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Comida fresca encarece mais rápido e empobrece alimentação
Publicado em 05/04/2016 , por ANNA RANGEL
O desequilíbrio entre a inflação dos alimentos frescos (in natura) e o dos industrializados pode ter papel central na piora da dieta da maioria dos brasileiros. E, em parte, esse efeito é provocado pela melhora da alimentação de outra parcela da população.
A procura por uma dieta mais saudável fez saltar o preço de hortaliças e peixes, por exemplo -os produtos subiram 519% e 770%, respectivamente, desde 1994, após a estabilização da inflação com o Plano Real. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Enquanto alface (946%), contrafilé (710%) e batata-inglesa (846%) viraram campeões de alta de preço acumulada desde o Plano Real, alimentos processados ficaram relativamente mais baratos: subiram abaixo da inflação, de 425,86%.
Biscoitos, por exemplo, subiram 261%, e chocolates e bombons, 311%. Refrigerantes registraram aumentos levemente acima do índice inflacionário: 465%.
Ao mesmo tempo, o consumo per capita de alimentos processados disparou. De 80 quilos por pessoa por ano em 1990, passou a 110 quilos em 2013, o equivalente a comer 140 Big Macs a mais anualmente, de acordo com a pesquisa inglesa "The rising cost of a healthy diet" ("O custo crescente de uma dieta saudável", em português).
O estudo aponta relação entre a alta de preços dos alimentos "in natura", estabilização dos ultraprocessados e o aumento do sobrepeso, que, no Brasil mais que duplicou entre 1980 e 2013.
"Como o preço é muito importante na compra, isso é um determinante central para a epidemia de obesidade", afirma o nutricionista Rafael Claro, pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que contribuiu com a pesquisa do ODI (Overseas Development Institute).
"Muitos desses produtos têm ingredientes [sódio, açúcares] que os tornam altamente palatáveis", diz o britânico Steve Wiggins, responsável pelo estudo. "Você ingere muito mais do que deveria. Ninguém come 16 laranjas, mas toma sem problemas um litro de suco de caixinha".
AUMENTO
O economista-chefe do Icatu Vanguarda Rodrigo Melo também aponta que parte do aumento dos preços dos alimentos in natura se deve à aceleração da procura nos últimos anos, puxada por hábitos mais saudáveis.
Melo diz ainda que a alta do dólar é um dos vilões da inflação dos alimentos, sobretudo em 2015: "É o segmento que mais rapidamente repassa uma depreciação do câmbio", afirma.
"E você não deixa de comer na recessão", diz. A desvalorização do real no último ano fez com que o Brasil ficasse na contramão do preço global dos alimentos, que, segundo o Banco Mundial, teve retração de 14%.
Para a coordenadora de índices de preços do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Eulina Nunes dos Santos, chuva, frete e estradas ruins também fazem com que o brasileiro pague mais pelo que come.
ESTRATÉGIA
"O preço desses alimentos também é uma estratégia de marketing", afirma Claro. "Quando foi a última vez que você viu um anúncio de fruta ou de hortaliça?".
Wiggins defende mudanças na legislação. "Há espaço para um pouco de regulação, para influenciar as escolhas das pessoas".
O México e, mais recentemente, a Inglaterra, passaram a taxar refrigerantes. Sob críticas, a indústria de alimentos faz campanhas de "educação alimentar".
A Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação) citou iniciativas de redução de sódio nos processados e programas que incentivam a escolha de alimentos saudáveis.
PRATICIDADE
Na casa da farmacêutica Fabiana Costa, 36, é comum trocar o filé de frango por nuggets ou o bolinho de carne moída por hambúrguer congelado.
"Um quilo de carne de melhor qualidade custa caro, e temos uma vida bastante corrida. O congelado é prático e não precisamos perder muito tempo", afirma. "Sabemos que saudável não é, mas nosso bolso sofre para ter uma alimentação balanceada".
Se desde 1994 o patinho, um dos cortes favoritos para o hambúrguer caseiro, teve alta de 623%, a versão pronta subiu "apenas" 261%. Os valores dos alimentos frescos assustam a farmacêutica quando vai às compras. Para fugir dos preços altos, fica de olho em promoções.
O nutricionista da UFMG Rafael Claro aponta que, além da praticidade, o sabor também influencia a decisão de compra. "A lógica é simples: compre o meu, que é muito mais fácil de fazer, vai sobrar mais tempo e é muito gostoso".
TIPOS DE ALIMENTOS
"In natura"
São os ingredientes que não passam por nenhum tipo de processamento da indústria alimentícia e são consumidos em seu estado natural.
Frutas, legumes, hortaliças, ovos, leite, cereais e carnes estão nesta categoria e que devem representar a maior parte de uma dieta balanceada
Processados
Alimentos produzidos a partir de alguma matéria-prima e que passam por preparação industrial, como pães, queijos, farinhas, massas, óleos e azeites, frutas em calda ou legumes em conserva. No entanto, nesta categoria os produtos não podem sofrer adição de sódio, conservantes, flavorizantes e saborizadores em excesso
Ultraprocessados
Embutidos, pratos prontos, refrigerantes, biscoitos, macarrão instantâneo e salgadinhos são alguns exemplos de alimentos produzidos com matéria-prima que passa por muitas mudanças antes de chegar à mesa do consumidor.
Para conquistar o paladar, recebem adição de ingredientes pouco nutritivos, mas que agregam sabor ao prato pronto
A procura por uma dieta mais saudável fez saltar o preço de hortaliças e peixes, por exemplo -os produtos subiram 519% e 770%, respectivamente, desde 1994, após a estabilização da inflação com o Plano Real. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Enquanto alface (946%), contrafilé (710%) e batata-inglesa (846%) viraram campeões de alta de preço acumulada desde o Plano Real, alimentos processados ficaram relativamente mais baratos: subiram abaixo da inflação, de 425,86%.
Biscoitos, por exemplo, subiram 261%, e chocolates e bombons, 311%. Refrigerantes registraram aumentos levemente acima do índice inflacionário: 465%.
Ao mesmo tempo, o consumo per capita de alimentos processados disparou. De 80 quilos por pessoa por ano em 1990, passou a 110 quilos em 2013, o equivalente a comer 140 Big Macs a mais anualmente, de acordo com a pesquisa inglesa "The rising cost of a healthy diet" ("O custo crescente de uma dieta saudável", em português).
O estudo aponta relação entre a alta de preços dos alimentos "in natura", estabilização dos ultraprocessados e o aumento do sobrepeso, que, no Brasil mais que duplicou entre 1980 e 2013.
"Como o preço é muito importante na compra, isso é um determinante central para a epidemia de obesidade", afirma o nutricionista Rafael Claro, pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que contribuiu com a pesquisa do ODI (Overseas Development Institute).
"Muitos desses produtos têm ingredientes [sódio, açúcares] que os tornam altamente palatáveis", diz o britânico Steve Wiggins, responsável pelo estudo. "Você ingere muito mais do que deveria. Ninguém come 16 laranjas, mas toma sem problemas um litro de suco de caixinha".
AUMENTO
O economista-chefe do Icatu Vanguarda Rodrigo Melo também aponta que parte do aumento dos preços dos alimentos in natura se deve à aceleração da procura nos últimos anos, puxada por hábitos mais saudáveis.
Melo diz ainda que a alta do dólar é um dos vilões da inflação dos alimentos, sobretudo em 2015: "É o segmento que mais rapidamente repassa uma depreciação do câmbio", afirma.
"E você não deixa de comer na recessão", diz. A desvalorização do real no último ano fez com que o Brasil ficasse na contramão do preço global dos alimentos, que, segundo o Banco Mundial, teve retração de 14%.
Para a coordenadora de índices de preços do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Eulina Nunes dos Santos, chuva, frete e estradas ruins também fazem com que o brasileiro pague mais pelo que come.
ESTRATÉGIA
"O preço desses alimentos também é uma estratégia de marketing", afirma Claro. "Quando foi a última vez que você viu um anúncio de fruta ou de hortaliça?".
Wiggins defende mudanças na legislação. "Há espaço para um pouco de regulação, para influenciar as escolhas das pessoas".
O México e, mais recentemente, a Inglaterra, passaram a taxar refrigerantes. Sob críticas, a indústria de alimentos faz campanhas de "educação alimentar".
A Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação) citou iniciativas de redução de sódio nos processados e programas que incentivam a escolha de alimentos saudáveis.
PRATICIDADE
Na casa da farmacêutica Fabiana Costa, 36, é comum trocar o filé de frango por nuggets ou o bolinho de carne moída por hambúrguer congelado.
"Um quilo de carne de melhor qualidade custa caro, e temos uma vida bastante corrida. O congelado é prático e não precisamos perder muito tempo", afirma. "Sabemos que saudável não é, mas nosso bolso sofre para ter uma alimentação balanceada".
Se desde 1994 o patinho, um dos cortes favoritos para o hambúrguer caseiro, teve alta de 623%, a versão pronta subiu "apenas" 261%. Os valores dos alimentos frescos assustam a farmacêutica quando vai às compras. Para fugir dos preços altos, fica de olho em promoções.
O nutricionista da UFMG Rafael Claro aponta que, além da praticidade, o sabor também influencia a decisão de compra. "A lógica é simples: compre o meu, que é muito mais fácil de fazer, vai sobrar mais tempo e é muito gostoso".
TIPOS DE ALIMENTOS
"In natura"
São os ingredientes que não passam por nenhum tipo de processamento da indústria alimentícia e são consumidos em seu estado natural.
Frutas, legumes, hortaliças, ovos, leite, cereais e carnes estão nesta categoria e que devem representar a maior parte de uma dieta balanceada
Processados
Alimentos produzidos a partir de alguma matéria-prima e que passam por preparação industrial, como pães, queijos, farinhas, massas, óleos e azeites, frutas em calda ou legumes em conserva. No entanto, nesta categoria os produtos não podem sofrer adição de sódio, conservantes, flavorizantes e saborizadores em excesso
Ultraprocessados
Embutidos, pratos prontos, refrigerantes, biscoitos, macarrão instantâneo e salgadinhos são alguns exemplos de alimentos produzidos com matéria-prima que passa por muitas mudanças antes de chegar à mesa do consumidor.
Para conquistar o paladar, recebem adição de ingredientes pouco nutritivos, mas que agregam sabor ao prato pronto
Fonte: Folha Online - 04/04/2016
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