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′Classe C está mais criteriosa no consumo′, afirma especialista
Publicado em 19/11/2015 , por MARIANA BARBOSA
A crise financeira mexe com a vida da classe C, mas é exagero afirmar que o sonho do consumo acabou.
"É muito pouco tempo para dizer, como tem consultoria dizendo por aí, que o cara saiu de uma classe social e passou para a outra", diz André Torretta, publicitário e sócio da A Ponte Estratégia, consultoria especializada na nova classe média brasileira.
Em entrevista ao "Arena do Marketing" da "TV Folha", Torretta afirma que as mudanças que ocorreram com a ascensão da classe C são mais do que financeiras.
"O mercado pensa no dinheiro. Mas há um empoderamento que passa pela educação, pela digitalização."
Para o professor da ESPM, Fabio Mariano, especialista em comportamento do consumidor e que também participou da entrevista, se no passado a classe C se retraia com uma crise, agora ela "vai à luta, reavalia marcas e repensa diferentes formas de trazer novos esquemas de renda para dentro de casa".
EMPOBRECIMENTO
"É muito pouco tempo para dizer que a classe C empobreceu, que saiu de uma classe e foi para a outra. Do mesmo jeito que não foi de uma hora para outra que 30 milhões de pobres viraram ricos. Um processo de empobrecimento levará tempo."
"A gente não pode estabelecer como critério de empobrecimento simplesmente o consumo. Estão dizendo: "A classe C está empobrecendo, você vai perder cliente". Não, se a classe C empobrece, empobrece todo o mundo. A B vai empobrecer também e virar C. Por que o cara das classes AB não empobrecem e só o cara da classe C empobrece. Que maluquice é essa?"
CONSUMO CRITERIOSO
"A classe C não está ameaçada. Está mais racional sobre o consumo, mais criteriosa, avaliando as marcas com as quais têm mais afinidade. E escolhendo por essas marcas. Mudo o critério de compra, mas sigo comprando."
CRISE
"Boa parte dos jovens nunca passou por uma crise, por um processo de medo. É um movimento que está assustando. Mas antes, quando havia crise, a pessoa se retraia e se conformava. Hoje é diferente. Essa classe vai à luta, reavalia marcas, repensa formas de trazer novos esquemas de renda para dentro de casa."
EMPODERAMENTO
"A classe C viveu um empoderamento financeiro, de incremento de crédito. Mas houve também um empoderamento do indivíduo, por meio da educação, da internet."
"O modelo mental, de como a classe C pensava, mudou totalmente. Antes a garota pensava em trabalhar como diarista. Hoje ela quer ingressar na universidade, quer ter uma carreira. Antes não lhe era permitido sonhar. Essa sensação de empoderamento, de autoestima, continua. A crise não tira isso das pessoas."
AB x CD
"As classes AB é que estão cortando viagem para o exterior, mudando de colégio. Se você pergunta para a C como ela vai, ela te diz: "Amigo, estou rebolando como sempre". Quando a crise bate, o cara faz venda porta a porta, faz um artesanato. A mulher que tem um salão de beleza passa a vender esfiha e fazer leitura de tarô. A AB vê isso como decadência. Há um mito de que a classe C quer imitar a AB. Se fosse verdade, a classe C já teria aderido ao Chico Buarque, à música clássica."
BOOM ECONÔMICO
"Até dois anos atrás, estava muito fácil vender. Qualquer coisa que você colocasse na prateleira, vendia. Era muito confortável para as marcas. Agora não mais. Tenho que correr atrás. Há dois anos, não importava se meu cliente estava na Rocinha. Agora tenho de subir a Rocinha porque a grana está na Rocinha. Ainda está e sempre estará, assim como está no México, na Índia, mesmo com crise. Com 170 milhões de pessoas [na classe C,D), se cada um me der R$ 1, eu fico rico. Você tem que vender para a massa."
FALAR COM TODO O MUNDO
"A estratificação social na comunicação é invenção brasileira, uma jabuticaba. Na Europa o cara fala com todo o mundo, não tem essa de quero falar com a classe A, não. Quero vender e me comunicar com o máximo de gente possível. As marcas são democráticas. Mas, aqui, o rolezinho não pode entrar no JK Iguatemi. Pode, sim. Vai lá quem tem grana, não importa se a grana saiu da Rocinha ou de Mercedes-Benz dos Jardins. Isso é capitalismo selvagem. Eu quero vender. O que vale é a lei da grana."
NOVA COMUNICAÇÃO
"Com a entrada de 40 milhões de pessoas que passaram a consumir, a indústria teve de se adaptar. Há 15 anos, você tinha uma C&A com uma Gisele Bündchen e agora tenho uma Anitta. Olha que mudança extraordinária. Você sai de um ícone de classe A para um ícone de classe C, que é aspiracional."
"A Coca-Cola também saiu de uma guerra às tubaínas em 1999 para uma modelagem de negócio que enfrentou a tubaína com o porta a porta, com o casco retornável. E mudou a sua comunicação, tirou os três loirinhos correndo na praia e hoje exibe a família brasileira."
RAIO-X - ANDRÉ TORRETA
Quem é: publicitário, escritor e empresário. Sócio de A Ponte Estratégia, consultoria em negócios e marketing para a nova classe média
Carreira: foi redator e diretor de criação em empresas de comunicação, como editoras Abril e Globo e agências Salles, Colucci e de Duda Mendonça
Livros: "Mergulho na Base da Pirâmide" e "E Agora, Vai? - Oportunidades e Tendências para Atuar no Brasil do Futuro"
"É muito pouco tempo para dizer, como tem consultoria dizendo por aí, que o cara saiu de uma classe social e passou para a outra", diz André Torretta, publicitário e sócio da A Ponte Estratégia, consultoria especializada na nova classe média brasileira.
Em entrevista ao "Arena do Marketing" da "TV Folha", Torretta afirma que as mudanças que ocorreram com a ascensão da classe C são mais do que financeiras.
"O mercado pensa no dinheiro. Mas há um empoderamento que passa pela educação, pela digitalização."
Para o professor da ESPM, Fabio Mariano, especialista em comportamento do consumidor e que também participou da entrevista, se no passado a classe C se retraia com uma crise, agora ela "vai à luta, reavalia marcas e repensa diferentes formas de trazer novos esquemas de renda para dentro de casa".
EMPOBRECIMENTO
"É muito pouco tempo para dizer que a classe C empobreceu, que saiu de uma classe e foi para a outra. Do mesmo jeito que não foi de uma hora para outra que 30 milhões de pobres viraram ricos. Um processo de empobrecimento levará tempo."
"A gente não pode estabelecer como critério de empobrecimento simplesmente o consumo. Estão dizendo: "A classe C está empobrecendo, você vai perder cliente". Não, se a classe C empobrece, empobrece todo o mundo. A B vai empobrecer também e virar C. Por que o cara das classes AB não empobrecem e só o cara da classe C empobrece. Que maluquice é essa?"
CONSUMO CRITERIOSO
"A classe C não está ameaçada. Está mais racional sobre o consumo, mais criteriosa, avaliando as marcas com as quais têm mais afinidade. E escolhendo por essas marcas. Mudo o critério de compra, mas sigo comprando."
CRISE
"Boa parte dos jovens nunca passou por uma crise, por um processo de medo. É um movimento que está assustando. Mas antes, quando havia crise, a pessoa se retraia e se conformava. Hoje é diferente. Essa classe vai à luta, reavalia marcas, repensa formas de trazer novos esquemas de renda para dentro de casa."
EMPODERAMENTO
"A classe C viveu um empoderamento financeiro, de incremento de crédito. Mas houve também um empoderamento do indivíduo, por meio da educação, da internet."
"O modelo mental, de como a classe C pensava, mudou totalmente. Antes a garota pensava em trabalhar como diarista. Hoje ela quer ingressar na universidade, quer ter uma carreira. Antes não lhe era permitido sonhar. Essa sensação de empoderamento, de autoestima, continua. A crise não tira isso das pessoas."
AB x CD
"As classes AB é que estão cortando viagem para o exterior, mudando de colégio. Se você pergunta para a C como ela vai, ela te diz: "Amigo, estou rebolando como sempre". Quando a crise bate, o cara faz venda porta a porta, faz um artesanato. A mulher que tem um salão de beleza passa a vender esfiha e fazer leitura de tarô. A AB vê isso como decadência. Há um mito de que a classe C quer imitar a AB. Se fosse verdade, a classe C já teria aderido ao Chico Buarque, à música clássica."
BOOM ECONÔMICO
"Até dois anos atrás, estava muito fácil vender. Qualquer coisa que você colocasse na prateleira, vendia. Era muito confortável para as marcas. Agora não mais. Tenho que correr atrás. Há dois anos, não importava se meu cliente estava na Rocinha. Agora tenho de subir a Rocinha porque a grana está na Rocinha. Ainda está e sempre estará, assim como está no México, na Índia, mesmo com crise. Com 170 milhões de pessoas [na classe C,D), se cada um me der R$ 1, eu fico rico. Você tem que vender para a massa."
FALAR COM TODO O MUNDO
"A estratificação social na comunicação é invenção brasileira, uma jabuticaba. Na Europa o cara fala com todo o mundo, não tem essa de quero falar com a classe A, não. Quero vender e me comunicar com o máximo de gente possível. As marcas são democráticas. Mas, aqui, o rolezinho não pode entrar no JK Iguatemi. Pode, sim. Vai lá quem tem grana, não importa se a grana saiu da Rocinha ou de Mercedes-Benz dos Jardins. Isso é capitalismo selvagem. Eu quero vender. O que vale é a lei da grana."
NOVA COMUNICAÇÃO
"Com a entrada de 40 milhões de pessoas que passaram a consumir, a indústria teve de se adaptar. Há 15 anos, você tinha uma C&A com uma Gisele Bündchen e agora tenho uma Anitta. Olha que mudança extraordinária. Você sai de um ícone de classe A para um ícone de classe C, que é aspiracional."
"A Coca-Cola também saiu de uma guerra às tubaínas em 1999 para uma modelagem de negócio que enfrentou a tubaína com o porta a porta, com o casco retornável. E mudou a sua comunicação, tirou os três loirinhos correndo na praia e hoje exibe a família brasileira."
RAIO-X - ANDRÉ TORRETA
Quem é: publicitário, escritor e empresário. Sócio de A Ponte Estratégia, consultoria em negócios e marketing para a nova classe média
Carreira: foi redator e diretor de criação em empresas de comunicação, como editoras Abril e Globo e agências Salles, Colucci e de Duda Mendonça
Livros: "Mergulho na Base da Pirâmide" e "E Agora, Vai? - Oportunidades e Tendências para Atuar no Brasil do Futuro"
Fonte: Folha Online - 18/11/2015
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