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Endividado? Inadimplentes devem organizar o orçamento e fugir de novas dívidas
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Endividado? Inadimplentes devem organizar o orçamento e fugir de novas dívidas

Publicado em 30/03/2016

Juros altos, aumento do desemprego e do número de inadimplentes. Neste cenário, segundo levantamento do Serasa Experian, cerca de 59 milhões de brasileiros não estão conseguindo honrar seus compromissos financeiros. Na Bahia, o número de dívidas em atraso cresceu 9,21% em janeiro, se comparado com o mesmo mês de 2015. Diante de uma realidade tão apertada, guardar dinheiro para investir parece distante, para não dizer quase impossível.

Segundo Antônio Carvalho, professor de Finanças e Economia da Unijorge, o primeiro passo é aceitar que o problema existe. “É preciso reconhecer que se está endividado e buscar a reorganização do orçamento”, ensina. Para isso, a pessoa deve fazer um raio-x de todos os gastos, começando a anotar todas as despesas durante um mês. 

Colocar no papel é de extrema importância, porque o endividamento acontece muito porque não temos um registro dos gastos. “A gente tenta fazer um registro mental do que consome. Na maioria das vezes, só lembramos dos gastos grandes, quando na verdade são as pequenas despesas que geralmente fazem com que você perca o controle”, afirma o especialista em Finanças, Rafael Seabra. 

Mentalidade
Apesar de ser organizado profissionalmente, a vida financeira do contador George Wander era um caos. “Eu não tinha a mentalidade de que estava endividado. Gastava tudo o que ganhava e ainda usava o cheque especial ou cartão de crédito para pagar as coisas que não conseguia. Nessa época, chegava a pegar outros empréstimos para cobrir os juros do cartão, por exemplo”, lembra o contador.

A experiência de morar em outro país fez Wander enxergar que não era normal viver naquela situação. Para transformar sua vida financeira, ele  realizou mudanças pequenas e graduais. “Comecei a calcular todas as minhas despesas mensais e multiplicar por 12 para saber o impacto anual. Se a minha tarifa bancária, por exemplo, custava R$ 18 por mês, eu avaliava o valor total no ano e tentava renegociar por R$ 5 ou R$ 6”. 

George, que chegou a ter uma dívida que era cinco vezes maior do que sua renda, foi analisando cada dívida separadamente. “Foi uma mudança de comportamento. Sempre que eu ia comprar algo, me perguntava se eu precisava daquilo, e mesmo que a resposta fosse sim, me perguntava novamente se tinha a condição de pagar”.

Quando viu a conta ficar no azul, o contador começou a investir em um fundo de ações, e foi aumentando e diversificando suas aplicações. “Quando eu vi que passei de um extremo para o outro, resolvi me tornar um educador financeiro para passar minha experiência para os outros. O endividamento é uma situação recuperável sim, e eu sou a prova disso”. 

Sua história é contada no livro “As Histórias de Como Aprendi a Lidar com Dinheiro", lançado na última semana, no qual ele discute temas como superendividamento, maus hábitos de consumo e prosperidade financeira.

Saindo do vermelho
Como Wander fez, depois de tomar conhecimento total da dívida, é preciso eleger prioridades e cortar gastos, evitando consumos supérfluos. Uma dica de Rafael Seabra é deixar o cartão de crédito em casa ou até se desfazer dele, para não correr o risco de criar novas dívidas. “A partir daí, é precisó reorganizar o passivo, identificando inicialmente as dívidas mais caras, ou seja, aquelas que tem maior taxa de juros”.  Através da renegociação, é possível reduzir o valor mensal do débito com o aumento do prazo, ou até obter desconto nos juros.

“O cliente deve buscar renegociar os débitos diretamente com o credor ou por meio de órgãos como o Procon, Defensoria Pública e Juizado de Defesa e Apoio ao Consumidor”, ensina o professor Antônio Carvalho. A consolidação das dívidas é outro caminho para começar a sair do vermelho. “Após negociar o saldo devedor, pode-se buscar um único empréstimo que tenha uma taxa de juros mais baixa do que a média. Assim, a pessoa consegue quitar as demais dívidas e ficar apenas com uma parcela que cabe no bolso, mantendo-se vigilante para não contrair novas dívidas”, aponta Seabra. Dessa forma, passa-se de inadimplente para uma pessoa que tem controle sobre as dívidas que tem. 

Próximo passo
O próximo passo é aproveitar o restante da receita, mesmo sendo um valor pequeno, para abater do saldo devedor ou começar um investimento. “Aplicar qualquer quantia faz com que a pessoa adquira bons hábitos financeiros. Para quem quer começar a investir, títulos do Tesouro Direto são uma ótima opção: são seguros, rendem mais do que a poupança e é possível começar com apenas R$ 30”, afirma Rafael Seabra.

Para investir, é preciso ter  CPF, conta corrente e ser vinculado a alguma instituição financeira (banco ou corretora). Segundo Seabra, algumas corretoras cobram uma manutenção mínima, de 0,3% ao ano. “Atualmente, a rentabilidade dos títulos varia entre 14% e 17% ao ano”, declara. 

O site do Tesouro Nacional reúne informações para quem quer investir. Também está disponível no portal  um guia sobre que tipo de  título é ideal para cada perfil de investidor, a depender do objetivo e do prazo de rendimento.



Consumidores não sabem o que é estar endividado
Mesmo parecendo óbvio, a  maioria dos brasileiros não sabe ao certo o que é estar endividado. Um levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostrou que 79% dos entrevistados têm uma noção errada sobre o que é estar endividado.

Para 46,7% dos consumidores entrevistados, estar endividado significa ter contas atrasadas. Outros 30,6% acreditam que é ter o nome registrado em entidades de proteção ao crédito. Apenas 20,2% dos consumidores entende o significado real do termo: uma pessoa endividada é aquela que possui parcelas a vencer de compras ou empréstimos.

“O risco de desconsiderar as compras parceladas como parte do endividamento é justamente exagerar no consumo de longo prazo, fazendo uma série de dívidas que em pouco tempo podem levar o consumidor ao desastre nas finanças pessoais e à consequente inadimplência”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.



 

Fonte: Portal do Consumidor - 29/03/2016

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