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7 motivos por que os bancos brasileiros continuam lucrando durante a crise
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7 motivos por que os bancos brasileiros continuam lucrando durante a crise

Publicado em 13/11/2015 , por ANDRÉ CABETTE FÁBIO

Apesar da perspectiva de retração próxima de 3% para este ano e da desaceleração do crédito, os balanços dos bancos brasileiros têm apontado lucro crescente.

O lucro líquido do Santander subiu de R$ 0,54 bilhão no terceiro trimestre de 2014 para R$ 1,27 bilhão no mesmo período deste ano.

Na mesma base de comparação, o lucro do Bradesco subiu de R$ 3,88 bilhões para R$ 4,12 bilhões. O do Itaú, a maior instituição financeira privada do Brasil, de R$ 5,4 bilhões para R$ 5,95 bilhões, uma alta de 10%.

E o Banco do Brasil, o maior do país, teve alta de 10,1% no lucro líquido, que passou de R$ 2,78 bilhões para R$ 3,062 bilhões.

Veja abaixo 7 motivos por que as instituições financeiras brasileiros sustentam altas taxas de lucro apesar da crise:

1) Juros altos

Um dos principais fatores que influencia no alto lucro dos bancos é a taxa básica de juros Selic, que teve no final de julho o sétimo aumento seguido da meta estabelecida pelo governo e chegou a 14,25% ao ano.

Por servir de referência para todas as demais taxas de juros da economia, a Selic influencia o ritmo da atividade econômica e tem sua meta aumentada pelo Banco Central quando a inflação está fora de controle. O objetivo é encarecer o custo de emprestar dinheiro e, dessa forma, diminuir os gastos em geral e a pressão sobre o preço dos produtos.

Os juros altos elevam os ganhos das aplicações financeiras do caixa dos próprios bancos (a chamada tesouraria) e ainda "engorda" as margens de ganho das instituições financeiras nos empréstimos, conhecidas como spread bancário.



2) Spread bancário


Como qualquer mercadoria, o dinheiro tem um preço. Da mesma forma que um vendedor de bananas paga um valor para comprá-las e ganha em cima do da revenda, o banco também fatura com a diferença entre o que paga para captar dinheiro e o que cobra para emprestá-lo.

Essa diferença é chamada de "spread bancário" e o preço inicial cobrado pelo dinheiro é em grande medida baseado na taxa de juros Selic. O Brasil é conhecido por ter um dos maiores "spreads" do mundo.



A diferença entre esse preço inicial a ser cobrado não é, no entanto, fixa. Se a taxa de juros sobe dois pontos percentuais, a tendência é que os juros cobrados lá na frente pelos bancos subam mais do que isso.

Isso ocorre porque os juros altos tendem a diminuir a atividade econômica, afetando emprego e renda e a capacidade do tomador de empréstimo de pagá-lo.

Para se proteger da tendência maior de calote, os bancos aumentam seu spread, ou seja, o ganho sobre cada empréstimo, e é isso o que tem acontecido recentemente.

Esse ganho não é completamente embolsado pelos bancos. Uma parte é gasta em despesas administrativas e em taxas.

3) Investimentos seguros


Outra forma de as instituições financeiras protegerem seus lucros é restringir a tomada de empréstimos e enrijecer o critério de seleção sobre onde aplicam o dinheiro dos correntistas, algo que vem ocorrendo desde 2013, segundo Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings. Ao tornar mais difícil obter dinheiro na praça, os bancos diminuem as chances de tomarem prejuízo.

Além disso, mais recursos tendem a ser aplicados em títulos públicos, que têm uma remuneração mais segura e, em muitos casos, garantem rendimentos maiores que a inflação, ou são turbinados pelo próprio aumento da taxa de juros em meio a problemas na economia.

4) Concentração

Outro fator importante no Brasil para os altos ganhos dos bancos é a concentração do mercado em poucas e grandes instituições, um processo que pode ser visto no nome de alguns desses bancos (Itaú Unibanco, Santander Banespa...).

Com a recente aquisição do HSBC pelo Bradesco, os quatro maiores bancos se aproximam de atingir o teto máximo de concentração do mercado de 75% estabelecido em 2012.

Segundo Santacreu, esse processo de concentração —que foi definido pelo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, como "darwiniano" é antigo e tem como um de seus pilares o corte de custos a partir do alto emprego de tecnologia.

Essa é uma marca do sistema bancário brasileiro que pode ser observada na profusão de caixas eletrônicos pelo país, o que diminui gastos, por exemplo, com pessoal. Por outro lado, essa tecnologia dificulta para bancos menores disputarem clientes com a mesma desenvoltura, ou novos concorrentes entrarem no mercado.

Os que estão no topo da cadeia alimentar financeira também têm melhores condições de oferecer produtos diversificados, o que diminui a probabilidade de os clientes mudarem de instituição. Isso já é, aliás, dificultado pela falta de portabilidade de muitas aplicações no mercado brasileiro.

5) Controle das despesas administrativas


O bem sucedido controle das despesas administrativas, que é facilitado pelo emprego de tecnologia para gastar menos com pessoal, por exemplo, pode ser visto nos balanços dos bancos.

As despesas administrativas do Banco Santander, por exemplo, somaram R$ 2,234 bilhões entre julho e setembro de 2015, queda de 4,4% sobre o mesmo trimestre do ano anterior.

6) Diversificação dos negócios


De acordo com o analista da Austin Ratings, os bancos são beneficiados no país pela falta de limites às suas áreas de atuação, uma particularidade brasileira.

Em muitos países, eles são impossibilitados de atuarem em mais do que uma região. Também são comuns limites para os campos em que podem atuar. Na Inglaterra, por exemplo, um banco não pode ser uma seguradora, restrição que não ocorre no Brasil.

A falta desse tipo de regra permite que o lucro dos bancos dependa menos da concessão de crédito, que tende a sofrer mais quando a economia desacelera. "É um elemento que inspira uma tendência a lucros contínuos", diz Santacreu.

7) Receita com tarifas e serviços

Um fator pontual para os lucros altos dos bancos é o aumento recente da receita com tarifas e serviços, referentes, por exemplo, a conta corrente ou cartões de crédito.

A receita do Santander somou R$ 2,919 bilhões no terceiro trimestre de 2015, avanço de 0,3% na comparação com o trimestre anterior

O Bradesco viu sua receita com tarifas e serviços evoluir 13,1% na comparação ano a ano, para R$ 6,38 bilhões no último trimestre.

Fonte: Folha Online - 12/11/2015

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