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Pense na venda antes de comprar
Publicado em 16/02/2016 , por Marcia Dessen
O artigo "O tiro saiu pela culatra", que relata o infortúnio de milhares de brasileiros que compraram ações da Petrobras com dinheiro do FGTS, deu o que falar.
Uma vizinha me abordou para dizer que se identificou com a história. Conformada, tem dinheiro lá até hoje e não pretende fazer nada a respeito. Uma amiga confessa que ficou maravilhada com tanto dinheiro e, confiante de que a galinha continuaria a botar ovos de ouro, deixou lá para render um pouco mais.
Um amigo diz que não vendeu porque não precisava. Queria guardar para o futuro, para a aposentadoria, como foi orientado. Alega ter recebido muito incentivo para comprar, mas ninguém avisou quando era para vender. Esse foi o gatilho para o texto de hoje.
A recomendação de comprar ações da Petrobras foi, de fato, ampla e generalizada. Falou-se muito em precaução por se tratar de um investimento em renda variável.
Duvido que poucos tenham lido o prospecto da operação, gigantesco e técnico, obrigatório em operações como essa.
A maioria saiu do 8 (FGTS) para o 80 (mercado de ações), sem nenhum preparo. A rentabilidade do FGTS era (ainda é) tão ruim, que qualquer coisa parecia melhor.
O que a política pública, a mídia e os consultores financeiros não fizeram foi alertar a população de que investir em ações, de qualquer empresa, é diferente de investir em renda fixa, na qual o dinheiro pode ficar "adormecido", recebendo juros por anos a fio, se estiver em uma instituição financeira sólida. Comparar com o FGTS?! Mais distante ainda.
Quando compramos ações nos tornamos sócios da empresa acreditando que ela vai ganhar dinheiro nos próximos anos e que o preço da ação vai se valorizar.
Entretanto, uma empresa que hoje está bem posicionada, gerando lucros, amanhã pode não estar. Petrobras não é o único —nem o último— caso de empresa que surpreende com uma trajetória desfavorável, muito distinta da percebida por analistas financeiros, capazes de avaliar somente fatos revelados, conhecidos, e supondo que a empresa terá gestão competente e ética.
Quantas empresas grandes, com histórico de muita lucratividade, deixaram o mercado? Tanto no mercado internacional quanto no Brasil, são muitos os casos de empresas que não existem mais. Muitas foram compradas, outras faliram. Daí a recomendação de diversificar, de não concentrarmos o dinheiro em uma única empresa. Ué... mas não foi exatamente isso o que o povo acabou fazendo?
Hora de vender? Ninguém, por mais qualificado que seja, é capaz de prever o futuro e afirmar que está na hora de vender. Então, como tomar a decisão de venda?
Que tal estabelecer um limite de ganho e outro de perda? Os dois parâmetros sinalizam, racionalmente, a hora de vender, esteja você ganhando ou perdendo.
Qual é a taxa de juros básica da economia? Quanto você gostaria de ganhar acima dessa taxa para correr o risco no mercado acionário? Qual a expectativa de valorização da ação em "n" meses? 40%?
Estabeleça, com base nesse raciocínio, a decisão de vender, realizando lucro, quando e se o investimento valorizar 40%. Esse será seu limite de ganho, sem se importar ou se arrepender da decisão, caso o preço da ação continue subindo. Primeiro coloque o lucro no bolso. Depois, repense se quer entrar no mercado acionário de novo.
E se um fato novo surgir, contrariando as expectativas, e o preço da ação cair? Antes de comprar pergunte a si mesmo quanto está disposto a perder se tudo der errado.
Suponha que 10% do capital investido seja seu limite de perda. Se e quando a perda atingir 10%, venda as ações. Se não tiver coragem, deixe ordem expressa que seu corretor executa a ordem para você.
Isso feito, analise o novo contexto e repense, friamente, a decisão de retomar ou não o investimento.
Na teoria tudo parece lógico e fácil, mas as evidências demonstram que, na prática, a teoria não se aplica. Os vieses comportamentais demonstram que agimos irracionalmente na hora de tomar decisões.
Programar a venda para realizar o lucro ou a perda é uma forma de colocar a emoção de lado e deixar a decisão lógica, tomada no momento da compra, imperar.
Uma vizinha me abordou para dizer que se identificou com a história. Conformada, tem dinheiro lá até hoje e não pretende fazer nada a respeito. Uma amiga confessa que ficou maravilhada com tanto dinheiro e, confiante de que a galinha continuaria a botar ovos de ouro, deixou lá para render um pouco mais.
Um amigo diz que não vendeu porque não precisava. Queria guardar para o futuro, para a aposentadoria, como foi orientado. Alega ter recebido muito incentivo para comprar, mas ninguém avisou quando era para vender. Esse foi o gatilho para o texto de hoje.
A recomendação de comprar ações da Petrobras foi, de fato, ampla e generalizada. Falou-se muito em precaução por se tratar de um investimento em renda variável.
Duvido que poucos tenham lido o prospecto da operação, gigantesco e técnico, obrigatório em operações como essa.
A maioria saiu do 8 (FGTS) para o 80 (mercado de ações), sem nenhum preparo. A rentabilidade do FGTS era (ainda é) tão ruim, que qualquer coisa parecia melhor.
O que a política pública, a mídia e os consultores financeiros não fizeram foi alertar a população de que investir em ações, de qualquer empresa, é diferente de investir em renda fixa, na qual o dinheiro pode ficar "adormecido", recebendo juros por anos a fio, se estiver em uma instituição financeira sólida. Comparar com o FGTS?! Mais distante ainda.
Quando compramos ações nos tornamos sócios da empresa acreditando que ela vai ganhar dinheiro nos próximos anos e que o preço da ação vai se valorizar.
Entretanto, uma empresa que hoje está bem posicionada, gerando lucros, amanhã pode não estar. Petrobras não é o único —nem o último— caso de empresa que surpreende com uma trajetória desfavorável, muito distinta da percebida por analistas financeiros, capazes de avaliar somente fatos revelados, conhecidos, e supondo que a empresa terá gestão competente e ética.
Quantas empresas grandes, com histórico de muita lucratividade, deixaram o mercado? Tanto no mercado internacional quanto no Brasil, são muitos os casos de empresas que não existem mais. Muitas foram compradas, outras faliram. Daí a recomendação de diversificar, de não concentrarmos o dinheiro em uma única empresa. Ué... mas não foi exatamente isso o que o povo acabou fazendo?
Hora de vender? Ninguém, por mais qualificado que seja, é capaz de prever o futuro e afirmar que está na hora de vender. Então, como tomar a decisão de venda?
Que tal estabelecer um limite de ganho e outro de perda? Os dois parâmetros sinalizam, racionalmente, a hora de vender, esteja você ganhando ou perdendo.
Qual é a taxa de juros básica da economia? Quanto você gostaria de ganhar acima dessa taxa para correr o risco no mercado acionário? Qual a expectativa de valorização da ação em "n" meses? 40%?
Estabeleça, com base nesse raciocínio, a decisão de vender, realizando lucro, quando e se o investimento valorizar 40%. Esse será seu limite de ganho, sem se importar ou se arrepender da decisão, caso o preço da ação continue subindo. Primeiro coloque o lucro no bolso. Depois, repense se quer entrar no mercado acionário de novo.
E se um fato novo surgir, contrariando as expectativas, e o preço da ação cair? Antes de comprar pergunte a si mesmo quanto está disposto a perder se tudo der errado.
Suponha que 10% do capital investido seja seu limite de perda. Se e quando a perda atingir 10%, venda as ações. Se não tiver coragem, deixe ordem expressa que seu corretor executa a ordem para você.
Isso feito, analise o novo contexto e repense, friamente, a decisão de retomar ou não o investimento.
Na teoria tudo parece lógico e fácil, mas as evidências demonstram que, na prática, a teoria não se aplica. Os vieses comportamentais demonstram que agimos irracionalmente na hora de tomar decisões.
Programar a venda para realizar o lucro ou a perda é uma forma de colocar a emoção de lado e deixar a decisão lógica, tomada no momento da compra, imperar.
Fonte: Folha Online - 15/02/2016
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