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Gás derivado de dejetos de animais começa a abastecer frotas no Brasil
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Gás derivado de dejetos de animais começa a abastecer frotas no Brasil

Publicado em 22/02/2016 , por JOANA CUNHA

Motoristas brasileiros podem ter em alguns anos a chance de escolher mais um tipo de combustível ao abastecer. Começa a aparecer no cardápio o biometano, combustível renovável feito da purificação do biogás, que pode ser extraído da degradação de materiais orgânicos como resíduos agrícolas, dejetos de animais e até lixo urbano.

Ainda usado com mais frequência no Brasil para geração de energia elétrica e térmica, o biogás agora fomenta negócios voltados ao abastecimento de frotas veiculares para a substituição do diesel. Pode ser usado em qualquer automóvel adaptado para ser movido a gás, como o GNV convencional.

Embora também seja menos poluente que o diesel, o GNV convencional, mais conhecido atualmente, não tem origem renovável.

Empresários do setor do biogás começam a abrir postos para abastecer frotas particulares com biometano. Pelo menos três empreendimentos já estão em operação.

Segundo a ANP (agência nacional do petróleo), um posto só precisa ter autorização para comercializar GNV comum para automaticamente também poder abastecer com o biometano. Há 1.693 postos autorizados a vender GNV no país.

A fundação Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu, tem hoje um projeto desenvolvido pelo CIBiogás (Centro Internacional de Biogás) que abastece mais de 40 veículos da Itaipu Binacional.

Até o fim do ano, a meta é mais que dobrar a capacidade. O posto também atende veículos leves de pessoas físicas cadastradas com seu biometano produzido em uma granja com mais de 80 mil aves no município vizinho de Santa Helena.

"O biometano usado na mobilidade reduz a dependência dos combustíveis fósseis, os custos de importação desses combustíveis, a poluição e promove o saneamento rural, reduzindo a carga dos dejetos de animais", diz
Marcelo Alves de Sousa, gerente de relações institucionais do CIBiogás.

A estimativa de Sousa é que em quatro anos o gás será vendido em postos no interior do país, sem demandar infraestrutura específica e construção de gasodutos, pois pode ser comprimido e transportado em cilindros.

MOVIDO A LIXO

O primeiro caminhão de coleta de lixo convertido para operar com biometano começou a rodar neste mês no Rio de Janeiro. O combustível é produzido na usina do Aterro Sanitário Dois Arcos, em São Pedro da Aldeia, que recebe 700 toneladas de resíduos sólidos urbanos por dia.

"Queremos replicar para 40 caminhões em três anos. Nos Estados Unidos, esse movimento de conversão de frotas de lixo de diesel para gás é crescente. Tem um componente de custo relevante se você consegue fechar
o ciclo em que o caminhão vai ao aterro levar o lixo e se abastece ali", diz André Lima, diretor da GNR Dois Arcos.

Diferentemente do biometano gerado a partir de rejeitos agrícolas e pastoris, o gás derivado do lixo urbano ainda não pode abastecer veículos de terceiros, apenas a própria frota, devido à regulação vigente.

O pioneiro disso tudo foi um projeto iniciado há cerca de três anos pela cooperativa de citricultores Ecocitrus e a empresa de alimentos Naturovos, com apoio da Sulgás (Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do
Sul). Além de dezenas de carros de suas frotas, pessoas físicas ligadas aos parceiros do projeto ou curiosos também podem abastecer seus veículos.

"Esse projeto ajudou a ANP a dar o marco zero do biometano", diz Albari Pedroso, diretor da Usina de Compostagem e Biogás Ecocitrus.

O movimento tem sido acompanhado por grandes empresas na cadeia. A partir de abril, a Scania, que também participa do projeto de Itaipu, passa a produzir o chassi do ônibus biometano/GNV na fábrica de São Bernardo. Os motores ainda serão importados da Suécia.

A montadora já fez oito demonstrações para governos e instituições privadas de um ônibus movido a gás no Brasil. Para este ano, diz que já tem mais dez cidades interessadas em conhecê-lo.

"Quebrar o paradigma do diesel não é fácil. Existem as opções do elétrico e do híbrido, mas ambos são mais caros que o gás. O projeto do biometano não requer subsídio nenhum", diz Silvio Munhoz, diretor de vendas de ônibus da Scania no Brasil.

O executivo afirma que o valor de um ônibus com motor a gás é cerca de 25% maior, porém, como oferece redução de aproximadamente 30% do custo por quilômetro rodado, o investimento adicional se paga em até três anos.

Em um teste realizado pela Scania no Rio Grande do Sul, o custo por quilômetro rodado do biometano ficou em R$ 0,89 enquanto o do diesel saiu por R$ 1,26.

Fabio Nicora, responsável pela área de inovação da Iveco, afirma que já tem frotas de grandes empresas clientes que rodam a biometano na Europa, mas que o movimento ainda é embrionário no Brasil.

Fonte: Folha Online - 20/02/2016

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