu dinheiro em cada atividade.

Do quarto ao sexto ano, a brincadeira fica um pouco mais séria, com ensinamentos sobre conceitos, como juros e parcelamentos, e ideias de responsabilidade, desperdício e sustentabilidade. E do nono ano até a conclusão do ensino médio, os alunos já se tornam aptos a lidar com problemas envolvendo financiamentos, empréstimos, juros simples e juros compostos, e cálculos de descontos. A essa altura, os mercadinhos são substituídos por apostilas, exercícios e elaboradas apresentações.

Foi a coordenadora de matemática do colégio, Rita Laselva, quem teve a ideia de inserir a educação financeira na educação tradicional do Marista. A ideia não foi bem aceita apenas entre os professores, mas também entre os estudantes.

“A matemática financeira é uma parte da matemática que chama a atenção dos alunos. Eles são muito receptivos aos ensinamentos e levantam muitos questionamentos, especialmente em relação às maneiras como ele pode ser aplicado. É comum, por exemplo, eles trazerem para a sala de aula ideias e perguntas sobre investimentos levantadas durante diálogo com os pais, então, eles acabam se envolvendo bastante”, conta Laselva.

As maneiras de usar a mesada também é uma questão que ganha espaço em sala.

“A gente começa a ensinar que eles precisam poupar parte desse dinheiro, e eles passam a questionar se realmente precisam gastar toda a quantia que ganham dos pais. A gente também percebe mudanças das atitudes deles em relação ao dinheiro, quando, por exemplo, eles questionam o preço dos produtos da cantina.”

Mas não é preciso ser um adolescente para ter esse tipo de atitude. O estudante da Escola Estadual Luis Elias Atiê, Antônio Cassiano Ferreria, de apenas 7 anos, mostra no dia a dia que uma criança pode aplicar no dia a dia conceitos básicos de matemática financeira.

“Quando a gente vai ao supermercado, ele não coloca mais a mesma quantidade de coisas que ele costumava colocar. Eu limito o número de guloseimas que ele pode comprar a apenas uma. Depois das aulas, ele começou a comprar os preços das guloseimas. Se é muito cara, e ele vê que tem uma mais barata, ele compra a mais barata”, conta a fotógrafa e mãe do Antônio, Carla Cristina Lima da Silva.

“Ele sempre lembra que a gente precisa economizar. A gente já tinha esse hábito, mas depois do projeto de educação financeira da escola eu percebi que ele ficou mais consciente. Além de deixar de ser consumista e passar a avaliar o preço dos produtos antes de comprar, ele agora se preocupa mais em guardar dinheiro. Ele está empenhado em comprar um drone e fazer uma viagem para Nova Iorque, então guarda todas as moedinhas no cofrinho”, completa.

As crianças aprendem rápido e são multiplicadoras. Com todo esse movimento acontecendo na escola, não tem como os pais não se deixarem contaminar por todos esses ensinamentos. E se engana quem acha que eles se limitam a apoiar o projeto. Eles participam dele junto com os filhos, e assim acabam aprendendo noções de educação financeira que levam à reorganização financeira da família como um todo.

“Os pais também se envolvem e aprendem bastante. Eu já incentivava o hábito de guardar moedinhas no cofrinho, mas não era nada muito sério. O projeto veio trazer informação pra gente também, porque a gente acaba sempre pecando em alguma coisa. Embora eu seja ′PhD′ em economia, percebi que tenho dificuldade de me organizar e separar as despesas do trabalho e as despesas de casa. Não me endividava, mas nunca conseguia ver o resultado do meu trabalho, nunca sobrava dinheiro. Comecei a aprender a lidar com isso depois de ir às palestras e acompanhar o conteúdo aprendido pelo meu filho na escola.”

Além de participar de palestras, os pais dos alunos do primeiro ano da Escola Estadual Luis Elias Attie recebem um material desenvolvido especialmente para eles para que aprendam noções de educação financeira e ajudem os filhos a dar continuidade ao trabalho feito em sala de aula dentro de casa.

O projeto de educação financeira foi implementado na escola estadual há um ano entre as turmas do primeiro ano do ensino fundamental, mas têm feito tanto sucesso ente alunos e professores que os docentes decidiram dar continuidade aos trabalhos no segundo ano.

As turmas de primeiro ano trabalham com um material desenvolvido pelo Grupo DSOP de Educação Financeira, que inclui apostilas para estudantes e seus responsáveis, assim como uma plataforma online com games direcionados aos alunos e cursos voltados para os pais. A consultoria prepara os professores e sugere um cronograma de aulas com uma gama variada de atividades.

O projeto ‘Sonhar, planejar, alcançar’ é desenvolvido na escola do Jardim Esmeralda pela professora de sala em parceira com a professora de educação física e a professora de educação artística. Em 2015, o colégio fez a árvore dos sonhos coletivos. As crianças desenharam o contorno de suas mãos em folhas de sulfite e dentro desenharam os sonhos de cada um. Algumas revelaram que sonhavam em comprar um tênis ou uma bicicleta, outras um carro ou uma casa para a mãe, e houve ainda quem sonhasse em fazer faculdade e ser jogador de futebol.

“Durante essa atividade, as professoras puderam explicar que para conquistar o que cada uma almeja para o futuro é necessário planejamento, seja para comprar uma casa ou uma bicicleta. Depois disso, todos fizeram um cofrinho de garrafa pet na aula de educação artística para começar o guardar o dinheiro deles”, conta a diretora Tânia Márcia Camargo.

Na vendinha organizada pelo corpo docente, os alunos aprenderam que é possível comprar um produto similar ao desejado por um preço menor e economizar, enquanto que na atividade da mochila, coordenada pela professora de educação física, as crianças assimilaram quais objetos que elas carregam são realmente necessários. Será, por exemplo, que os estudantes precisam ter tantas canetas coloridas?

Ana Rosa Vilches, diretora pedagógica da DSOP, lembra como alunos de uma escola privada parceira se mobilizaram para conquistar uma mesa de ping pong.

“Foi proposto um acordo entre a diretoria e os alunos. Para ganharem o benefício, eles teriam que colocar em prática os conceitos aprendidos em sala. Com isso, os estudantes passaram a economizar como podiam, mantendo ventiladores desligados para não gastar energia, fechando as torneiras do banheiro para não gastar água e até mesmo mantendo a limpeza do pátio durante o intervalo para que não houvesse tantos gastos com a compra de produtos de limpeza”.

Educação financeira, explica Viches, implica a adoção de hábitos sadios e não apenas a compreensão de números e planilhas. E a mudança de hábitos implica a participação e a cooperação dos pais. Por que a família que come pizzas todos os sábados não tenta comprar os ingredientes para fazer eles próprios fazerem um sanduíche ou um lanche mais elaborado? Atividades como essa tornam a criança mais consciente em relação ao desperdício, e o dinheiro que ele economiza na compra dos produtos pode ser usada para realizar um sonho!

A exemplo da Carla, mãe do Antônio, é importante que os pais participem da educação financeira dos filhos. As crianças levam para a vida muito das questões abordadas em sala de aula e trabalhadas dentro de casa sobre a relação com o dinheiro e o valor das coisas. O papel dos pais e da escola é mostrar o caminho.

Fonte: Brasil Econômico - 24/05/2016

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